Segundo
Ministério Público, Governo investiu menos do que o mínimo exigido de 25% na
educação do RN.
A
ausência de denúncias de escândalos, que os, ainda, apoiadores da gestão da
governadora Rosalba Ciarlini, do DEM, argumentavam para defender o Governo, parece
começar a ser seriamente abalada neste último ano de mandato.
Na
manhã de ontem, o Ministério Público do RN ingressou com mais uma ação de
improbidade administrativa contra a chefe do Executivo Estadual, a terceira em
menos de um mês.
O
motivo, desta vez, foi a destinação inferior ao mínimo de 25% que devem ser,
obrigatoriamente, investidos na Educação.
Pela
prática, que configuraria improbidade administrativa, segundo o MP, o
procurador geral de Justiça, Rinaldo Reis, pede que a punição imposta a Rosalba
seja a suspensão dos direitos políticos pelo período de cinco anos, pagamento
de multa civil, em valor a ser arbitrado, e proibição de contratar com o poder
público ou receber benefícios. Ao secretário estadual de Planejamento e
Finanças, Obery Rodrigues, outro denunciado na matéria por essa prática, o MP
pede as mesmas sanções e mais a perda de função pública.
A
irregularidade, vale lembrar, foi apontada pelo deputado estadual Fernando
Mineiro, do PT, em agosto do ano passado. Em documento entregue ao procurador
Rinaldo Reis, o parlamentar mostrou dados que comprovariam que o Governo e a
Secretaria Estadual de Educação e Cultura (SEEC), não estavam aplicando o
mínimo de 25% da receita resultante de impostos e transferências na manutenção
e desenvolvimento do ensino. Um inquérito civil foi instaurado e, agora, a
denúncia foi apresentada à Justiça.
Para
o MP, com base em relatórios anuais das contas do Governo, alusivos aos
exercícios de 2011 e 2012, “ficou demonstrado, à luz das provas colhidas no
inquérito civil anexo, que a governadora e o secretário de Planejamento, mesmo
cientes da gravidade do caso, omitiram-se, intencionalmente, no dever de agir
para assegurar o percentual mínimo de 25%, recusando-se a adotar, ao longo de
três anos de mandato, medidas políticas, administrativas e orçamentárias para a
cessação do problema noticiado”.
Segundo
o procurador, na verdade, foi até mais do que isso: “restou cabalmente provado
que os requeridos manipulam dados financeiros para justificar a prestação de
contas dos recursos com a educação, através da inclusão indevida (maquiagem),
nas despesas de Manutenção e Desenvolvimento de Ensino (MDE), de gastos
inativos e pensionistas, arrolados em rubrica de Previdência Básica”.
A
“maquiagem”, segundo apontou o MP, foi de mais de R$ 230 milhões não investidos
na educação potiguar. No primeiro ano de governo Rosalba, o valor superou os
100 milhões. No segundo ano, foi de R$ 55 milhões e, no terceiro, de R$ 66
milhões. Enquanto isso, dados obtidos do Sistema Integrado para Administração
Financeira (SIAFI/RN), revelam que houve o incremento progressivo nos valores da
rubrica “previdência básica” vinculados à função “Educação” do Orçamento Fiscal
do Estado, demonstrando que o quadro apenas se agravou nos anos da gestão da
governadora Rosalba Ciarlini, mesmo após as sucessivas recomendações do TCE.
“É
importante afirmar que, desde o segundo ano da gestão dos requeridos, a
irregularidade chegou ao domínio da cúpula do Governo do Estado que, apesar de
ciente do fato, manteve-se maquiando a prestação de contas de recursos
constitucionalmente vinculados à educação, consoante depoimento da secretária
de Educação, Betânia Leite Ramalho, prestado no curso da instrução do inquérito
civil”, ressaltou Rinaldo Reis.
