A
Igreja não pode julgar os gays por sua opção sexual e nem marginalizá-los. O
alerta é do papa Francisco que, quebrando um verdadeiro tabu, deixa claro que
estende sua mão a esse segmento da sociedade. “Se uma pessoa é gay e procura
Deus e tem boa vontade, quem sou eu pra julgá-lo”, declarou. “O catecismo da
Igreja explica isso muito bem. Diz que eles não devem ser marginalizados por
causa disso, mas devem ser integrados na sociedade”.
As
declarações foram dadas em uma entrevista concedida pelo papa aos jornalistas
que o acompanharam no avião, entre eles a reportagem do Estado. Na conversa, a
garantia do argentino de que o Vaticano tem como papa uma “pessoas normal”, um
“pecador” e que vive junto com os demais religiosos porque morar no Palácio
Apostólico o geraria problemas psicológicos.
30 minutos depois de o voo decolar do Rio, o papa deixou sua primeira classe e cumpriu uma promessa que havia feito no voo de ida de Roma ao Brasil: responderia perguntas dos jornalistas. Mas poucos imaginaram que a conversa duraria quase uma hora e meia.
Para o papa, o problema não é a existência do “lobby gay” dentro da Igreja, mas de qualquer lobby. “o problema não é ter essa tendência. Devemos ser como irmãos. O problema é o lobby dessas tendências de pessoas gananciosas, lobby político, mações e tantos outros lobbies. Esse é o principal problema”, disse.
Pela primeira vez, Francisco ainda deixa claro que, para ele, abusos sexuais contra menores por parte de religiosos não são apenas pecados, mas crimes que devem ser julgados.
Mas se a posição sobre os gays e sobre o abuso sexual pode representar uma mudança, Francisco deixa claro que não haverá uma nova opinião do Vaticano sobre a presença das mulheres na Igreja, sobre o aborto ou sobre o casamento homossexual.
O papa aproveitou a conversa para anunciar que vai exigir transparência e honestidade no Vaticano e garantiu que sua reforma vai continuar. “Esses escândalos fazem muito mal”, disse.
Antes de responder às perguntas, ele elogiou o “grande coração dos brasileiros”, disse que a viagem “fez bem para sua espiritualidade” e ainda disse que a organização do evento foi excelente. “Parecia um cronômetro”. Eis os principais trechos da entrevista:
30 minutos depois de o voo decolar do Rio, o papa deixou sua primeira classe e cumpriu uma promessa que havia feito no voo de ida de Roma ao Brasil: responderia perguntas dos jornalistas. Mas poucos imaginaram que a conversa duraria quase uma hora e meia.
Para o papa, o problema não é a existência do “lobby gay” dentro da Igreja, mas de qualquer lobby. “o problema não é ter essa tendência. Devemos ser como irmãos. O problema é o lobby dessas tendências de pessoas gananciosas, lobby político, mações e tantos outros lobbies. Esse é o principal problema”, disse.
Pela primeira vez, Francisco ainda deixa claro que, para ele, abusos sexuais contra menores por parte de religiosos não são apenas pecados, mas crimes que devem ser julgados.
Mas se a posição sobre os gays e sobre o abuso sexual pode representar uma mudança, Francisco deixa claro que não haverá uma nova opinião do Vaticano sobre a presença das mulheres na Igreja, sobre o aborto ou sobre o casamento homossexual.
O papa aproveitou a conversa para anunciar que vai exigir transparência e honestidade no Vaticano e garantiu que sua reforma vai continuar. “Esses escândalos fazem muito mal”, disse.
Antes de responder às perguntas, ele elogiou o “grande coração dos brasileiros”, disse que a viagem “fez bem para sua espiritualidade” e ainda disse que a organização do evento foi excelente. “Parecia um cronômetro”. Eis os principais trechos da entrevista:
P : Nestes quatro meses de
pontificado, o senhor criou várias comissões. Que tipo de reforma do Vaticano o
sr. tem em mente ? O sr. quer suprimir o Banco do Vaticano?
Papa Francisco – Os passos que eu fui
dando nestes quatro meses e meio vão em duas vertentes. O conteúdo do que quero
fazer vem da congregação dos cardeais. Me lembro que os cardeais pediam muitas
coisas para o novo papa, antes do conclave. Lembro.me que tinha muita
coisa. Por exemplo, a comissão de oito cardeais, a importância de que ter
uma consulta de alguém de fora, e não uma consulta apenas interna. Isso vai na
linha do amadurecimento da sinonalidade e do primado. Os vários episcopados do
mundo vão se expressando e muitas propostas foram feitas, como a reforma da
secretaria dos sínodos, para que a comissão sinodal tenha característica
consultativa, como o consistório cardinalício com temáticas específicas, como a
canonização. A vertente dos conteúdos vem dai. A segunda é a oportunidade. A
formação da primeira comissão não me custou mais de um mês. Já parte econômica,
eu pensava em tratar no ano que vem, porque não é a mais importante. Mas a
agenda mudou devido a circunstâncias que vocês conhecem que é domínio público.
O primeiro é o problema do Ior (Banco do Vaticano), como encaminhá-lo, como
reformá-lo, como sanear o que há de ser sanado. E essa foi então a primeira
comissão. Depois tivemos a comissão dos 15 cardeais que se ocupam dos assuntos
econômicos da Santa Sé. E por isso decidimos fazer uma comissão para toda a
economia da Santa Sé, uma única comissão de referência. Se notou que o problema
econômico estava fora da agenda. Mas estas coisas acontecem. Quando estamos no
governo, vamos por um lado, mas se chutam e fazem um golaço por outro lado,
temos que atacar. A vida é assim. Eu não sei como o Ior vai ficar. Alguns acham
melhor que seja um banco, outros sejam que deveria ser um fundo, uma
instituição de ajuda. Eu não sei. Eu confio no trabalho das pessoas que estão
trabalhando sobre isso. O presidente do Ior permanece, o tesoureiro também,
enquanto o diretor e o vice-diretor pediram demissão. Não sei como vai terminar
essa história. E isso é bom. Não somos máquinas. Temos que achar o melhor. Mas
o fato é que, seja o que for, tem que ser feita com transparência e
honestidade.
P : Uma fotografia do sr. deu a
volta ao mundo, quando o sr. desceu as escadas do helicóptero em Roma para
embarcar para o Brasil carregando sua mala preta. Reportagens levantaram
hipóteses também sobre o conteúdo da mala. Porque o sr. saiu carregando a
maleta preta e não um de seus colaboradores? E o sr. poderia dizer o que tinha
dentro?
Papa Francisco - Não tinha a
chave da bomba atômica. Eu sempre fiz isso, Quando viajo, levo minhas coisas. E
dentro o que tem? Um barbeador, um breviário (livro de liturgia), uma agenda,
tinha um livro para ler, sobre Santa Terezinha. Sou devoto de Santa Terezinha.
Eu sempre levei eu mesmo minha maleta. É normal. Nós temos que ser
normais. É um pouco estranho isso que você me diz que a foto deu a volta ao
mundo. Mas temos de nos habituar a sermos normais, à normalidade da vida.
P - Por que o senhor pede tanto
para que rezem pelo senhor ? Não é habitual ouvir de um papa que peça que
rezem por ele.
Papa Francisco - Sempre pedi
isso. Quanto era padre pedia, mas nem tanto e nem tão frequentemente. Comecei a
pedir mais frequentemente quando passei a ser bispo. Porque eu sinto que se o
senhor não ajuda nesse trabalho de ajudar aos outros, não se pode realizá-lo.
Preciso da ajuda do senhor. Eu de verdade me sinto com tantos limites, tantos
problemas, e também pecador. Peço a Nossa Senhora que reze por mim. É um
hábito, mas que vem da necessidade. Eu sinto que devo pedir. Não sei…
P - Na busca de fazer as mudanças
no Vaticano, o sr. disse que existem muitos santos que trabalham e outros um
pouco menos santos. O sr. enfrenta resistências a essa sua vontade de mudar as
coisas no Vaticano ? O sr. vive num ambiente muito austero, de Santa
Marta. Os seus colaboradores também vivem essa austeridade? Isso é algo apenas
do sr. ou da comunidade?
Papa Francisco - As mudanças vem
de duas vertentes.: do que pediram os cardeais e também o que vem da minha
personalidade. Você falou que eu fico na Santa Marta. Eu não poderia viver
sozinho do Palácio, que não é luxuoso. O apartamento pontifício é grande, mas
não é luxuoso. Mas eu não posso viver sozinho. Preciso de gente, falar com
gente, trabalhar com as pessoas. Porque é que quando os meninos da escola
jesuíta me perguntaram se eu estava aqui pela austeridade e pobreza, eu
respondi: não, não. É por motivos psiquiátricos. Psicologicamente, não posso.
