Lula critica Dilma em privado como se não
tivesse nada a ver com coisa nenhuma.
A próxima sucessão presidencial ainda é uma
folha distante no calendário. Porém, se tivéssemos de preparar uma lista com
previsões para 2018, uma boa aposta seria a de que o retrato de Lula estará na
urna eletrônica. Dito isso, é preciso registrar: Lula é hoje uma pessoa
atormentada pela dúvida. Ele já se deu conta de que o êxito do seu projeto de
retorno depende da má memória do Brasil.
O que houve com Lula?, perguntam-se aliados e
adversários. O que explica suas hesitações diante do governo do PT justamente
no momento em que Dilma Rousseff mais precisa dele? Parece complicado. Mas a
resposta é simples: Lula sempre se jactou de ter um destino. Não imaginou que
algumas de suas decisões fariam dele uma fatalidade.
Lula critica Dilma em privado como se não
tivesse nada a ver com coisa nenhuma. Na verdade, boa parte do desgaste que
consome o prestígio da criatura decorre de opções feitas pelo criador.
Presidente, Lula viu muita esmola. Depois, jurou que nem desconfiou que o
mensalão tornara o PT uma máquina coletora de fundos. Ao levar a Petrobras ao
balcão, Lula fez jorrar propinas sobre uma engrenagem viciada.
De resto, a decepção da plateia com a inepcia
de Dilma no trato com as coisas do expediente é potencializada pelo roteiro de
fábula inventado por Lula. Nele, a supergerente foi às urnas de 2010 como
exemplo. Considerando-se os resultados, falta descobrir de quê. Mesmo
arrastando a sucessora como uma bola de ferro, Lula deve concorrer em 2018 por
três razões:
1. O PT não dispõe de candidatos
alternativos. Adepto da teoria da palmeira solitária, Lula não permitiu que
florescessem outras lideranças no gramado.
2. Dependendo do tamanho do estrago, os 16
anos ininterruptos de poder ameaçarão o império da estrela vermelha. E são
tantas as posições e interesse$ a defender que Lula será empurrado para o
ringue.
3. No Brasil, o passado costuma ser esquecido
ou reciclado, como o lixo. O eleitor é bom com os candidatos. Nem sempre cobra
suas barbaridades. Não é que o eleitorado não tenha memória. O que lhe falta é
um mínimo de curiosidade.
Por Josias de Souza
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