Principal
nome da oposição, o presidente nacional do PSDB diz que Dilma Rousseff perdeu o
controle do governo e que o PT defende apenas os interesses do partido e não
dos brasileiros.
No
final da campanha eleitoral do ano passado, quando esteve perto de derrotar a
presidente Dilma Rousseff, o senador Aécio Neves se mostrava orgulhoso por ter
reencontrado multidões nas ruas, sensação que não tinha desde a mobilização das
Diretas Já, em 1984. No dia 15 de março, Aécio acompanhou o gigantesco protesto
contra Dilma da janela de seu apartamento no Rio, e surpreendeu-se mais uma vez
com a força popular.
“O
que aumenta o distanciamento entre a sociedade e a presidente é a sensação do
engodo”, afirma Aécio, referindo-se às medidas tomadas pelo governo que
contrariam o discurso de campanha de Dilma.
Presidente
nacional do PSDB e principal nome da oposição, o senador mineiro acompanha com
atenção os confrontos entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional. “A
presidente ainda não sabe, mas hoje quem governa o Brasil é o Renan Calheiros e
o Eduardo Cunha”, afirma Aécio, referindo-se aos presidentes do Senado e da
Câmara, respectivamente. Nesta entrevista, o parlamentar diz que ainda não há
elementos para o impeachment, mas é mordaz na avaliação do trabalho de Dilma:
“Este governo terminou antes de começar.”
ISTOÉ
– Multidões protestam contra o governo, as investigações da Lava
Jato trazem novas revelações todos os dias e o ministro da Educação, Cid Gomes,
foi demitido depois de dizer que mais de 300 parlamentares são achacadores. O
que está acontecendo com o Brasil?
AÉCIO
NEVES – Este governo terminou antes de começar. O Brasil hoje tem um
interventor na economia (o ministro da Fazenda, Joaquim Levy), de quem a presidente
Dilma é dependente. Ele cumpre uma agenda que não é aquela proposta pela
presidente da República durante a campanha. Do ponto de vista
político-administrativo, nós vivemos no parlamentarismo. A presidente não sabe
ainda, mas quem governa o Brasil hoje é Renan Calheiros, na presidência do
Senado, e Eduardo Cunha, na Câmara dos Deputados. E olha que esses são
personagens que vivem um momento delicado. Enquanto isso, os indicadores
econômicos se deterioram, as denúncias de corrupção cada vez chegam mais
próximas da cúpula do PT e dos beneficiários dessa grande organização
criminosa, como nomeia a Polícia Federal, que se instalou na Petrobras e
sabe-se lá onde mais.
ISTOÉ
– Qual é a saída para a crise?
AÉCIO
NEVES – O que aumenta o distanciamento entre a sociedade e a presidente é
a sensação de engodo. A mentira que conduziu a campanha da presidente Dilma,
agora mostrada em todas as suas cores à população, aumenta o sentimento de
indignação que já tinha razões objetivas para existir com a corrupção, o desacerto
na economia, o aumento nas contas de luz e nos combustíveis. Sempre que teve
que optar entre o Brasil e o PT, o partido ficou com o PT.
ISTOÉ
– O senhor tem exemplos disso?
AÉCIO
NEVES – Vou citar quatro exemplos. Foi assim na eleição de Tancredo
Neves para presidente, que pôs fim ao ciclo autoritário. O PT expulsou os
parlamentares que votaram em Tancredo. Depois, o PT se negou a apoiar a
Constituição de 1988 (o partido se recusou a participar da homologação coletiva
da Constituição). No governo de Itamar Franco, de conciliação nacional, o PT
afastou Luíza Erundina por ter aceitado ser ministra. Por último, no Plano
Real, o PT atrapalhou como pôde.
ISTOÉ
– O senhor defende o impeachment da presidente Dilma?
AÉCIO
NEVES – Essa não é a agenda do PSDB. O impeachment precisa de alguns
componentes que ainda não se colocaram. Mas não podemos tapar o sol com a
peneira. Essa não é uma palavra proibida. O impeachment é uma previsão
constitucional e setores da sociedade falam abertamente nisso. Não dá para
acreditar que o governo quer enfrentar a corrupção se aceita que o tesoureiro
do partido da presidente, investigado pelo Ministério Público, com indícios
graves de recebimento de propina, continue no cargo. O Brasil e o governo vivem
uma crise de credibilidade.
ISTOÉ
– Qual é o papel de Eduardo Cunha neste cenário de crise?
AÉCIO
NEVES – Eduardo inegavelmente assumiu uma liderança na Câmara dos
Deputados, expressa na suja eleição em primeiro turno. Mas eu o vejo, ainda,
apesar de todos esses percalços, como um líder do PMDB, um partido aliado do
governo. O PMDB participa de forma muito expressiva do governo. Nós temos de
fazer nosso papel e a oposição o tem feito de forma extremamente competente e vigorosa.
ISTOÉ
– Como se explica a demissão do ministro Cid Gomes?
