Orientação
do sindicato é recolher frota, caso haja algum incidente com rodoviários.
Um
dia após o terror instalado na cidade, com rebeliões e motins em presídios e
queima de ônibus, o clima entre os rodoviários – motoristas e cobradores – e a
população é de medo e tensão. Temendo mais ações dos bandidos, ontem (16), as
empresas de transporte público de Natal determinaram que os ônibus fossem
recolhidos às garagens por volta das 22h, deixando boa parte da população
desassistida. Diante disso, a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana autorizou
que os táxis circulassem como lotação. Nesta terça-feira (17), a situação,
apesar de nenhum incidente registrado, ainda é de tensão.
O
presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários (Sintro-RN), Nastagnam
Batista, informa que hoje pela manhã os primeiros ônibus só foram autorizados a
sair das garagens por volta das 5h40, quando o dia já estava claro. Ele disse
que não há nenhuma paralisação programada para o dia de hoje, mas afirmou que, caso
haja qualquer evento de criminalidade, os motoristas e cobradores estão
orientados a paralisar as atividades imediatamente, recolhendo os veículos às
garagens.
“Caso
haja algum sinistro, iremos recolher todos os ônibus. Não podemos colocar em
risco à vida dos nossos motoristas e cobradores, bem como a vida da população.
Se não acontecer nenhum evento criminoso, como torcemos que seja o dia, iremos
trabalhar normalmente. Mas a situação de ontem era de pânico e não tínhamos
outra alternativa que não fosse recolher os veículos. Hoje vamos manter a mesma
postura, mas o clima é de tensão”, afirma Nastagnam Batista.
Quem
transitou pela cidade de Natal na manhã de hoje teve a sensação de que a cidade
estava vazia. No comércio do Alecrim e Centro da cidade, poucas pessoas nas
ruas. Nos principais corredores de ônibus, poucos transportes. Nas Rocas, onde
há um terminal de transporte público de várias linhas das empresas Via Sul e
Santa Maria, vários ônibus estavam parados. Um despachante da empresa Santa
Maria informou que todos os ônibus estão circulando normalmente e que os ônibus
estavam parados por coincidir o horário de intervalo de várias linhas. Ele
disse que não há nenhuma orientação do Sindicato, tampouco da empresa, em
relação à paralisação dos ônibus durante o dia de hoje.
O
motorista da linha 52 (Pirangi/Rocas), Wendell de Almeida, conta que ontem
passou pela Avenida Hermes da Fonseca no momento em que o ônibus foi incendiado
e logo em seguida foi orientado a recolher o carro para a garagem, por volta
das 21h40. “Hoje vai ser um dia que não trabalharemos em paz, com muito
alvoroço. Temos que entregar nas mãos de Deus, porque só Ele quem pode nos
proteger”, afirma.
Wendell
de Almeida conta que nunca foi assaltado, mas ressalta que, infelizmente, esse dia
vai chegar. “Sabemos que o risco de assalto é muito grande na nossa profissão e
diante do que estamos vivendo, o medo é bem maior, porque agora é a nossa vida
que está em risco. Porque se eles começarem a queimar os ônibus sem deixar os
passageiros e motoristas descerem aí o terror aumenta”, teme o motorista.
A
dona de casa Maria José Albuquerque mora no bairro de Nossa Senhora da
Apresentação, na zona Norte de Natal, e precisou ir com a filha, Alice
Albuquerque, e a neta de dois meses, ao médico localizado na Ribeira. Ela conta
que só saiu de casa na manhã de hoje porque era necessário, mas temia que algo
pudesse acontecer. “Ficamos aterrorizados com o que aconteceu ontem. Nem
parecia Natal, parecia que o Rio de Janeiro ou coisa de cinema. Ficamos muito
assustados”, afirma.
A
estudante Alice Albuquerque disse que saiu de casa, mas ficou pedindo a Deus
para que o ônibus não fosse incendiado. “Não sabemos se vai voltar a acontecer
e se voltar, qual ônibus será atingido, por isso o nosso medo. Ontem o primeiro
ônibus que foi incendiado foi lá perto de casa e o clima de medo e terror é
maior ainda, porque vimos tudo acontecendo”, afirma a estudante.
A
costureira Maria Iraneide Confessor também mora na zona Norte, no bairro de
Pajuçara, e saiu de casa com medo na manhã de hoje. Ela conta que acompanhou
tudo pela internet e pela televisão e os boatos aumentaram, ainda mais, o clima
de insatisfação.
“Já
entramos nos ônibus com medo de sermos as próximas vítimas. Só sai hoje porque
realmente havia a necessidade, mas estamos passando por um momento de
calamidade. Já não basta pagarmos uma passagem alta, sem conforto, sem nada e
agora ainda colocamos em risco a nossa vida com essa situação”, afirma a
costureira Maria Iraneide.
A
aposentada Maria de Aparecida, de 74 anos, conta que nunca havia visto uma
situação tão crítica de insegurança como esta. “É uma situação de guerra, pois
se sairmos de casa estamos colocando em risco às nossas vidas. O medo toma de
conta da gente e não sabemos o que pode acontecer conosco quando saímos de casa.
Que Deus nos guarde de todo o mal que assolou a nossa cidade”.
JH
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