Investigadores
encontraram um extrato da conta bancária da qual o ex-ministro é beneficiário e
suspeitam que ela era usada para recebimento de propina no exterior.
Terceiro ministro do governo Michel Temer
demitido em pouco mais de um mês, o peemedebista Henrique Eduardo Alves é
chamado carinhosamente pelos amigos de "Henriquinho", num trocadilho
com a boa vida que leva. Ex-presidente da Câmara, ele caiu do Ministério do
Turismo depois de ser apontado como beneficiário de propinas repassadas pela
OAS e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, que somariam cerca de 2
milhões de reais. Um processo que corre em sigilo na Justiça Federal de
Brasília mostra que esses valores seriam capazes de bancar apenas uma parte,
uma pequena parte, das despesas de Henriquinho.
Em tramitação há doze anos, o processo traz
nomes e números de contas do ex-ministro no exterior, além de extratos
bancários que detalham seus gastos fora do país entre 1996 e 2004. O papelório
foi entregue às autoridades por Mônica Azambuja, ex-mulher do peemedebista, que
o acusou de manter 15 milhões de dólares (cerca de 50 milhões de reais) no
exterior. Nada declarado à Receita Federal. Diz a denúncia apresentada pelo
Ministério Público Federal: "O ora requerido jamais manifestou qualquer reserva
quanto a esses documentos, bastando-se em afirmar não possuir patrimônio de 15
milhões de dólares".
Só em 1996, Henriquinho gastou 1,1 milhão de
reais num cartão American Express vinculado a uma conta do banco suíço Union
Bancaire Privée. A conta era batizada de 245333HM, sendo as letras referências
ao casal Henrique e Mônica. A denúncia, a que VEJA teve acesso, compila
operações financeiras no exterior, como uma aplicação de 890 mil dólares, e até
um bilhete em que o ex-ministro pede ajuda a uma notória operadora do mercado
financeiro suíço para administrar seus investimentos: Maria Rodrigues, apontada
como a administradora das propinas pagas por contratos superfaturados
assinados, na gestão Paulo Maluf, pela prefeitura de São Paulo. Na quarta-feira
à noite, Temer conversou com Henrique Alves sobre as delações da Lava-Jato e as
tais contas no exterior. O presidente interino queria saber a extensão desses
casos e se eles poderiam abater algum outro integrante do governo. A
preocupação era compreensível. Entre os documentos à disposição da Justiça, há
um papel timbrado da Câmara no qual está anotado o valor de 420.000 e o nome
Geddel Vieira Lima, atual ministro da Secretaria de Governo.
"Observa-se também que às folhas 167 há
outra anotação referindo-se a 420.000,00 com a mesma caligrafia e em papel
timbrado da Câmara dos Deputados, fazendo referência ao nome de Geddel Vieira
Lima, deputado da Bahia pelo partido PMDB", diz a denúncia do MPF. Geddel
disse a VEJA que desconhece o manuscrito com a cifra em dólares e que nunca
tratou de dinheiro com Henrique Alves ou recebeu valores dele. Alves considera
"absurda" a denúncia da ex-mulher, mas não quis comentar
especificamente sobre a anotação com o nome de Geddel. Ele disse que as provas
que constam no processo por enriquecimento ilícito já foram consideradas
"ilícitas" e anuladas duas vezes em recursos de sua defesa. A ação
civil de improbidade administrativa, porém, ainda tramita na 16ª Vara Federal
de Brasília e espera um despacho do juiz. A reportagem não conseguiu contato
com os advogados do ex-ministro nesta sexta-feira. Na véspera, Alves e Geddel
conversaram pessoalmente. O primeiro pediu demissão. O segundo continua no
governo. Ao menos por enquanto.
Confira a cobertura completa sobre a demissão
de Henrique Eduardo Alves na edição de VEJA deste fim de semana.
Fonte: Veja
Nenhum comentário:
Postar um comentário