Cada um deve levar adiante sua vida, seguir seu modo de vida. Os cardeais que
trabalham na Cúria não vivem como ricos. Tem apartamentos pequenos. São
austeros. Os que eu conheço tem apartamentos pequenos. Cada um tem que viver
como o senhor disse que tem que viver. A austeridade é necessária para todos.
Trabalhamos à serviço da Igreja. É verdade que há sacerdotes e padres santos,
gente que prega, que trabalha tanto, que trabalha e vai aos pobres, se
preocupam garantir que os pobres comam. Tem santos na Cúria. Também tem alguns
que não são muito santos. E são estes que fazem mais barulho. Faz mais barulho
uma arvore que cai do que uma floresta que nasce. Isso me dói. Porque são
alguns que causam escândalos. Temos o monsenhor que foi para a cadeia (por
lavagem de dinheiro). São escândalos que fazem mal. Uma coisa que nunca
disse : a Cúria deveria ter o nível que tinham os velhos padres, pessoas
que trabalham. Os velhos membros da Cúria. Precisamos deles. Precisamos o
perfil do velho da Cúria. Sobre a resistência, se tem, eu ainda não vi. É
verdade que aconteceram muitas coisas. Mas eu preciso dizer: eu encontrei
ajuda, encontrei pessoas leais. Por exemplo, eu gosto quando alguém me diz: “eu
não estou de acordo”. Esse é um verdadeiro colaborador. Mas quando vejo alguém
que diz: “ah, que belo, que belo”, e depois dizem o contrario por trás, isso
não ajuda.
P – O mundo mudou, os jovens mudaram.
Temos no Brasil muitos jovens, mas o senhor não falou de aborto, sobre a
posição do Vaticano sobre casamento entre pessoas do mesmo sexo. No Brasil
foram aprovadas leis que ampliam os direitos para estes casamentos em relação
ao aborto. Por que o senhor não falou sobre isso?
Papa Francisco - A Igreja já se
expressou perfeitamente sobre isso. Eu não queria voltar sobre isso. Não era
necessário, como também não falei sobre outros assuntos. Eu também não falei
sobre o roubo, sobre a mentira. Para isso, a Igreja tem um doutrina clara.
Queria falar de coisas positivas, que abrem caminho aos jovens. Além disso, os
jovens sabem perfeitamente qual a posição da igreja.
P – E qual é a do Papa?
Papa Francisco - É a da Igreja, Ou
sou filho da Igreja.
P - Qual o sentido mais profundo
de se apresentar como o bispo de Roma?
Papa Francisco - Não se deve
andar mais adiante do que o que se fala. O papa é bispo de Roma e por isso é
papa, que é sucesso de Pedro. Pensar que isso quer dizer que é o primeiro, não
é o caso. Não é esse o sentido. O primeiro sentido do papa é ser o bispo de
Roma.
P - O sr. teve sua primeira
experiência de massas no Rio. Como o sr. se sente como papa? É muito
trabalho ?
Papa Francisco - Ser o bispo é
lindo. O problema é quando um pessoa busca ter esse trabalho. Assim não é tão
belo. Mas quando um senhor chama para ser bispo, isso é belo. Tem sempre o
perigo e pecado de pensar com superioridade, como ser um príncipe. Mas o
trabalho é belo. Ajudar o irmão a ir adiante. Têm o filtro da estrada. O bispo
tem que indicar o caminho. Eu gosto de ser bispo. Em Buenos Aires, eu era tão
feliz. Como padre eu era feliz. Como bispo, eu era feliz e isso me faz bem.
P – E como papa?
Papa Francisco - Se você faz o
que o Senhor quer, é feliz. Isso é meu sentimento.
P.- Vimos o sr. cheio de energia e,
agora, enquanto o avião se mexe muito, vemos agora com muita tranquilidade de
pé. Fala-se muito das próximas viagens. O sr. já tem um calendário?
