Dilma Rousseff ainda respondia pela Casa
Civil e usava óculos e cabelos mais compridos em maio de 2008, quando foi ao
Senado se defender e defender o governo Lula.
Estava diante dos senadores para negar
acusações de que um dossiê contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
havia sido ilicitamente preparado dentro do Palácio do Planalto. Na ocasião,
arrancou aplausos até mesmo de quem hoje está contra ela ao falar, em tom de
desabafo, das mentiras que contou sob tortura para proteger companheiros
durante a ditadura.
"Qualquer comparação entre ditadura e
democracia só pode partir de quem não dá valor à democracia brasileira. Eu
tinha 19 anos e fiquei três anos na cadeia. Fui barbaramente torturada. Qualquer
pessoa que ousa dizer a verdade para seus interrogadores compromete a vida de
seus iguais, entrega pessoas para serem mortas. Eu tenho orgulho de ter
mentido. Mentir na tortura não é fácil. (...) E isso faz parte da minha
biografia", disse, em resposta ao senador oposicionista José Agripino Maia
(DEM-RN), que quis saber se ela falaria a verdade naquele maio de 2008.
Oito anos depois, Dilma voltou ao Senado
novamente para se defender, ainda que numa situação diferente. Durante cerca de
13 horas, a ex-presidente respondeu perguntas dos senadores sobre as acusações
de ter manobrado as contas públicas para cobrir um déficit orçamentário - as
tais pedaladas que pesam contra ela e fundamentaram o processo de impeachment.
Nesta quarta-feira, dois dias após enfrentar
seus julgadores, a primeira mulher eleita e reeleita presidente do Brasil foi
afastada definitivamente do cargo. Votaram pelo impeachment de Dilma 61
senadores, enquanto outros 20 se posicionaram contra a cassação. Agora, o
presidente interino Michel Temer irá ocupar definitivamente o cargo.
Em votação separada, por 42 votos a 36 (ou
seja, menos dos dois terços que seriam necessários para tornar a ex-presidente
inelegível por oito anos), ficou decidido que Dilma manterá seus direitos
políticos.
'Gerentona'
Virou ministra de Minas e Energia e, depois
da avalanche que abalou o PT em 2005 com o escândalo do mesalão, foi alçada ao
cargo de chefe da Casa Civil. Ali, viu a fama de "gerentona" correr
pela Esplanada dos Ministérios.
Nessa época, também era conhecida por se
referir às pessoas como "querida(o)", "minha filha
(filho)", ou "santa(o)" - expressões que foram, aos poucos,
sendo usadas com menos frequência.
Virou a "Mãe do Programa de Aceleração
do Crescimento", o PAC e, assim, foi apresentada aos eleitores por Lula,
que tentava construir sua sucessão. Era considerada por muitos "um
poste", pois nunca havia disputado cargo eletivo. Mas era um poste com
alguma luminosidade: economista graduada, com história partidária e política.
Na Casa Civil, Dilma chegou a exibir na sua
biografia oficial no site do governo federal que tinha cursado mestrado e fazia
doutorado na Unicamp.
Em 2009, a universidade não reconheceu os
títulos, dizendo que ela foi aluna dos programas na Unicamp, mas não concluiu a
elaboração da tese nem a defendeu.
A então pré-candidata acabou admitindo o erro
no currículo e corrigindo a informação no site oficial da Casa Civil, que
passou a informar que Dilma havia se formado em economia pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul e foi aluna do mestrado e doutorado em Ciências
Econômicas pela Unicamp, "onde concluiu os respectivos créditos".
Outro episódio que Dilma nunca registrou em
sua biografia oficial foi a experiência como microempresária em Porto Alegre.
Em sociedade com o marido, a cunhada e um sobrinho, abriu uma loja para vender
bugigangas importadas do Panamá, principalmente bonecos da série animada
Cavaleiros do Zodíaco. Com o nome fantasia de Pão & Circo, o negócio ao
estilo "R$ 1,99" durou apenas um ano e cinco meses e fechou em 1996.
BBC Brasil
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