Juiz Sergio Mora mudou de opinião após se tornar
ministro ao falar de caixa dois
A cruzada de Sergio Moro pelo combate à
corrupção começou a enfrentar obstáculos desde que ele deixou a toga de juiz e
foi nomeado ministro da Justiça e Segurança Pública pelo presidente Jair
Bolsonaro. Em um passado recente, o juiz curitibano fora celebrado durante as
manifestações contra a corrupção. O Super Moro estampava camisetas e bonecos
nas ruas e, enquanto a personificação da Operação Lava Jato, fazia palestras e
dava entrevistas condenando veemente crimes como o caixa dois. "É uma
trapaça", dizia, sobre essa prática.
Mas agora, à frente do Palácio da Justiça, o
ministro mudou seu discurso. Ao apresentar seu pacote de medidas para combater
os crimes de corrupção –bandeira que elegeu Bolsonaro–, teve de fatiar em três
partes o plano e deixar em separado a proposta que criminaliza a mesma prática
de caixa dois condenada no passado porque "vieram reclamações" dos
políticos. "Alguns políticos se sentiram incomodados de isso [crime de
caixa dois] ser tratado junto com corrupção e crime organizado. Fomos
sensíveis", disse o ministro. O Governo sabe que, do contrário, o pacote
não seria aprovado. Além disso, ao anunciar o fatiamento, o ministro ainda
atenuou a gravidade desse crime, afirmando que "caixa dois não é corrupção".
Siga a cronologia da mudança de opinião do
ministro:
Agosto de 2016: Caixa dois é “trapaça”
“Eu particularmente sou favorável a essa
criminalização [de caixa dois]. Tenho uma posição muito clara: eu acho que o
caixa dois muitas vezes é visto como um ilícito menor, mas é trapaça em uma
eleição”.
Abril de 2017: "Caixa dois é crime contra
a democracia"
“Tem que se falar a verdade, caixa dois nas
eleições é trapaça, é crime contra a democracia”.
Novembro de 2018, sobre caixa dois de Onyx
Lorenzoni
“Ele foi um dos poucos deputados que defendeu a
aprovação do projeto das 10 Medidas [contra a corrupção] mesmo sofrendo ataques
severos da parte dos seus colegas. Quanto a esse episódio do passado, ele mesmo
admitiu seus erros e pediu desculpas e tomou as providências para repará-lo”,
amenizou Sérgio Moro, no final do ano passado, quando já havia sido anunciado
para compor o novo Governo.
Fevereiro de 2019: "Caixa dois não é
corrupção"
"Não, caixa dois não é corrupção. Existe o
crime de corrupção e existe o crime de caixa dois. Os dois crimes são graves.
Aí é uma questão técnica". Pressionado pelos parlamentares, Moro fatiou
seu projeto, como amenizou o discurso sobre o caixa dois.
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