Procurador-geral
de Justiça e promotor ressaltam força das novas provas apresentadas por George
Olimpio.
A
ação da Sinal Fechado já tinha elementos suficientes para conseguir a
condenação de 28 réus. Contudo, a responsabilização do presidente da Assembleia
Legislativa, Ezequiel Ferreira do PMDB, e do ex-secretário do governo Wilma de
Faria, Delevan Gutemberg Melo, e o reforço de tudo que já havia sido apontado
antes contra os demais responsabilizados pelo esquema da inspeção veicular no
Rio Grande do Norte, só foram possíveis com a delação premiada assinada por
George Olímpio. Foi isso que o procurador-geral de justiça, Rinaldo Reis, e o
promotor Afonso de Ligório,
confirmaram.
“Com
relação aos que já estavam, aos que a denúncia já havia sido recebida, já havia
elemento de prova suficiente até para a condenação. Mas a delação de George
Olímpio foi importante até para reforçar. Por exemplo, trouxe a conversa com
Delevan, que fortalece a denúncia contra Wilma e Lauro (Maia, filho da
ex-governadora)”, explicou Rinaldo Reis, acrescentando que “para aqueles que
ainda não tinham sido denunciados, como Ezequiel, foi essencial”.
Antes
da delação de George Olimpio, o Ministério Público já tinha reunido documentos
e depoimentos (também de delação premiada) de outros réus, como Alcides Barbosa,
que confirmavam a linha da investigação. Contudo, quando George, que era
considerado o principal mentor do esquema criminoso, aceitou falar “a verdade”,
ele reforçou tudo que estava no processo e ainda entregou provas do que disse,
que ajudaram a responsabilizar Ezequiel Ferreira, Delevan e, até, o senador
José Agripino Maia, que deverá ser investigado pela Procuradoria-geral da
República.
Os
membros do Ministério Público ouvidos pelo JH também ressaltaram que a delação
de George Olimpio ainda vem em um momento muito importante do processo, que foi
quando o Habeas Corpus conseguido pela defesa do ex-governador Iberê Ferreira
(falecido no ano passado), deixou de ter validade. “Dentro desse contexto, a
delação, quando o delator se propõe a fornecer esses produtos de mídia,
sacramenta a prova, arremata o processo. Foi extremamente valioso porque foi
uma prova inquestionável. São contemporâneos dos fatos. O MP não faria a
delação se não houvesse um arsenal probatório tão consistente quanto esse”,
relembrou Afonso de Ligório.
Com
o novo depoimento de George Olímpio e mais os áudios entregues por ele, a
delação deu origem a um novo trabalho de apuração do Ministério Público, de
responsabilização de novos envolvidos e reforço das teses apresentadas. “Tivemos
que ouvir deputados, fazer perícia em documentos (como aquele que aponta a
falsificação da assinatura de Robinson Faria), novas investigações. Houve
incidentes judiciais que suspenderam, trancaram a ação. Houve uma série de
diligências que tivemos que realizar, questões judiciais e só agora pudemos dar
entrada ao processo”, relembrou Rinaldo Reis.
“Não
fomos injustos com ninguém, mas talvez tenham sido com o MP”
Com
a delação premiada de George Olímpio e, principalmente, com os áudios gravados
por ele e entregues ao Ministério Público, a investigação reforçou elementos
sobre alguns dos que eram considerados “injustiçados” do processo. O suplente
de senador, João Faustino, por exemplo, aparece em uma das gravações
divulgadas, confirmando que sabia do dinheiro doado por George a José Agripino
e do “compromisso” que o senador e o novo governo (Rosalba Ciarlini) tinham
como ele.
“O
MP sempre agiu com extrema responsabilidade. Extrema. Então, não incluiu nunca
ninguém de forma injusta. Todos os que foram incluídos como réus, havia
elementos suficientes de prova para que a gente oferecesse aquela denúncia. E
isso se refere a todos, inclusive a João Faustino. E quando é agora estão aí
essas gravações que George trouxe que vem, justamente, para reforçar isso”, garantiu
Rinaldo Reis, acrescentando que “que nós agimos com extrema responsabilidade e
não fomos injustos com ninguém. Mas, talvez, tenham sido injustos com o
Ministério Público”.
