Maior açude público de usos múltiplos do
Brasil, o Castanhão, no Ceará, chegou esta semana ao volume mais baixo de toda
a sua história. Atualmente, o reservatório mantém 4,46% de toda a sua
capacidade de 6,7 bilhões de metros cúbicos (m³). Uma marca semelhante a essa
só havia sido atingida em 2004, quando era recém-inaugurado e estava pegando os
primeiros aportes de água.
Pelos cálculos da Companhia de Gestão dos
Recursos Hídricos do estado (Cogerh), essa quantidade de água deve ser
suficiente para manter os usos do açude, que já estão reduzidos, até por volta
de janeiro de 2018. Após essa data a situação será reavaliada considerando os
prognósticos do período chuvoso do Ceará, que começa em fevereiro e se estende
até maio. O volume total disponível atualmente é de 298,5 milhões de m³.
Desses, 75 milhões de m³ correspondem ao chamado volume morto.
O gigante cearense é um dos principais
responsáveis pelo abastecimento da Região Metropolitana de Fortaleza, onde vive
quase metade da população do estado. No entanto, hoje ele responde somente por
10% da água que chega às casas da capital. Cerca de 7 metros cúbicos por
segundo (m³/s) viajam por 250 quilômetros, via Eixão das Águas, para
complementar os outros 90%, que são oriundos de reservatórios localizados na
própria região. Ano passado, a lógica era contrária: o Castanhão contribuía com
70% da água consumida na Grande Fortaleza.
“O Castanhão é o mais emblemático dos açudes
do Ceará. Ele é o maior e teve aportes muito pequenos. Há seis anos que ele não
recebe quantidade suficiente de água”, relata o diretor de planejamento da
Cogerh, Ubirajara Patrício. Neste ano, quando o estado registrou precipitações
dentro da média histórica, o reservatório captou 121 milhões de m³, mas em 2016
o aporte foi de apenas 75 milhões de m³.
A queda do volume do Castanhão vem desde
2012, quando começou o longo ciclo de seca no Ceará que permanece até hoje.
Mesmo ficando dentro da média histórica, as precipitações da chamada quadra
chuvosa (entre fevereiro e maio) ocorreram de forma irregular e localizada. Com
isso, os maiores açudes do estado, Orós e Banabuiú, a exemplo do Castanhão, não
conseguiram se recuperar das perdas acumuladas.
Poucas chuvas e evaporação são dois dos
fatores climáticos mais sensíveis nos açudes do semiárido cearense. Por outro
lado, os usos da água também afetam essa equação. “Em tese, o consumo de água é
crescente. Há mais produção, mais áreas irrigadas, as cidades crescem. Buscamos
alternativas para fazer o balanço entre oferta e demanda”, explica Patrício.
Os perímetros irrigados públicos de
Jaguaribe-Apodi e de Tabuleiro de Russas, que usam as águas do Castanhão para
suas atividades, estão com restrição de pelo menos 70% de água, segundo a
Cogerh. Além disso, ainda conforme o órgão, não há nenhuma permissão para
irrigação usando a água do açude no percurso do Eixão das Águas. Os criadouros
de tilápia também foram drasticamente reduzidos. Com pouca água, há pouco
oxigênio, o que inviabiliza a criação.
Com essas restrições, as águas do Castanhão
atualmente abastecem oito cidades ao longo de um trecho de 100 quilômetros do
rio Jaguaribe, que foi perenizado pela obra do açude, além dos municípios que
ficam ao longo do Eixão das Águas e do antigo Canal do Trabalhador.
Alternativas
Ainda sem perspectiva concreta da quadra
invernosa de 2018, uma vez que o comportamento dos sistemas meteorológicos que
influenciam o regime de precipitações do Ceará só começa a ficar mais claro no
fim do ano, o governo do estado busca meios de produzir água de outras formas
além da captação pela chuva.
Na Grande Fortaleza, por exemplo, foram
feitas obras de perfuração de poços e de aproveitamento das águas de outros
rios, como o Maranguapinho. Além disso, a Companhia de Água e Esgoto do Ceará
(Cagece) estabelece metas de consumo para a população da região metropolitana
desde dezembro de 2015. O governo estima em cerca de R$ 1 bilhão os valores investidos
em obras de segurança hídrica e possui uma meta de perfurar 1,8 mil poços em
todo o estado.
Os cearenses também aguardam a finalização do
Eixo Norte do Projeto de Integração do Rio São Francisco, cuja obra foi
paralisada em setembro depois que a empresa responsável pela obra tornou-se
alvo da Operação Lava Jato e foi afastada. Após licitação, a nova ordem de
serviço foi assinada em junho deste ano e a perspectiva é de que as águas do
rio cheguem ao Ceará em dezembro.
Agência Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário