Governadora
do RN assumi que a tendência do democrata é ser extinto.
Rosalba
Ciarlini é um espécime em extinção em seu partido, o DEM. Enquanto o PT tem
quatro governadores de estado, o PSDB cinco e o PMDB sete, o DEM tem apenas um,
no caso, Rosalba. Até 2010 ela tinha a companhia de Raimundo Colombo,
governador de Santa Catarina. Mas, em 2011, Colombo seguiu como vários companheiros
para outro hábitat, o PSD.
Agora,
a espécie dos governadores corre risco de extinção no hábitat do DEM. Na semana
passada, em uma reunião em Natal comandada pelo senador José Agripino Maia,
ficou decidido que Rosalba não será candidata à reeleição. Confira a
entrevista:
ÉPOCA
– Qual é a importância para o DEM da sua não-candidatura? A senhora é a única
governadora do partido.
Rosalba
– Eu acho que você tem de perguntar a eles.
ÉPOCA
– Mas qual a opinião da senhora?
Rosalba
– Só tínhamos dois (governadores). Perdemos um. A única que ficou está sem
condições de colocar seu nome. O DEM tende a sumir.
ÉPOCA
– Com a decisão de impedir a sua reeleição, o DEM está se apequenando?
Rosalba
– Eu acho que, na realidade, era para estarmos lutando para termos mais
governadores, como se luta para ter mais prefeitos, que são a base das
eleições. Tendo mais governador cresce também a bancada. Muita coisa eu não
posso responder por eles.
ÉPOCA
– Como foi a reunião da semana passada? A senhora já percebeu um clima
desfavorável?
Rosalba
– Já percebi, porque na realidade o diretório vem de longas datas, ele (o
senador José Agripino Maia) é o presidente do partido, sempre foi. Então, é
claro que não tem se renovado muito o diretório. Teve votos nulos, votos em
branco, teve abstenções – poucas, mas teve. Então, não havia unanimidade.
ÉPOCA
– A votação foi aberta?
Rosalba
– Não, foi secreta.
ÉPOCA
– O senador Agripino Maia fez algum tipo de consideração?
Rosalba
– Não, foi só isso. Ele encaminhou mostrando a necessidade de o partido crescer
suas bancadas e, para isso, não poderia ficar só (na disputa eleitoral); que o
governo até então não tinha montado uma arco de alianças. Eu ponderei que, para
você montar um arco de alianças, você precisa que as lideranças do partido
ajudem.
ÉPOCA
– A senhora está desapontada com ele?
Rosalba
– Eu preferia não fazer nenhuma observação.
ÉPOCA
– Por que?
Rosalba
– (silêncio) Deixa… Eu estou refletindo.
ÉPOCA
– A senhora conversa com o senador Agripino sobre sua situação?
Rosalba
– Somos do mesmo estado e o conheço há mais de 50 anos. Frequenta a minha casa
e nos tratamos muito bem. Sempre houve confiança de ambas as partes. Durante
todo esse período, fui tentada a trocar de partido e isso poderia até ter sido
mais promissor para mim politicamente. Mas eu não mudei porque Agripino era o
presidente do partido e me mantive no DEM por uma questão de lealdade e
respeito a ele.
ÉPOCA
– Quais partidos a convidaram para que deixasse o DEM?
Rosalba
– Tive convite do PSD, PROS, PTB, PP e de partidos menores. Qual é o partido do
Marcelo Crivella? PRB. Tive convite do PRB. Mas fiquei no DEM.
ÉPOCA
– Mas o que Agripino disse à senhora recentemente?
Rosalba
– Há duas semanas estive com Agripino na casa dele em Natal. Ele disse que se
eu tivesse condições eleitorais, poderia tentar. Mas qual seria o problema se
eu me candidatasse? Tem candidato que entrou derrotado numa eleição e acabou
eleito; e outros que entraram eleitos e saíram derrotados. Uma vez um candidato
foi dormir achando que tinha ganhado a eleição em Natal. No outro dia descobriu
ter perdido para Aldo Tinoco, um sanitarista que não era muito conhecido. O
candidato derrotado foi (o presidente da Câmara) Henrique (Alves) e o povo lá
em Natal comenta muito sobre isso. Mas voltando, se eu me candidatasse, o que
poderia acontecer? Eu poderia não chegar ao segundo turno. Mas ainda assim o
partido seria o fiel da balança no segundo turno e sairíamos ainda mais
valorizados. Mas a preocupação era sempre com as eleições para deputados e
senador porque não poderia ir só o Democratas. Eu disse que garantiria dois
partidos (na aliança) e com chance de angariar o apoio de outros. Mas eu disse
a Agripino que precisava de um aceno de que eu seria candidata, porque não
posso propor aliança sem saber se vou ser candidata. Aí ele disse que faríamos
uma reunião para ouvir o diretório.