Papa Francisco - Definido,
definido não há nada. Mas posso dizer algumas coisas que estamos pensando. No
día 22 de setembro, Cagliari. Depois, no 4 de outubro, para Assis. Tenho em
mente dentro da Itália ir ver minha família. Pegar um avião pela manhã e voltar
com outro pela noite. Meus familiares, pobres, me ligam. Temos una boa relação
com eles. Fora da Itália o patriarca Bartolomeu I quer fazer um encontro para
comemorar os 50 anos do encontro Atenágoras e Paulo VI em Jerusalém. O governo
israelense nos dei um convite especial. O governo da Autoridade Palestina
acredito que fez o mesmo. Isso está sendo pensado. Na América Latina, acredito
que há possibilidades de voltar, porque o papa latino-americano, que acaba de
fazer sua primeira viagem à América Latina….Adeus! Devemos esperar um pouco.
Acredito que se possa ir à Ásia, mas está todo no ar. Tive convites para ir ao
Sri Lanka e Filipinas. Para a Ásia precisamos ir. Bento XVI não teve tempo.
P – E para a Argentina?
Papa Francisco - Isso pode
esperar um pouco. As outras viagens tem prioridade.
P – No encontro com os argentinos, o
sr. disse que se sentia enjaulado. Porque?
Papa Francisco - Vocês sabem que
eu tenho vontade de passear pelas ruas de Roma? Adoro andar pelas ruas. E por
isso me sinto um pouco enjaulado. Mas tenho que dizer que a Gendarmeria
vaticana é boa. Agora me deixam fazer algumas coisas mais. Mas seu dever é
garantir minha segurança. Enjaulado nesse sentido, de que gostaria de estar nas
ruas. Mas entendo que não é possível. Em Buenos Aires, eu era um
sacerdote das ruas.
P - A igreja no Brasil está
perdendo fieis. A Renovação Carismática é uma possibilidade para evitar que
eles sigam para as igrejas pentecostais?
Papa Francisco - É verdade, as
estatísticas mostram. Falamos sobre isso ontem com os bispos brasileiros. E
isso é um problema que incomoda os bispos brasileiros. Eu vou dizer uma coisa:
nos anos 1970, início dos 1980, eu não podia nem vê-los. Uma vez, falando sobre
eles, disse a seguinte frase: eles confundem uma celebração musical com uma
escola de samba. Eu me arrependi. Vi que os movimentos bem assessorados
trilharam um bom caminho. Agora, vejo que esse movimento faz muito bem à igreja
em geral. Em Buenos Aires, eu fazia uma missa com eles uma vez por ano, na
catedral. Vi o bem que eles faziam. Neste momento da igreja, creio que os
movimentos são necessários. Esses movimentos são um graça para a igreja. A
Renovação Carismática não serve apenas para evitar que alguns sigam os pentecostais.
Eles são importantes para a própria igreja, a igreja que se renova.
P – O senhor disse que está cansado.
Há algum tratamento especial neste voo?
Papa Francisco - Sim, estou
cansado. Não há nenhum tratamento especial neste voo. Na frente, tem uma bela
poltrona. Escrevi para dizer que não queria tratamento especial.
P – A igreja sem a mulher perde a
fecundidade? Quais as medidas concretas?
Papa Francisco - Uma igreja sem
as mulheres é como o colégio apostólico sem Maria. O papal da mulher na igreja
não é só maternidade, a mãe da família. É muito mais forte. A mulher ajuda a
igreja a crescer. E pensar que a Nossa Senhora é mais importante do que os
apóstolos! A igreja é feminina, esposa, mãe. O papel da mulher na igreja não
deve ser só o de mãe e com um trabalho limitado. Não, tem outra coisa. O papa
Paulo 6° escreveu uma coisa belíssima sobre as mulheres. Creio que se deva ir
adiante esse papel. Não se pode entender uma igreja sem uma mulher ativa. Um
exemplo histórico: para mim, as mulheres paraguaias são as mais gloriosas da
América Latina. Sobraram, depois da guerra (1864-1870), oito mulheres para cada
homem. E essas mulheres fizeram uma escolha um pouco difícil. A escolha de ter
filhos para salvar a pátria, a cultura, a fé, a língua. Na igreja, se deve
pensar nas mulheres sob essa perspectiva. Escolhas de risco, mas como mulher.
Acredito que, até agora, não fizemos uma profunda teologia sobre a mulher.
Somente um pouco aqui, um pouco lá. Tem a que faz a leitura, a presidente da
Cáritas, mas há mais o que fazer. É necessário fazer uma profunda teologia da
mulher. Isso é o que eu penso.
