Aposentado faleceu na tarde desta
terça-feira, dia 24; ele ficou muito conhecido no Oeste do RN após construir
uma igreja no município de Rodolfo Fernandes, em homenagem a duas meninas que
morreram de fome e sede na seca de 1877.
Historia das Meninas das covinhas
Uma igrejinha construída na divisa entre os
Estados do Rio Grande do Norte e Ceará, município de Rodolfo Fernandes, marca o
lugar exato onde no ano de 1877 duas meninas irmãs morreram de fome e sede,
quando acompanhavam os pais e outros vários retirantes na fuga de uma das
maiores secas registradas na história desta região. Era Mãe Cândida que contava
essa história aos netos, sempre que eles perguntavam sobre um clarão que viam
naquelas bandas de chão, numa época onde ali energia elétrica ainda não
existia. Um dos netos era Raimundo Honório Cavalcante de Oliveira, conhecido
como Bento Honório, que em 1953 realizou o sonho de comprar a fazenda Sossego,
e que acabou se tornando precursor de uma história de muita fé, que tem atraído
pessoas de várias partes do Brasil: a história das Anjinhas das Covinhas.
História que é contada pelo próprio Bento
Honório...
"No dia 24 de agosto de 1980 senti uma
dor muito forte, no momento em que mexia em uma cerca da fazenda. Cheguei em
casa muito mal, a ponto de desmaiar. Era uma quarta-feira. A família decidiu
que eu deveria ir para Mossoró no outro dia. Estava tão mal que fiquei mesmo em
Itaú, cidade vizinha, de onde retornei no sábado. No domingo, as dores
pioraram. Nesta noite eu estava sentado numa cadeira do quarto, pouca luz,
quando tive a primeira visão das meninas. Elas estavam em pé, na porta.
No dia seguinte fui internado no Hospital
Almeida Castro, em Mossoró. Recebi soro e medicamentos, passei o maior sufoco,
o maior sofrimento.
Por sugestão de vários médicos, entre eles o
ex-deputado Laíre Rosado, fui transferido para o Hospital Geral de Fortaleza,
que estava sem vagas. Fiquei então no Hospital Fernando Távora. Exames,
medicamentos, banhos e ninguém sabia ainda o que eu tinha.
O Dr. Fausto falou que poderia ser hepatite.
Mandou tirar sangue e não era. Dr. Célio mandou bater um raio-x, e nada.
Pediram então uma Junta Médica. O Dr. Afonso chegou a me desenganar, mas a
decisão foi o isolamento, pois poderia ser uma doença contagiosa, talvez de
rato ou outro animal. Fui então para o Hospital Geral para um isolamento de 10
dias. Sentia muita dor e paralisia no corpo todo, a ponto de nem conseguir
dormir. Se morresse o corpo ficaria para estudos.
No primeiro dia, fiz uma cirurgia onde
botaram um aparelho na minha barriga para que eu recebesse dois soros
simultaneamente. Nesta noite faltou energia. Nos poucos segundos antes do
gerador ser ligado, tive a segunda visão das meninas. Foi quando fiz uma
promessa.
Uma amostra de meu sangue foi mandada para o
Rio de Janeiro, o resultado viria com quatro dias. Durante este período não
podia beber água, só soro. Ouvi dos enfermeiros que até as roupas de cama eram
queimadas. Não podia receber visitas de ninguém.
No quarto dia, quando amanhecia, uma senhora
e duas meninas entraram no quarto. Eu ainda estava bastante sonolento, mas
lembro muito bem quando a mulher pediu a uma das meninas uma válvula para
retirar o aparelho de soro que estava ligado ao meu umbigo. Ainda hoje vejo a
mão da menina entregando esta válvula. Retiraram toda a aparelhagem e fizeram o
curativo.
Quando Dr. Célio chegou perguntou quem havia
retirado o aparelho e feito o curativo. Respondi que tinha sido uma senhora de
branco e duas meninas. Ele logo pensou que eu estava delirando, mas quando
procurou saber na equipe como aquilo havia ocorrido, e porque no prontuário não
havia nada, ninguém soube dar a resposta. Foi quando contei para Dr. Célio
sobre minhas visões.
Em meio a perplexidade dos médicos, chegaram
os exames com resultado negativo. Mandaram refazer. Mais quatro dias sem água,
e agora recebendo soro pelo braço. Novamente resultados negativos. Na noite do
10º dia no isolamento, tive uma nova visão. Vi o local das covinhas com todos
os detalhes: uma árvore caída e uma pequena lagoa marcaram aquela visão. E ouvi
uma voz dizendo: "Com os poderes de Deus, o Sr. está curado".
No outro dia convocaram uma junta médica com
20 médicos. Não podiam atestar qualquer doença devido todos os exames darem
negativo. Decidiram por minha permanência por mais dez dias no hospital. Depois
teria que fazer exames regulares em 15, 30, 60 e 120 dias após a alta do
hospital. Nenhum remédio foi recomendado." Bento Honório Trinta dias
exatos do dia em que havia saído de casa, Bento retornou com um Cruzeiro que
encomendara em Fortaleza. Neste mesmo dia foi em busca do lugar que as visões
indicaram. A partir daí começou a luta para erguer a igreja e dar a ela uma
estrutura digna para receber os fiéis. Ele diz que não foi difícil devido ter
recebido inúmeras doações de pessoas das mais diversas cidades, inclusive do
sul do país, que não sabiam nem onde era Rodolfo Fernandes.
Durante anos realizou o sonho da construção
da Igreja das Covinhas, a obra física. A obra espiritual, no entanto, está
presente nas milhares de pessoas que todos os anos visitam a Igreja e o
Cruzeiro, com suas histórias, preces e agradecimentos.
A Igreja das Covinhas está a 5 km da cidade
de Rodolfo Fernandes, distante 400 km da capital Natal.
Márcio Melo com Texto da Maracajá On Line
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