Declarações foram dadas durante um seminário
sobre as mulheres na Justiça, realizado na Embaixada da França, em Brasília
A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF),
ministra Cármen Lúcia, afirmou hoje (26) que o fato de ocupar a chefia de um
dos poderes da República não passa de um dado "circunstancial" num
país cuja sociedade permanece em grande medida "patrimonialista, machista
e muito preconceituosa com a mulher".
As declarações foram dadas durante um
seminário sobre as mulheres na Justiça, realizado na Embaixada da França, em
Brasília. Compunham a mesa a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, e a
advogada-geral da União, ministra Grace Mendonça.
Cármen Lúcia respondeu a uma felicitação do
embaixador da França, Michel Miraillet, que destacou que o Brasil é um dos
poucos países com mulheres ocupando quatro cargos de cúpula no Judiciário. Além
das três que compunham a mesa, ele contou ainda a presidente do Superior
Tribunal de Justiça (STJ), ministra Laurita Vaz.
A presidente do STF ressaltou que a presença
de mulheres na cúpula do Judiciário pouco teria significado para além de uma
coincidência histórica numa sociedade "que não se acostumou que o nome
autoridade não se declina, não tem sexo". Ela revelou já ter sido barrada,
por exemplo, de entrar na casa de amigos por funcionários que esperavam por um
homem, jamais imaginando a possibilidade de que a presidente do Supremo fosse
uma mulher.
A ministra lembrou que a presença de mulheres
na cúpula do Judiciário brasileiro não se reflete nos números do Judiciário,
que tem muito menos juízas e procuradoras mulheres do que homens. Tampouco,
disse, se reflete na representação política, ressaltando a baixa presença
feminina no Congresso.
Cármen Lúcia, Grace Mendonça e Raquel Dodge
foram unânimes em destacar a imposição de uma vida quase "monástica"
às mulheres que almejem cargos de liderança. De acordo com elas, há um
constrangimento constante da sociedade brasileira para que a mulher priorize as
relações afetivas e a família, acima da própria realização pessoal, o que não
ocorre, nem de perto, em relação aos homens.
"O simples querer feminino é encarado
como uma forma de ousadia", disse Grace Mendonça. "Ainda que ocupando
um cargo que tenha uma percepção de autoridade, ainda somos vistas, sim, com
estranheza".
Em sua fala, Cármen Lúcia fez questão de
destacar que a face mais grave desse constrangimento social em relação à mulher
se expressa no feminicídio.
"Continua havendo mulheres mortas, e não
apenas pelos companheiros , mortas por uma sociedade que não vê que a mulher
não é a causadora do feminicídio, que é um homicídio causado somente por ela
ser mulher", disse.
Edição: Fernando Fraga Agênncia Brasil
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