‘Seus babacas, me respeitem, porque senão
olha o que eu vou fazer com vocês. Em vez de votar em vocês, eu vou votar no
Tiririca, vou votar no Romário”.
Ex-ministro dos governos Lula e Dilma Rousseff e um dos “faxinados” do mandato passado, o presidente
nacional do PDT, Carlos Lupi, disse que os petistas “roubaram demais” e que o
partido deles “se esgotou”. “O PT exauriu-se, esgotou-se. Olha o caso da
Petrobrás. A gente não acha que o PT inventou a corrupção, mas roubaram demais.
Exageraram. O projeto deles virou projeto de poder pelo poder”, disse Lupi um
dia após a Petrobrás divulgar que a perda da estatal com a corrupção chegava a
R$ 6,2 bilhões.
A declaração foi feita durante um encontro
com correligionários na quinta-feira, em São Paulo. O Estado teve acesso à fala
de Lupi, que foi confirmada pelo próprio dirigente pedetista.
Na conversa, o presidente do partido fez
ressalvas a programas simbólicos dos governos petistas, como o Bolsa Família.
“Tirou milhões da miséria, isso é bom para caramba. O Nordeste é outro
(avanço), é verdade. Quem não vê isso é mentiroso, nojento. Eu tenho raiva
deles. Mas (o governo) criou também uma dependência. Eu vejo gente que não quer
trabalhar para manter o Bolsa Família, isso está errado. O programa tem que ser
instrumento para tirar da miséria, não para manter na miséria.”
Aos correligionários, Lupi também reclamou do
tratamento dado pelo PT ao PDT desde que as duas legendas formalizaram a
aliança em 2006, quando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva disputava
a reeleição. “A conversa com o PT, com o meu amigo Lula e com a presidente
Dilma, é qual o naco de poder que fica com cada um. Para mim, isso não basta.
Eu não quero um pedaço de chocolate para brincar como criança que adoça a boca.
Eu quero ser sócio da fábrica, eu quero ajudar a fazer o chocolate.”
Em um momento de autocrítica, o presidente do
PDT disse que o partido se “acomodou” por estar no poder, mas que, diante da
insatisfação demonstrada pela população nas ruas, o partido precisa começar a
buscar novos caminhos ou sofrerá as consequências no futuro.
“Se a gente não acordar para isso, daqui a
pouco a população vai fazer como juiz de futebol: vai dar cartão vermelho para
gente. Para muitos, já está dando”, disse Lupi. De acordo com aliados do
dirigente pedetista, esse tem sido o tom usado por ele durante as reuniões com
as Executivas estaduais do PDT desde o início do ano.
Segundo Lupi, o fato de nas últimas eleições
candidatos como o palhaço Tiririca (PR-SP) e o ex-jogador Romário (PSB-RJ)
terem sido eleitos para cargos no Legislativo demonstram o descontentamento das
pessoas com a figura do político tradicional. “O povo está fazendo isso para
sacanear a gente. Está dizendo: ‘Seus babacas, me respeitem, porque senão olha
o que eu vou fazer com vocês. Em vez de votar em vocês, eu vou votar no Tiririca,
vou votar no Romário’.”
Planos. Procurado pelo Estado, Lupi confirmou
o teor do discurso feito na quinta-feira. Ele nega que o PDT pense em deixar a
base aliada neste momento. Acomodado no Ministério do Trabalho – cujo atual
titular é Manoel Dias –, o partido conta hoje com 19 dos 513 deputados da
Câmara e 6 dos 81 senadores. Ex-ministro do Trabalho, Lupi deixou o governo
Dilma em dezembro de 2011, após uma série de denúncias de irregularidades
envolvendo integrantes da pasta.
Apesar de o partido continuar no comando do
ministério até hoje, a relação entre PDT e PT está a cada dia mais estremecida.
Parte dos senadores do partido defende a saída imediata da base do governo. Na
Câmara, a bancada da sigla não tem mais seguido a orientação do Palácio do Planalto
na hora das votações.
Até agora, Lupi era apontado como o que mais
resistia à ideia de deixar a base aliada. Hoje, no momento em que o PT passa
pela sua maior crise desde que assumiu o governo, em 2003, o dirigente
trabalhista resume assim o seu sentimento: “A gente não quer ser um rato, que
foge do porão do navio quando entra a primeira água, mas também não queremos
ser o comandante do Titanic, que ficou no barco até ele afundar”.
Fonte: Agência Estado
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