Moro defendeu celeridade nas investigações da
Lava Jato para que sejam evitadas as práticas de "obstrução" da
Justiça, como costuma ocorrer quando há nomes de políticos e empresários
importantes envolvidos
O juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação
Lava Jato, disse hoje (6), em uma palestra nos Estados Unidos, que as
investigações que vêm sendo realizadas no Brasil contra a corrupção no meio
político e empresarial possibilitarão o fortalecimento das instituições e
reforçarão na sociedade a aversão contra o comportamento de pessoas públicas
que descumprem a lei. Moro atribuiu os boatos espalhados na internet de que
seria um agente da CIA (órgão de inteligência do governo norte-americano) a uma
"teoria da conspiração", que busca tirar do centro do debate político
os efeitos positivos das investigações.
Em uma conferência na Universidade de
Columbia, em Nova York, Moro fez uma análise de toda a trajetória da operação,
desde o seu início, em 2014. A palestra de Moro teve uma pequeno atraso de 12
minutos em razão de protestos de pessoas que levaram cartazes e gritaram
palavras contra o comportamento do juiz na condução da Lava Jato. Para os
manifestantes, Moro tem atuado sem a imparcialidade que se exige dos
juízes. O seminário é promovido pela
Universidade de Columbia e pela New School for Social Research. Amanhã (7), no
mesmo evento, haverá uma palestra da presidente do Supremo Tribunal Federal
(STF), Cármen Lúcia.
Em sua fala, Moro defendeu celeridade nas
investigações da Lava Jato para que sejam evitadas as práticas de
"obstrução" da Justiça, como costuma ocorrer quando há nomes de
políticos e empresários importantes envolvidos. Dirigindo-se ao público
presente , ele disse que quem vive nos Estados Unidos não tem ideia do número
de processos em andamento. "É além da imaginação", disse Moro. Ele
arescentou que o excesso de casos acaba permitindo manobras obstrutivas.
"É uma história sem fim."
O juiz lembrou que a Lava Jato enfrentou, ao
longo de seu trabalho, alguns contratempos, entre os quais a morte do ministro
Teori Zavascki, responsável pela processos da operação no Supremo Tribunal
Federal (STF). Moro disse que Teori era profundamente comprometido com a
celeridade dos processos e que esperar que o novo relator, Edson Fachin, dê
continuidade a esse trabalho.
Doença tropical
Moro afirmou que a corrupção, às vezes, se
assemelha a uma "doença tropical", mas destacou que, no caso do
Brasil, felizmente o combate aos desvios de políticos e empresários está
mostrando à sociedade que é possível superar o problema.
O juiz também considerou infundadas as
críticas segundo as quais a Lava Jato tem prejudicado a economia brasileira por
envolver grandes empresas que geram investimentos e empregos. Ele disse que, se
os investimentos forem planejados com essa noção de que não há corrupção, os
recursos provenientes dos lucros das empresas vão ser dirigidos "para
combater a miséria", e não para o pagamento de propinas.
Críticas
O juiz rebateu também comentários de que a
Lavo Jato não tem a imparcialidade necessária a uma investigação judicial.
"Isso não é certo", afirmou. Ele reconheceu que, em alguns casos,
integrantes da equipe de investigação vão além do esperado, mas disse que os
exageros não chegam a comprometer o resultado da operação. "Os crimes
estão expostos, e os procuradores e [integrantes do] Judiciário são
sérios".
Ao ser indagado por uma participante sobre os
constantes vazamentos da Lava Jato, Moro disse que "é muito difícil"
saber a origem da informação quando ela sai do controle da investigação.
"É muito difícil saber quem vazou para a imprensa", disse.
Questionado ainda sobre por que aparece em imagens ao lado de políticos que
estão sendo investigados na Lava Jato, como o caso do senador Aécio Neves
(PSDB-MG), Moro disse que as fotos divulgadas se referem a um evento público em
que, por acaso, os políticos investigados também participavam.
Edição: Amanda Cieglinski
Nenhum comentário:
Postar um comentário