Denúncia
foi feita pelo juiz titular da Vara de Execuções Penais do Estado, Henrique
Baltazar, após telefonema de um preso do Pavilhão 5.
Embora
o clima dentro de boa parte das penitenciárias do Rio Grande do Norte esteja se
acalmando desde o fim das rebeliões na quarta-feira passada, a situação pode
piorar a qualquer momento. Segundo
o juiz titular da Vara de Execuções Penais do Estado, Henrique Baltazar, os
detentos do Rogério Coutinho Madruga, mais conhecido como Pavilhão 5 de
Alcaçuz, em Nísia Floresta, afirmaram que irão continuar com o “quebra-quebra”.
“Eu
recebi um telefonema de um detento daquela unidade no sábado. Ele me disse que
os presos de lá continuarão quebrando a unidade. O problema é que alguém que
esteve lá negociando prometeu um monte de coisas para eles. Coisas que não
podem ser cumpridas”.
Ao
ser questionado quem fez essas promessas aos presos, Henrique não soube
precisar, mas detalhou um pouco da conversa. “Eu soube que uma comissão da OAB
(Ordem dos Advogados do Brasil) e de alguns agentes penitenciários conversou
com os presos de lá. Mas eu não soube o que prometeram. Segundo esse detento,
que também não disse quem fez as promessas, foram prometidas TVs dentro das
celas, além de cigarros. Mas judicialmente isso não é permitido”.
Logo
depois que recebeu o telefonema, Henrique disse que entrou em contato com
representantes do Governo, mas que eles, mais uma vez, não teriam levado a
informação a sério. “Desde o ano passado que eu informo para o Estado a
situação dos presídios. Que os presídios iriam ‘explodir’. Este ano entrei em
contato com o novo Governo e falei novamente. Nada foi feito. Tudo o que eu
alertei vem acontecendo”.
De
acordo com Ivo Freire, diretor do presídio Rogério Coutinho Madruga, a situação
na unidade está controlada e os detentos serão ouvidos sobre as reivindicações.
“Até a última sexta-feira a situação estava um pouco complicada. Porém, agora
nós conseguimos controlar a situação. Vamos nos reunir esta semana com os
detentos para ouvir as reivindicações deles. Vamos garantir os direitos dos
detentos, nada mais do que isso”.
Como
exemplo de que alertou os governantes sobre a possibilidade da onda de
rebeliões e ataques aos transportes coletivos, Henrique Baltazar lembrou os
depoimentos de presos durante a Operação Alcatraz, desencadeada em 2014 e que
identificou algumas facções criminosas que agiam dentro do sistema prisional do
RN. Em matéria exibida pelo Fantástico neste domingo (22), um detento afirma
que o crime organizado já estava se preparado para a onda de ataques, já que o
primeiro “protesto”, uma greve de fome, não havia surtido o efeito desejado.
Inclusive, ele cita que ônibus poderiam ser incendiados.
O
titular da Vara de Execuções Penais disse que todo o conteúdo do que vinha
sendo investigado, foi repassado para o Governo. Porém, o Estado teria sido
“amador” e não tomou nenhuma providência. “A Operação Alcatraz já vinha
acontecendo há mais de um ano antes de ser divulgada. Tudo o que descobrimos
foi passado para o Governo passado. Mas parece que o Governo ficou com receio
de fazer alguma coisa na época. Falamos que existiam facções criminosas nos
presídios, mas nada foi feito. Assim que o novo Governo assumiu, também falamos
sobre a situação. Se a PM tivesse entrado nos presídios antes, talvez teríamos
evitado o problema. Também não criaram nenhuma força tarefa para enfrentar o
que poderia acontecer. O Governo foi amador”.
A
secretária de segurança do Estado, Kalina Leite, também criticou a atuação da
gestão passada. “O sistema prisional só chegou nessa situação pela omissão do
passado. No momento da Operação Alcatraz, o Governo já deveria ter se mexido
para evitar a ação das organizações criminosas. Infelizmente, nada foi feito. O
mínimo que deveria ter sido feito era transferir os líderes dessas quadrilhas,
assim eles teriam mais dificuldades em organizar todas as rebeliões e ataques
que ocorreram”.
Obras
começaram
Nesta
segunda-feira (23) as obras na maior unidade prisional do Estado, Alcaçuz, em
Nísia Floresta, tiveram início. O primeiro local da unidade que será reformada
é o pavilhão quatro. “Essas reformas não são reformas como as outras.
Precisamos de vários estudos, inclusive de segurança, para garantir que nada
aconteça com as pessoas que irão trabalhar no local. O pavilhão quatro foi
esvaziado e então as obras começaram lá. Depois vamos fazer o mesmo com os
outros pavilhões”, explicou Jáder Torres, secretário de infraestrutura do
Estado, que adiantou que nesta tarde serão iniciadas as obras no CDP do
Potengi, na zona Norte e no Presídio Estadual de Parnamirim (PEP).
Questionado
se existe um prazo para o fim das obras, Jáder respondeu negativamente. “Esse
final de semana nós fizemos essa logística de segurança. Só hoje conseguimos
iniciar as obras. Como falei, não são obras comuns. Precisamos de logísticas
diferentes, por isso é complicado estimar um prazo para o fim das obras”.
Além
das reformas nas unidades afetadas pelas rebeliões, o Governo já trabalha no
sentido de aumentar a segurança dentro das unidades. Esta semana a secretária
Kalina Leite, que até esta segunda respondia interinamente pela Secretaria de
Justiça e Cidadania (Sejuc), se reunirá, juntamente com o governador Robinson
Faria, com representantes do Ministério da Justiça e da Secretaria Nacional de
Segurança para discutir a compra de equipamentos. para o sistema prisional do
RN.
Edílson
França é novo Secretário de Justiça e Cidadania do RN
Kalina
esteve na titularidade da Sejuc por cerca de uma semana, depois da saída de
Zaídem Heronildes, que pediu exoneração. O Governador Robinson Faria anunciou
nesta segunda-feira o nome do novo da pasta. Edilson Alves de França é
advogado, com especialização em Direito Social pela UFRN, mestrado em Direito
pela UFPB e capacitação em Direitos Humanos pela Organização das Nações Unidas.
Ele
já atuou como Subprocurador-Geral da República, com exercício na PGE perante o
Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça, além de representar
o MPE perante o Tribunal Superior Eleitoral; foi Procurador Regional eleitoral
por quatro mandatos; Procurador Regional da República; Procurador Regional dos
Direitos do Cidadão; magistrado com exercício nas comarcas de Marcelino Vieira,
Alexandria e São José de Campestre e presidente de diversas comissões
examinadoras de concursos públicos. Atualmente exerce a função de professor de
Direito Constitucional à Segurança Pública e à Defesa Social da Pós Graduação
em Direito da UFRN e é Presidente do Instituto de Pesquisas e Assistência às
Vítimas da Violência.
JH
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