P – O que sr. pensa sobre a ordenação
das mulheres?
Papa Francisco - Sobre a
ordenação, a igreja já falou e disse que não. João Paulo 2° disse com uma
formulação definitiva. Essa porta está fechada. Nossa senhora, Maria, é mais
importante que os apóstolos. A mulher na igreja é mais importante que os bispos
e os padres. Acredito que falte uma especificação teológica.
P – Queremos saber qual a sua
relação de trabalho com Bento 16, não a amistosa, a de colaboração. Não houve
antes uma circunstância assim. Os contatos são frequentes?
Papa Francisco - A última vez que
houve dois ou três papa, eles não se falavam. Estavam brigando entre si, para
ver quem era o verdadeiro. Eu fiquei muito feliz quando se tornou papa. Também,
quando renunciou, foi, pra mim, um exemplo muito grande. É um homem de Deus, de
reza. Hoje, ele mora no Vaticano. Alguns me perguntam: como dois papas podem
viver no Vaticano? Eu achei uma frase para explicar isso. É como ter um avô em
casa. Um avô sábio. Na família, um avô é amado, admirado. Ele é um homem com
prudência. Eu o convidei para vir comigo em algumas ocasiões. Ele prefere ficar
reservado. Se eu tenho alguma dificuldade, não entendo alguma coisa, posso ir
até ele. Sobre o problema grave do Vatileaks [vazamento de documentos
secretos], ele me disse tudo com simplicidade. Tem uma coisa que não sei se
vocês sabem: Em 8 de fevereiro, no discurso, ele falou: “Entre vocês está o
próximo papa. Eu prometo obediência”. Isso é grande.
P – Nesta viagem, o sr. falou de
misericórdia Sobre o acesso aos sacramentos dos divorciados, existe a
possibilidade de mudar alguma coisa na disciplina da igreja?
Papa Francisco - Essa é uma
pergunta que sempre se faz. A misericórdia é maior do que o exemplo que você
deu. Essa mudança de época e também tantos problemas na igreja, como alguns
testemunhos de alguns padres, problemas de corrupção, do clericalismo… A igreja
é mãe. Ela cura os feridos. Ela não se cansa de perdoar. Os divorciados
podem fazer a comunhão. Não podem quando estão na segunda união. Esse problema
deve ser estudado pela pastoral matrimonial. Há 15 dias, esteve comigo o
secretário do sínodo dos bispos, para discutir o tema do próximo sínodo. E
posso dizer que estamos a caminho de uma pastoral matrimonial mais profunda. O
cardeal Guarantino disse ao meu antecessor que a metade dos matrimônios é nula.
Porque as pessoas se casam sem maturidade ou porque socialmente devem se casar.
Isso também entra na Pastoral do Matrimônio. A questão da anulação do
casamento deve ser revisada. Também é preciso analisar os problemas judiciais
de anular um matrimônio. Porque os…eclesiástico não bastam para isso. É
complexo o problema da anulação do matrimônio.
P – Como Papa, o senhor ainda pensa é
um jesuíta ?
Papa Francisco - É uma pergunta
teológica. Os jesuítas fazem votos de obedecer ao Papa. Mas se o Papa se torna
um jesuíta, talvez devem fazer votos gerais dos jesuítas. Eu me sinto jesuíta
na minha espiritualidade, a que tenho no coração. Não mudei de espiritualidade.
Sou Francisco franciscano. Me sinto jesuíta e penso como jesuíta.
P – Em quatro meses de Pontificado,
pode nos fazer um pequeno balance e dizer o que foi o pior e o melhor de ser
Papa ? O que mais o surpreendeu neste período?
Papa Francisco - Não sei como
responder isso, de verdade. Coisas ruins, ruins, não aconteceram. Coisas belas,
sim. Por exemplo, o encontro com os bispos italianos, que foi tão bonito. Como
Bispo da capital da Itália, me senti em casa com eles. Uma coisa dolorosa foi a
visita a Lampedusa, me fez chorar. Me fez bem. Quando chegam estes barcos (com
imigrantes), e que os deixam a algumas milhas de distância da costa e eles têm
que chegar (à costa) sozinhos, isso me dói porque penso que estas pessoas são
vítimas do sistema sócio-econômico mundial. Mas a coisa pior é um ciática, é
verdade, tive isso no primeiro mês. É verdade! Para uma entrevista, tive
que me acomodar numa poltrona e isso me fez mal, doía muito, não desejo isso a
ninguém. O encontro com os seminaristas religiosos foi belíssimo. Também o
encontro com os alunos do colégio jesuítas foi belíssimo. As pessoas…conheci
tantas pessoas boas no Vaticano. Isso é verdade, eu faço justiça. Tantas
pessoas boas, mas boas, boas, boas.