Investimento
em Educação é um dos menores do país, aponta MP
É
evidente que, a partir do momento em que investiu menos que o mínimo exigido em
educação, o Governo do Estado acabou destinando consideravelmente pouco para
esse setor, considerado prioridade para muitas gestões estaduais. Tanto que,
nacionalmente, o Rio Grande do Norte ficou entre os estados que menos investem.
E essa informações, inclusive, o Ministério Público fez questão de colocar na
denúncia encaminhada para a Justiça.
“A
gravidade das condutas do réus é tão maior quando contextualizada com os dados
do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), apurados em 2011, em
que o Estado aparece em 23ª lugar, à frente apenas de Alagoas e empatado com
Maranhão, Amapá e Sergipe (séries iniciais à 4 série), empatado com Paraíba e à
frente da Bahia, Sergipe e Alagoas (5ª a 8ª séries); empatado com Amapá e Maranhão
e à frente apenas de Pará e Alagoas (ensino médio regular). Na realidade, em
nenhuma das faixas de ensino utilizada como parâmetros pelo INEP, o Estado
alcançou a média nacional e, o que é pior, em relação ao ensino médio, não
experimentou nenhum acréscimo em relação à avaliação de 2009”, contou o
procurador geral de Justiça, Rinaldo Reis.
Em
outras palavras, isso significa que o Governo, a governadora e o secretário
Obery Rodrigues encontraram cenário muito grave em relação ao desempenho da
política educacional, o que exigiria deles esforço incomum no sentido de
melhorar, consideravelmente, a gestão e o financiamento dos serviços prestados
pelo Estado. Por isso, seria absolutamente censurável e punível juridicamente
“o comportamento de não cumprir a aplicação do mínimo constitucional para o
desenvolvimento da educação no RN, desviando considerável montante de recursos
para finalidades diversas”, conforme apontou o procurador.
É
importante lembrar que a denúncia, quando foi feita pelo deputado Fernando
Mineiro, em 2013, rendeu críticas da secretária Betânia Ramalho, que confirmou
a inclusão irregular, mas afirmou que era uma prática já registrada em gestões
anteriores. E, segundo o MP, ao prestar esclarecimentos junto a Procuradoria, a
gestora da educação deixou claro o papel da ora requerida (Rosalba) na
definição das deciões do Governo do Estado, notadamente em relação à manutenção
das despesas com inativos com recursos destinados à MDE.
“No
segundo ano de mandato detectou o problema do pagamento de grande número de
inativos, fez ciência à governadora sobre essa situação, bem como ao Tribunal
de Contas, que se reuniu com a governadora, com o secretário de Planejamento,
com o presidente do IPERN, propondo um plano de desoneração da folha; que a situação
financeira do governo não permitia essa desoneração e que a decisão é do
governo, que nesse nível de decisão prevalece a política da governadora Rosalba
e do secretário Obery”, conforme transcreveu o MP do depoimento da secretária.
O
problema é que, por mais que a situação financeira esteja difícil, o MP não vê
como aceitar tal “maquiagem”. “O pagamento de inativos não se qualifica em
nenhuma hipótese com despesa com manutenção e desenvolvimento de ensino, motivo
pelo qual jamais poderia ser computada para efeitos de cumprimento das
exigências constitucionais e legais atinentes às despesas com educação”,
ressaltou o procurador geral Rinaldo Reis.
MEMÓRIA
Essa
é a terceira denúncia por improbidade administrativa feita pelo MP contra
Rosalba Ciarlini. No final de fevereiro, as promotorias de Infância e Juventude
e a Procuradoria Geral encaminharam à Justiça denunciaram a governadora pela
“da situação caótica” em que se encontra a Fundação da Criança e do Adolescente
(Fundac). Na semana passada, nova denúncia: pelo não pagamento integral do
duodécimo aos poderes Judiciário e Legislativo e os órgãos auxiliares Tribunal
de Contas do Estado e o próprio MP. A ação pede, inclusive, a perda do mandato
da governadora pela irregularidade.
Ciro MarquesRepórter de Política/Jornal de Hoje
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