A
parte final da declaração dele é consequência do fato de que, de 2011 (quando a
Operação Sinal Fechado foi deflagrada) para cá, devido à diminuição do espaço
que ela teve na mídia, muitos disseram que teria sido apenas uma ação do MP em
busca de “holofotes”. Não se sabia, porém, que o processo enfrentou uma série
de mudanças que atrasaram seu tramite normal e, por isso, hoje, quase três anos
depois, ainda se encontra na fase de instrução.
“Como
era muitos réus, primeiro ficou difícil um juiz para julgar o processo. Vários
alegaram suspeição em seguida e cada uma demandou um tempo, foi novamente
distribuído. E, por fim, o Tribunal designou o juiz Cleanto Pantaleão. Qual a
fase processual do processo? Foi feita aquela defesa preliminar. Todos fizeram
e a instrução vai começar agora. Não existe condenação até agora”, explicou
Afonso de Ligório.
Sobre
aqueles que ainda não haviam sido denunciados, mesmo já tendo sido citados em
depoimentos, como é o caso do presidente da Assembleia Legislativa, Ezequiel
Ferreira, o procurador-geral de Justiça esclarece que não se trata de uma
“requentada” no assunto, mas sim a chegada de novas provas que, agora,
justificam o ingresso de uma denúncia.
“Não
se trata de requentar. O que ‘esquentou’ novamente essa operação o depoimento
de George Olímpio ainda em agosto do ano passado e a partir daí nós começamos a
trabalhar com as novas informações, os novos dados que foram trazidos por ele,
novos fatos, como essa questão de Ezequiel”, explicou Rinaldo Reis.
“Para
a sociedade, o que interessa é: O fato aconteceu ou não?”
Além
da desistência de magistrados de julgar a Sinal Fechado, o processo também
enfrentou outras questões jurídicas importantes, como um Habeas Corpus que
suspendeu a validade das estudas telefônicas feitas contra Iberê Ferreira. O
assunto, ainda hoje, provoca questionamentos jurídicos sobre a validade das
provas contra os réus. Principalmente, as que foram agora divulgadas após a
delação de George Olímpio.
Para
o procurador-geral de Justiça, Rinaldo Reis, essa discussão não deveria ser tão
importante quanto outra: houve ou não a prática do crime. “O fato aconteceu ou
não? Ilicitude de prova, validade de prova, isso é questão jurídica que, com
certeza, vai ser ultrapassado. Para a sociedade, o que interessa é: o fato
aconteceu ou não? E só usamos, inclusive, isso para embasar a nossa denúncia
porque temos plena consciência disso aí. Jamais utilizaríamos gravações ilegais
se fossem para denunciar qualquer pessoa”, garantiu o procurador.
Isso
não quer dizer, porém, que o MP se utilizou de provas potencialmente ilegais.
Segundo ele, não há ilegalidade no fato de George Olímpio ter gravado seus
próprios encontros, na sua casa. “Isso não tem nada de ilegal, nem significa
que você está agindo como investigador ou coisa do tipo”, garantiu.
O
problema estaria na confusão feita por alguns advogados sobre a nomenclatura
das gravações. O que precisaria de autorização judicial seriam as escutas
telefônicas ou ambientais e não essas feitas pelo próprio envolvido.
É
bem verdade que, com relação às escutas telefônicas, o MP também enfrentou
dificuldade. Um Habeas Corpus conseguido pela defesa de Iberê junto ao Tribunal
de Justiça do RN invalidou alguns dos áudios conseguidos e constantes no
processo. “O Habeas Corpus, simplesmente, excluía a prova em relação à Iberê da
interceptação telefônica e havia um risco potencial dessa tese vingar para os
outros réus do processo, o que é um absurdo completo”, relembrou o promotor Afonso
de Ligório.
Para
conseguir essa nulidade, os advogados levantaram a tese de que as escutas só
poderiam ser feitas até 15 dias depois da decisão judicial as autorizando.
