Central Única de Trabalhadores já convocou
paralisação geral para esta quarta-feira.
Greves, otimismo e discussões acaloradas: o
Brasil deve testemunhar reações distintas após a aprovação do texto base do
Projeto de Lei que regulamenta os contratos para trabalhos terceirizados. Na
quarta-feira passada, 324 deputados votaram a favor, 137 foram contra e dois se
abstiveram.
A Central Única de Trabalhadores (CUT) já
convocou paralisação geral para esta quarta-feira (15). Entidades como a
Confederação Nacional da Indústria e a Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo esperam que o Projeto seja encaminhado para o Senado e, o mais breve
possível, para sanção presidencial. As reações são por conta da agenda dos
deputados, que devem votar os destaques da proposta na próxima semana.
O Brasil tem hoje 12 milhões de trabalhadores
formais terceirizados, o equivalente a 25% da mão de obra do País.
O ponto mais controverso do projeto é a
possibilidade de terceirização de qualquer atividade de empresas brasileiras.
Atualmente, apenas serviços que não correspondem ao objetivo principal do
negócio podem ser terceirizados – um banco, por exemplo, poderia delegar
tarefas como vigilância e limpeza a outras empresas, mas não o atendimento aos
clientes e a gerência.
A crítica é de que isso estimularia demissões
de trabalhadores fixos e a contratação de terceirizados, precarizando o
trabalho e reduzindo custos. “Se aumentar o número de terceirizados, vai haver
uma queda na massa salarial da classe trabalhadora”, afirma a secretária de
Relações do Trabalho da CUT, Graça Costa. De acordo com estudo do sindicato,
com base em dados coletados em 2010, funcionários terceirizados recebem
salários 27% menores que aqueles contratados diretamente pelas empresas. Menor
escolaridade e diferenças no “tamanho” das empresas não são suficientes para
explicar o fato, diz a CUT. O material ainda aborda a taxa de rotatividade, que
seria de 45% entre terceirizados e 22% dos trabalhadores diretos.
Por outro lado, Miguel Torres, presidente da
Força Sindical, acredita que emendas apresentadas ao projeto de lei devem
garantir igualdade de direitos entre trabalhadores fixos e terceirizados.
Funcionários da contratada, quando pertencerem ao mesmo tipo de atividade
econômica, serão representados pelo mesmo sindicato dos trabalhadores da
contratante – assim, teriam direito aos mesmos reajustes salariais. Além disso,
a empresa contratada terá de se especializar em um único serviço. “Não vão mais
existir locadores de mão-de-obra”, afirma Torres.
No entanto, a Força deve contrariar a
proposta se alguma das emendas forem suprimidas do PL. “O projeto, como está,
nivela os direitos dos trabalhadores”, defende Torres. “O discurso do
empresariado é de modernizar, agilizar os processos, ser mais rápido na
contratação e na transferência de mão-de-obra. Ela só é um mal quando é para
precarizar, para diminuir custos, pagar menos salários”.
Entidades ligadas à indústria, por sua vez,
estão ansiosas pela aprovação do PL 4330 no Congresso Nacional. É o caso da
Confederação Nacional da Indústria (CNI), que argumenta que a legislação
trabalhista brasileira, cuja base foi criada na década de 1940, deve ser
modernizada e regulamentar de forma definitiva o trabalho terceirizado. Para a
CNI, a ausência de marco legal sobre a terceirização tem fomentado conflitos –
e a consequência são os mais de 16 mil casos no Tribunal Superior do Trabalho
(TST) envolvendo o tema. A Fiesp também cita a maior segurança jurídica às
empresas que contratam serviços de terceiros como avanço do PL.
Direitos trabalhistas
O projeto de lei mantém as obrigações
trabalhistas – como pagamento de salários, horas extras, décimo terceiro, FGTS
e férias – sob responsabilidade das empresas contratadas, assim como é feito
atualmente. A empresa contratante, no entanto, deve fiscalizar o cumprimento
das obrigações. Caso isso não ocorra, ela poderá reter o pagamento do serviço,
tendo como dever pagar os salários dos trabalhadores até a situação se
normalizar.
Se essa fiscalização não acontecer, a empresa
que contratou o serviço é considerada solidária em relação ao problema, podendo
ser acionada na Justiça. Se fiscalizar, ela é considerada subsidiária – terá
apenas de complementar o que a contratada não foi capaz de arcar.
Além disso, o PL indica que as empresas que
contratam o serviço devem garantir condições de segurança, higiene e
salubridade dos empregados terceirizados. Quando o trabalho é feito nas
dependências desta, os funcionários terceirizados devem ter o mesmo tratamento
dos fixos em relação à alimentação, transporte, atendimento médico e
ambulatorial, treinamento e instalações adequadas para o trabalho.
A pedido do Ministro da Fazenda, Joaquim
Levy, o relator da proposta alterou o texto para que a empresa que solicita o
serviço arque com encargos previdenciários e imposto de renda. “Para nós não há
problema, desde que o governo não aumente os impostos. Uma coisa é discutir
quem vai recolher. Outra coisa é, nessa mudança, aumentar o imposto”, comenta
Paulo Skaf, presidente da Fiesp.
Fonte: Terra
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