Noiva, a presidiária dá os primeiros passos
para se dedicar às pregações religiosas
No mês passado, Suzane von Richthofen deixou
a prisão pela quinta vez desde março de 2016, em mais uma das chamadas
saidinhas temporárias. Ganhou o benefício da liberdade por cinco dias,
ironicamente, devido ao Dia das Mães — em 2002, a jovem foi parar atrás das
grades por estar envolvida no assassinato dos pais.
Na porta do presídio feminino de Tremembé, no
interior, a moça, de 33 anos, encontrou o noivo, o empresário Rogério Olberg,
38. Beijaram-se e, dentro de um Fiat Idea, seguiram para um sítio em Angatuba,
a 214 quilômetros da capital, onde o rapaz vive. Eles tinham um propósito em
mente: encontrar o pastor Euclides Vieira, da Igreja do Evangelho Quadrangular,
membro de um templo em Itapetininga, perto dali, para revelarem a ele o
interesse em virar missionários.
Em uma padaria, junto de café com leite e pão
na chapa, pediram orientações sobre como exercer o ofício de pregador e levar o
Evangelho a pessoas como moradores de rua e usuários de drogas — confidenciaram
ainda ter a intenção de trocar alianças até o fim do ano. “Perguntei a Suzane
se ela está preparada para a possibilidade de as pessoas se levantarem e irem
embora da igreja, para andar na rua e ouvir xingamentos”, contou Vieira à
reportagem de VEJA SÃO PAULO. “Ela olhou firme nos meus olhos, afirmou que
faria aquilo por Deus e enfrentaria o que viesse. Senti bastante firmeza.”
Suzane teria direito à próxima saída
provisória em agosto, a pretexto do Dia dos Pais. Porém, a Justiça dará o aval
final algumas semanas antes do feriado. Se o pedido for aceito, ela pretende
aproveitar a oportunidade para dar o primeiro passo na vida de missionária. Ele
consistirá em um testemunho sobre suas experiências para uma plateia de catorze
dependentes químicos na Casa de Recuperação Jeová Rafá, em São Miguel Arcanjo,
também no interior paulista. A instituição é mantida pelo pastor Vieira.
Olberg comandou sua primeira pregação,
durante quarenta minutos, no último dia
2, no mesmo endereço. Aos usuários em reabilitação, disse que sua
“futura esposa é a mais odiada do Brasil”, mas que seguia em frente com seu
propósito. O rapaz possui uma pequena empresa de serviços de transporte, mas
ficou sem trabalho desde que o romance foi descoberto.
No início do mês, em uma visita à noiva em
Tremembé, precisou acalmá-la, pois Suzane estava “muito abalada” com as
notícias sobre o irmão, Andreas, que havia sido internado em uma ala
psiquiátrica após tentar invadir uma casa na Zona Sul da capital.
Condenada a 39 anos de reclusão, quinze deles
cumpridos, ela se prepara dentro da cadeia, onde apresenta boa conduta e
trabalha — assim, pode conseguir progredir para o regime aberto até 2020, na
hipótese mais otimista. Estuda a Bíblia e frequenta os cultos evangélicos
semanais. Para se tornar missionária de fato, Suzane deverá fazer um curso
básico de ao menos um ano promovido pelo Instituto Teológico Quadrangular e se
submeter a uma prova final.
O pastor Vieira sugeriu a ela que realizasse
o programa por correspondência. As apostilas seriam encaminhadas à
penitenciária. Na sequência, teria de passar por uma entrevista com uma
liderança da igreja para atestar sua capacitação. “Nessa etapa, sentimos a
espiritualidade e a verdade do candidato, então nenhum ator consegue nos
enganar”, garante o pastor Davi Rodrigues, membro do Conselho Nacional de
Diretores da Quadrangular.
Depois disso, ela participaria de uma
convenção para ser nomeada missionária. “Toda pessoa tem direito a uma segunda
chance, se estiver mesmo arrependida”, completa ele, referindo-se a Suzane.
Fonte: Veja
Nenhum comentário:
Postar um comentário