ÉPOCA
– Mas quais foram as condições impostas por Agripino para que pudesse apoiá-la?
Rosalba
– Ele apontou com clareza as minhas dificuldades. Disse que eu precisava dessas
alianças. Também se mostrou preocupado com uma questão jurídica no Tribunal
Superior Eleitoral que pede minha inelegibilidade. Mas estou tranquila quanto a
isso. No meu caso só cabe uma multa, não a inelegibilidade. O processo fala na
chegada de um equipamento a uma semana antes da eleição. Mas eu não estive
nesse local da entrega do equipamento e a presidente da comunidade beneficiada
disse que eu não estava lá e que ninguém pediu voto.
ÉPOCA
– O que a senhora pediu na reunião de segunda-feira?
Rosalba
– Pedi que aguardássemos até a convenção do partido para eu ter tempo de
costurar as alianças. Historicamente nenhum governador, por mais desgaste que
teve, chega a uma eleição com menos de 25% – e eu já estava chegando perto,
mesmo sem ser candidata. Aliás, se estou tão desgastada, por que todos têm
tanto medo de me enfrentar? O partido cria todo tipo de dificuldade para eu ser
candidata. É uma coisa incrível. Depois da reunião os jornais deram destaque
que o partido tinha negado a legenda para a minha candidatura. Apesar de não
ser oficial, pois o assunto deve ser tratado na convenção, isso dificultou a
minha situação ainda mais.
ÉPOCA
– E o que aconteceu?
Rosalba
– O que me surpreendeu é que o meu apelo não foi levado em consideração. Só que
na reunião só se falou sobre eleição proporcional (deputados e senador). Quando
isso aconteceu, percebi que se tratava de uma cassação branca. Deixei a reunião
para não parecer que estava aceitando aquilo. Fui acompanhada de algumas
pessoas. Dizem que dar atenção às eleições proporcionais é uma decisão nacional
do DEM com o objetivo de o partido crescer. Acho importante essa preocupação
com as eleições proporcionais. Mas fica mais fácil tendo um candidato
majoritário. Esse é o meu pensamento. Se na convenção eu percebesse que não
teria condições, desistiria. Mas o partido chegou a antecipar as convenções.
Época
– Quando será a convenção do DEM no Rio Grande do Norte?
Rosalba
– Vai ser no dia 15, quando todas serão depois do dia 25. Mal começou a Copa…
Era (para ser no dia) 13, é porque já gritaram lá que é o dia do primeiro jogo
(da Copa) em Natal! Então, (foi) tudo montado. Assim, pareceu uma coisa muito…
como se diz: não quer, não quer, não quer.
ÉPOCA
– O governo da senhora tem sido mal avaliado. Numa pesquisa a senhora ficou na
pior posição entre os 27 governadores.
Rosalba
– Não digo que vou ganhar a eleição. Mas o nosso partido tinha chance de
disputar a eleição. Minha candidatura levaria a eleição no Rio Grande do Norte
para o segundo turno. Eu teria a oportunidade de esclarecer muita coisa sobre o
meu governo.
ÉPOCA
– Como a avaliação do seu governo chegou a esse nível? Isso foi levado em conta
na reunião?
Rosalba
– Não, isso não (foi levado em conta). Até porque eles sabem que isso (a
avaliação do governo) vem melhorando. O governo que eu peguei, como eu disse,
estava falido. Os hospitais eram o caos do caos. Com toda essa loucura, nós
fizemos mutirão de cirurgias para acabar com as filas e acabamos em muitos
lugares, aumentamos 88 leitos de UTI, 140 leitos de retaguarda. (o Rio Grande
do Norte) É o estado que tem a maior cobertura de SAMU. Nós temos SAMU em todo
estado: toda cidade com mais de 20.000 habitantes tem SAMU. Nós avançamos na
oncologia, acabamos com a fila, hematologia está funcionando bem, voltamos a
fazer até transplante de fígado que tinha parado. Nada é perfeito, tem muito a
fazer, mas já melhorou muito. O aeroporto saiu do papel. Mérito da governadora?
