Preocupado com os efeitos da Operação Lava
Jato sobre o governo, que já enfrenta grave crise política, o ex-presidente
Lula se reuniu ontem com a presidente Dilma Rousseff e
ministros, no Palácio da Alvorada, para montar a estratégia de reação. No
diagnóstico de Lula, o estrago foi grande com as buscas e apreensões realizadas
em casas de políticos da base aliada, como o senador Fernando Collo,
e o cenário previsto é de mais dificuldades.
"Preparem-se porque as coisas vão ficar
piores", afirmou o ex-presidente, segundo relatos obtidos pelo Estado. O
encontro começou por volta de meio-dia, com um almoço, e terminou às 16h30.
Lula estava furioso com a forma como a Polícia Federal vem agindo e disse a Dilma
que ela precisa sair logo dessa agenda negativa.
"Você não tem que ficar falando de Lava
Jato", esbravejou Lula, de acordo com dois participantes da reunião no
Alvorada. "Você tem que governar, ir para a rua, conversar com o povo,
divulgar os seus programas. Não pode ficar só nessa agenda de Lava Jato e
ajuste fiscal."
Antes de se reunir com Dilma, Lula esteve com
o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Pediu a ele que insista em divulgar as
medidas para a etapa seguinte ao ajuste porque, na sua avaliação, o governo
deve "vender" esperança. Para o ex-presidente, a aprovação de Dilma e
mesmo a dele desmoronaram muito mais por problemas na economia do que por
denúncias de corrupção na Petrobrás.
Lula disse a Levy que o governo ainda erra na
comunicação. "O ajuste fiscal não pode ser apresentado como um fim em si
mesmo", insistiu. "O que nós temos que mostrar para as pessoas é onde
queremos chegar."
A conversa entre os dois foi cordial. Tanto
que, no Alvorada, Lula afirmou que as divergências entre Levy e o ministro do
Planejamento, Nelson Barbosa, sobre a redução da meta fiscal precisam ser
contornadas. O ex-presidente cobrou unidade no governo e chegou a elogiar o
vice Michel Temer, que comanda o PMDB e é articulador político do Planalto.
Dilma concordou com o padrinho, mas não
escondeu a insatisfação com as últimas críticas feitas por ele. Afirmou, ainda,
nada poder fazer em relação às investigações da PF. Nos bastidores, políticos
dizem que os próximos alvos são os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Quebrando o gelo
Lula não conversava com Dilma havia quase um
mês, desde que criticou a estratégia do Planalto para sair da crise. Num
encontro com religiosos, o ex-presidente disse que ele e a sucessora estavam no
"volume morto".
O receio do governo é que o novo movimento da
PF provoque ainda mais tensão no relacionamento com a base, no momento em que
Dilma que sofre ameaças de impeachment. Há quem avalie, porém, que, se Cunha e
Renan forem denunciados, o discurso pró-saída de Dilma perde consistência no
Congresso.
Além de Lula, participaram da reunião no
Alvorada os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), Edinho Silva
(Comunicação Social), Jaques Wagner (Defesa), Miguel Rossetto
(Secretaria-Geral), o governador de Minas, Fernando Pimentel, e o presidente do
PT, Rui Falcão. Pimentel é alvo de operação da PF que apura arrecadação ilegal
de dinheiro em suas campanhas.
ESTADÃO
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