AÉCIO
NEVES – Esse é um fato inédito e mostra, claramente, o descontrole do
governo. Depois do enfrentamento público, pessoal, com o presidente da Câmara
dos Deputados , o ministro obviamente perdeu as condições de ficar no governo.
O que fica disso é a sensação de que não há governo, que o descontrole é
absoluto. Mas houve outro fato extremamente grave nesta semana no governo.
ISTOÉ
– Qual?
AÉCIO
NEVES - O documento, vazado de dentro do Palácio do Planalto, que atesta
que o governo cometeu crime durante a eleição. Confirma que robôs financiados
pelo governo foram usados para fazer campanha para a presidente Dilma. É a
velha dificuldade do PT de separar o que é público, do que é partidário e do
que é privado. Mostra que os critérios de distribuição de verba pública levam
em conta, em grande parte, a vinculação ideológica e política. O documento é
atribuído ao ministro Thomas Traumann (da Secretaria de Comunicação Social).
Ele será convocado para vir ao Senado e à Câmara. Ao mesmo tempo, estamos
entrando com um ação pública contra o ministro e uma ação de improbidade
administrativa na procuradoria da República do Distrito Federal.
ISTOÉ
– Qual será a agenda do PSDB nos próximos meses?
AÉCIO NEVES
– Queremos avançar em alguns temas da reforma política no Congresso.
Posso antecipar algumas: fim da reeleição, com mandatos coincidentes de cinco
anos para todos os cargos majoritários; cláusula de barreira, para que os
partidos voltem a ter conexão com setores da sociedade e não sejam apenas
legendas a serviço de interesses menores. Não é razoável que nós tenhamos no
Congresso 28 partidos funcionando. Defendemos também o voto distrital misto
que, na visão do PSDB, parece ser o caminho mais adequado para aproximarmos um
pouco mais a sociedade dos seus representantes.
ISTOÉ
– Quer dizer que a agenda prioritária do PSDB será a reforma
política?
AÉCIO
NEVES - Claro que não. Temos também a agenda anticorrupção. Nesse aspecto,
o governo requenta propostas, apresenta projetos que tramitam no Congresso,
algumas até já em fase final de aprovação. Ontem (quarta-feira, 18),
apresentamos na Câmara dos Deputados uma proposta que cassa o registro dos
partidos políticos que, comprovadamente, tenham recebido dinheiro de corrupção
em seu caixa partidário ou nas campanhas eleitorais. Estou falando inclusive de
caixa 1 com dinheiro ilícito. Hoje existe essa possibilidade para partidos que
recebem dinheiro do exterior. Eu gostaria que o primeiro apoio a essa proposta fosse
do PT.
ISTOÉ
- O PT anunciou que vai pedir ao STF a abertura de uma investigação contra
o senhor, com base nas investigações da Lava Jato, sobre desvio de dinheiro de
Furnas. Qual é sua opinião sobre isso?
AÉCIO
NEVES - Abram todas as investigações. Ninguém no Brasil foi tão
investigado como eu, que sou adversário frontal do PT. Eu recebi um atestado de
idoneidade de todos os órgãos públicos. Na verdade, isso é uma ação de um
deputado estadual de Minas Gerais (Rogério Correia, do PT) que busca um pouco
de publicidade para a sua atuação.
ISTOÉ
- O senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), que pertence ao seu grupo
político, também está na lista de investigados. Qual é a dimensão desse
problema para o PSDB?
AÉCIO
NEVES - É uma grande injustiça. Eu tenho absoluta convicção que o senador
Anastasia será o primeiro inocentado. A investigação em relação a ele é a única
que não vem das delações premiadas. Tem como base o depoimento de um
ex-policial federal que disse ter entregue dinheiro para alguém em Minas Gerais
que se parecia com uma fotografia do Anastasia. Imagina, ele não era apenas um
candidato, já era governador de Minas Gerais. A história é tão sem pé nem
cabeça que não se sustenta. Já há uma afirmação do advogado de quem seria o
“mandante” desse dinheiro, de que jamais enviou dinheiro para o Anastasia.
ISTOÉ
- Alguns setores do PT dizem que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, é
“tucano”. O que o senhor acha da atual política econômica?
AÉCIO
NEVES – Joaquim Levy é um homem de bem. Agora, o ajuste fiscal
proposto por ele, que se sustenta no aumento da carga tributária e na supressão
de direitos trabalhistas, não seria o ajuste do PSDB. Na verdade, não se mexeu
até agora na questão estrutural. Não se discutiu, por exemplo, a
profissionalização das agências reguladoras, para que elas sejam realmente
instrumentos do Estado, estimuladoras do investimento privado. Tivemos uma
redução de 8% no investimento privado no último ano. Fevereiro foi o pior mês
em geração de empregos com carteira assinada dos últimos quinze anos. A
inflação já beira os 8%. Onde está o governo?
Fonte:
ISTOÉ
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