P – O senhor se assustou quando viu o
informe sobre o Vatileaks ?
Papa Francisco - Não. Vou contar
uma anedota sobre o informe do Vatileaks. Quando fui ver o Papa Bento, ele
disse: aqui está uma caixa com tudo o que disseram as testemunhas. Havia ainda
um envelope com o resumo. E ele sabia tudo de memória. Mas não, não me
assustei. São problemas grandes, mas não me assustei.
P – O sr. tem a esperança de que esta
viagem ao Brasil contribua para trazer de volta os fiéis ?
Papa Francisco - Uma viagem Papa
sempre faz bem. E creio que a viagem ao Brasil fará bem, não apenas a presença
do Papa. Esta Jornada da Juventude, eles (os brasileiros) se mobilizaram e vão
ajudar muito a Igreja. Tantos fiéis que foram se sentem felizes (por terem
ido). Acho que vai ser positivo não só pela viagem, mas pela Jornada, que foi
um evento maravilhoso.
P – Os argentinos se perguntam: o sr.
não sente falta de estar em Buenos Aires, pegar um ônibus ?
Papa Francisco - Buenos Aires,
sim, sinto falta. Mas é uma saudades serena.
P – Hoje os ortodoxos festejam mil
anos do cristianismo. Seu comentário ?
Papa Francisco - As igrejas
ortodoxas conservaram a liturgia tão bem, no sentido da adoração. Eles louvam
Deus, adoram Deus, cantam Deus. O tempo não conta. O centro é Deus e isso é uma
riqueza. Luz é oriente. E o ocidente, luxos. O consumismo nos faz tão mal.
Quando se lê Dostoievski, que acho que todos nós devemos ler, precisamos deste
ar fresco do oriente, desta luz do Oriente.
P – O que o senhor pretende fazer em
relação ao monsenhor Ricca (acusado de ter amantes) e como o sr pretende
enfrentar toda esta questão do lobby gay ?
Papa Francisco - Sobre monsenhor
Ricca, fiz o que o direito canônico manda fazer, que é a investigação prévia. E
nesta investigação, não tem nada do que o acusam. Não achamos nada. É a
minha resposta. Mas eu gostaria de dizer outra coisa sobre isso. Vejo que
muitas vezes na Igreja se busca os pecados de juventude, por exemplo. Abuso de
menores é diferente. Mas, se uma pessoa, seja laica ou padre ou freira, pecou e
esconde, o Senhor perdoa. Quando o senhor perdoa, o senhor esquece. E isso é
importante para a nossa vida. Quando vamos confessar e nós dizemos que pecamos,
o senhor esquece e nós não temos o direito de não esquecer. Isso é um perigo. O
que é importante é uma teologia do pecado. Tantas vezes penso em São Pedro, que
cometeu tantos pecados e venerava Cristo. E este pecador foi transformado em
Papa. Neste caso, nós tivemos uma rápida investigação e não encontramos nada.
Vocês vêm muita coisa escrita sobre o
gay lobby. Eu ainda não vi ninguém no Vaticano com uma carteira de identidade
do Vaticano dizendo que é gay. Dizem que há alguns. acho que quando alguém se
ve com uma pessoa assim devemos distinguir entre o fato de que uma pessoa é gay
e fazer um lobby gay, porque todos os lobbys não são bons. Isso é o que é
ruim. Se uma pessoa é gay e procura Deus e tem boa vontade, quem sou eu, por
caridade, pra julga-la ? O catecismo da Igreja católica explica isso muito
bem. Diz que eles não devem ser discriminados por causa disso, mas devem ser
integrados na sociedade. O problema não é ter essa tendência. Não !
Devemos ser como irmãos. O problema é fazer lobby, o lobby dos avaros, o lobby
dos políticos, o lobby dos mações, tantos lobbys. Esse é o o pior problema.
Do Estadão
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