Parece que a presidente se deu conta da
gravidade da situação, acordou e foi à luta
A presidente Dilma Rousseff voltou a usar, ao
longo do dia de ontem, uma frase que havia dito logo após a eleição, quando o
PSDB apresentou ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) um pedido para recontar
votos. De acordo com um ministro, Dilma teria dito em conversa reservada: “Eu
não sou Getúlio, não sou Jango, não sou Collor. Não vou me suicidar, não faço
acordo, não renuncio”.
Parece que a presidente se deu conta da
gravidade da situação, acordou e foi à luta. Em entrevista forte à “Folha de
S.Paulo”, Dilma demonstrou disposição para a luta, com o argumento de que o
impeachment necessita de provas concretas e que não poderia acontecer apenas
por vontade política da oposição ou de uma ala do PMDB.
Na entrevista, ela disse que a oposição age
de uma forma “um tanto quanto golpista”. Na reunião com os líderes partidários,
Dilma falou claramente que, em sua avaliação, se tratava de uma tentativa de
golpe querer levar adiante o impeachment. Nos últimos dias, peemedebistas e
tucanos trataram abertamente em conversas reservadas e em discursos públicos em
Brasília sobre a possibilidade de a presidente não encerrar o mandato.
A presidente não tinha alternativa, estava
parecendo alheia à realidade. A entrevista é um marco nessa luta política. No
entanto, quem consegue impor a agenda de discussão sempre leva vantagem no
debate político.
Ao fazer a presidente da República dar uma
entrevista na qual ela precisa dizer que não vai cair, isso demonstra que a
oposição está em vantagem na luta política que está em curso. Deu certo a
estratégia oposicionista de pautar um debate ruim para o governo.
*
Já a estratégia de defesa do governo foi
traçada ontem em diversas reuniões no Palácio do Planalto. Houve um encontro
com os líderes e presidentes dos partidos aliados. Prevaleceu a avaliação de
que o governo terá de fazer articulações junto ao TSE (Tribunal Superior
Eleitoral) e ao TCU (Tribunal de Contas da União) para defender a presidente e
evitar decisões que poderiam fornecer argumento político e jurídico para um
impeachment.
O governo avalia que precisa enfrentar o TCU
antes do TSE. Ao mesmo tempo, deverá honrar os acordos feitos pelo vice-presidente
da República, Michel Temer, na articulação política, a fim de reunir mais apoio
no Congresso.
A articulação em relação ao TCU é mais
urgente porque haverá uma decisão nesse tribunal antes do TSE. Na visão dos
auxiliares da presidente, o processo no TSE preocuparia menos hoje do que o do
TCU. Daí a presidente ter chamado dois ministros para explicar as pedaladas
fiscais aos aliados.
Em relação ao TSE, o senador Aécio Neves,
presidente do PSDB, deu uma declaração no domingo dizendo que uma decisão contrária
ao governo atingiria Dilma e o vice. Nesse caso, uma nova eleição teria de ser
convocada. Essa declaração de Aécio levou o PMDB a tirar o pé do acelerador nas
conversas sobre impeachment.
Na avaliação do Palácio do Planalto, o TCU
seria uma frente de batalha mais arriscada, porque poderia seduzir o PMDB, já
que Temer seria preservado.
Apesar de enfraquecida politicamente, a
caneta presidencial ainda tem tinta. Um exemplo foi a medida provisória editada
ontem, bem aceita por empresários e sindicalistas. Em alguns casos em que o
governo aprove um acordo entre empresas e trabalhadores, seria permitida a
redução do salário e da jornada de trabalho em troca da manutenção do emprego.
É uma medida polêmica e de alcance pontual,
mas foi uma tentativa de dar uma boa notícia numa hora de crise.
Fonte: IG
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