Collor comparou o próprio impeachment, em
1992, ao processo que confirmou o afastamento de Dilma. Ele informou ter
aconselhado Dilma e se colocado à disposição
Investigado na Operação Lava Jato em um
sem-número de inquéritos, suspeito de abocanhar 26 milhões de reais em propina
do petrolão e senhor absoluto do aparelhamento na BR Distribuidora, o senador
Fernando Collor de Mello, ocupou a tribuna do Senado tarde da noite nesta
quarta-feira para passar um pito na administração Dilma Rousseff, um governo
que apontou como adepto de "cooptação" e de um "fisiologismo que
envergonham a classe política".
Alvo de investigações que indicam que
vilipendiou por anos a fio empresas ligadas à Petrobras, Collor se arvorou a
condenar o silêncio do PT diante dos corruptos do petrolão, fez menções ao
escândalo que levou mensaleiros petistas para a cadeia e resumiu:
"Chegamos ao ápice de todas as crises".
Em referência clara ao esquema do mensalão, o
primeiro escândalo que se abateu sobre o governo petista, Collor disparou:
"Há 11 anos vimos o choro de parlamentares decepcionados com as agruras e
a verdade crua de um partido. Hoje, envoltos em tormentos muito piores, não
vejo sequer uma lágrima, uma lágrima de constrangimento que seja. Ao contrário:
o que se vê é a defesa rouca, cega, mouca e intransigente. Entre retóricas e
evidências, entre quimeras e realidades, entre golpe e a farsa do golpe, apesar
de tudo e por tudo isso a população brasileira evoluiu na participação
política. Mas admitamos que regredimos no agir da política".
Em seu discurso, o ex-presidente indicou que
deve votar a favor do impedimento da presidente Dilma, embora tenha feito
críticas à Lei 1079, de 1950, que detalha os crimes de responsabilidade, e a
instabilidades políticas decorrentes do presidencialismo. "Nesta quadra de
adversidade para uns e tragédia para outros que constatamos que o maior crime
de responsabilidade está na irresponsabilidade pelo desleixo com a política, na
irresponsabilidade com a deterioração econômica de um país, na
irresponsabilidade pelos sucessivos e acachapantes déficits fiscais e
orçamentários, na irresponsabilidade pelo aparelhamento desenfreado do Estado,
que o torna inchado, arrogante e ineficaz, na irresponsabilidade pela ação ou
omissão perante obstruções da justiça. É crime de responsabilidade a mera irresponsabilidade
com o país, seja por incompetência, negligência ou má-fé", disse Collor.
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Em boa parte de seu discurso, comparou o
próprio impeachment, em 1992, ao processo que vai confirmar o afastamento de
Dilma nesta quinta-feira, criticou a velocidade do procedimento contra ele -
quatro meses da apresentação da denúncia ao julgamento final -, alfinetou o
fato de a presidente petista utilizar a advocacia da União em sua defesa e
criticou uma suposta violação ao direito de defesa em seu processo. "O
rito é o mesmo, mas o ritmo e rigor não", resumiu.
O senador também se remeteu à introdução
feita por Barbosa Lima Sobrinho no processo de impeachment contra ele, em 1992,
e afirmou que o cenário sob a gestão Dilma é uma "confluência clara e
entrelaçada" de crises política, econômica, financeira, institucional e -
Collor ressaltou - "moral". "Jamais o Brasil passou como hoje
por uma confluência tão clara, tão entrelaçada e aguda de crises na política,
na economia, na moralidade e na institucionalidade. Chegamos ao ápice de todas
as crises. Chegamos às ruínas de um governo, às ruínas de um país. Este é o
motivo pelo qual aqui e agora discutimos possíveis crimes de responsabilidade
da presidente da República", discursou.
Em tom professoral, Collor informou ter
aconselhado Dilma em momentos de crise e se colocado à disposição, embora ao
final, reclamou, tenha sido solenemente ignorado. "A autossuficiência
pairava sob a razão", reclamou. Trigésimo oitavo senador dos 71 inscritos
para discursar no plenário da sessão que analisa a admissibilidade do pedido de
impeachment contra Dilma Rousseff, ignorou estrategicamente o fato de ter se
aliado ao PT para voltar à proa e atacou: "Não há como recuperar esse
modelo de coalizão, de cooptação e fisiologismo que envergonham a classe
política".F
Fonte: Veja
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