Luta da governadora, porque não descansei um só segundo. Teve a presença da
nossa bancada? Teve e o compromisso da presidenta Dilma, mas ele vinha se
arrastando há 17 anos.
ÉPOCA
– Quando a senhora teve sinais de que o PMDB, que apoiava seu governo, não a
apoiaria num projeto de reeleição?
Rosalba
– Teve um determinado momento em que o PMDB, que chegou a ocupar sete
secretarias, deixou o governo. Naquele momento, o PMDB já dizia que queria uma
candidatura própria. Começamos a ver entrevistas. Havia sinalizações de que ele
estava formando um acordo muito grande, inclusive com partidos que têm
ideologias diferentes. A candidata dele ao Senado (Wilma Faria) é do partido do
Eduardo Campos (PSB). Henrique Alves dizia que apoiava a (presidente) Dilma
(Rousseff). Já outros partidos desse acordão querem apoiar o (senador) Aécio
(Neves, candidato pelo PSDB).
ÉPOCA
– Qual a vantagem do DEM em apoiar Henrique Alves?
Rosalba
– Olha, sinceramente, eu não sei. As bases no interior reagem muito porque
sempre foram partidos historicamente, adversários. Isso aí só quem pode
responder é quem… Eu não discuti isso, né?
ÉPOCA
– A senhora temeria confronto com Henrique Alves?
Rosalba
– Não temeria confronto eleitoral com ninguém, porque era uma boa oportunidade
para esclarecer muita coisa. Quem for governador do Rio Grande do Norte agora,
vai encontrar um Rio Grande do Norte melhor. Nós ficamos entre os três estados,
dito pelo próprio Tesouro, que fizemos o melhor ajuste fiscal. O Estado do Rio
Grande do Norte conseguiu com o Banco Mundial o maior programa para ser
desenvolvido da história do Rio Grande do Norte: US$ 540 milhões. Esse projeto
começou comigo, começo, meio e fim. Já está andando o programa, começou este
ano. (O estado) Nunca tinha conseguido. E conseguiu por que? Porque fez o
ajuste fiscal, tem capacidade de pagamento, de endividamento e tem projetos.
ÉPOCA
– A senhora tem um bom relacionamento com a presidente Dilma?
Rosalba
– Tenho. Relacionamento republicano.
ÉPOCA
– Ela ajudou a senhora?
Rosalba
– Sempre que procurei, ela não se negou a ajudar. Isso aí eu tenho de lhe
dizer: que a presidenta não criou nenhuma dificuldade. Por exemplo: a barragem
de Oiticica, que havia uma dificuldade, vai ser, não vai, se é com Dnocs
(Departamento Nacional de Obras de Contra às Seca), se é com o estado. Falei
com ela, na mesma hora ela ligou para a (ministra do Planejamento) Míriam
(Belchior) e mandou fazer a autorização da ordem de serviço.
ÉPOCA
– Esse bom relacionamento com a presidente causou algum tipo de constrangimento
para a senhora dentro do DEM?
Rosalba
– Saíram dizendo que eu votaria em Dilma. Eu disse, na verdade, que poderei
votar. E disse isso porque vi ações de combate à seca com as quais eu estava
plenamente de acordo. Foi uma posição em cima de algo administrativo e a
maneira republicana com a qual eu fui tratada pela presidente.
ÉPOCA
– Houve alguma reação contrária do partido a sua manifestação?
Rosalba
– Isso não deve ter agradado por eu ter elogiado tanto a presidenta Dilma. Eu
disse que se estiver certo, eu aplaudo. Se estiver errado, também vou dizer.
ÉPOCA
– Por que o DEM diminuiu tanto de tamanho?
Rosalba
– O partido está precisando fazer uma análise de tudo isso. E acompanhar o rumo
que o Brasil está tomando. É um tempo de mudanças e o DEM permaneceu muito
estático.
Nenhum comentário:
Postar um comentário