Contudo, no processo, havia escutas no 17º dia após a autorização. Dessa forma,
a defesa teria “esquecido” de considerar o prazo dado para a operadora ser
notificada e começar a interceptar as ligações. “O que a lei autoriza são 15
dias de interceptação, não é da decisão”, explicou Rinaldo Reis.
Essa
nulidade foi aprovada no TJ e forçou um recurso do MP mas, antes de haver
qualquer reforma da decisão, o ex-governador Iberê faleceu e toda a parte dele
no processo foi extinta e, consequentemente, o Habeas Corpus que podia ser
estendido a outros, também.
“Não
é errado dispensar trâmite legislativo. Crime é pagar por isso”
O
problema não é agilizar a votação de uma matéria, mas sim pagar para isso. Da
mesma forma que os questionamentos não deveriam ser a validade de uma prova,
mas sim se houve ou não o ilícito. Esses foram os comentários feitos pelo
procurador-geral de justiça, Rinaldo Reis, diante do que se tem falado nos
últimos dias sobre os desdobramentos da Operação Sinal Fechado, que atingiu o
atual presidente da Assembleia Legislativa, Ezequiel Ferreira (PMDB), e o
senador e presidente nacional do Democratas, José Agripino, e, mais uma vez, a
ex-governadora e atual vice-prefeita de Natal, Wilma de Faria (PSB).
Os
comentários de Rinaldo Reis, destaca-se, vão de encontro ao que falou Ezequiel
Ferreira quando fez, na terça-feira, em um pronunciamento na Assembleia
Legislativa, na tentativa de diminuir a força da denúncia e das provas
divulgadas. “O ilícito não está na dispensa do tramite legislativo. Não há nada
de ilícito nisso, porque atende até os interesses públicos. O crime está em cobrar,
pedir, receber, qualquer valor, vantagem econômica, para intermediar o processo
legislativo lá dentro que um deputado comete”, comentou o procurador-geral de
Justiça.
“Estão
dando uma atenção a minha declaração no Fantástico onde falo que não houve a
tramitação do processo nas comissões temáticas da Casa, como se eu tivesse dito
que isso aí é o que está errado na história toda. Isso é só um detalhe de como
ele realmente vendeu e entregou. Não há nada de errado na dispensa de
tramitação normal, atende até o interesse público em muitos casos. O que houve
de errado é cobrar para fazer a defesa da lei lá dentro”, acrescentou.
No
pronunciamento, para dizer que não cometeu qualquer irregularidade, Ezequiel
Ferreira citou como exemplo o fato de que outras matérias de interesse social
também terem tido dispensa de licitação, como o empréstimo de R$ 850 milhões
que o Governo do Estado queria fazer junto ao Banco do Brasil. Além disso,
também afirmou que a mácula da denúncia atingiria toda a Casa Legislativa e ainda
previu: “hoje sou eu, amanhã pode ser qualquer um de vocês”.
Rinaldo
Reis, no entanto, tratou de tranquilizar os demais deputados. Nenhum seria
injustiçado e o que existe contra Ezequiel é uma denúncia baseada em um
depoimento e em provas. “A denúncia não é contra a Assembleia Legislativa. Não
é contra trâmite que deputados utilizam lá dentro. A denúncia é apenas contra
um deputado ou esse ilícito. Nós sabemos separar muito bem a conduta de um
deputado das práticas normais dentro da Casa”, explicou.
“Ezequiel
foi citado por George desde agosto do ano passado. Nós amadurecemos a
investigação e agora chegamos a conclusão de que há provas suficientes para
ofertar a denúncia. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. O fato dele ter
se tornado presidente da Assembleia poderia até, em tese, dificultar a
denúncia. Quando a gente oferece denúncia contra um deputado, ele sendo
presidente da Assembleia, é algo que exige ainda mais cuidado nosso. Foi uma
denúncia oferecida com extremo cuidado”, acrescentou o procurador-geral de
justiça, autor da denúncia.
AFASTAMENTO
Mas
Ezequiel Ferreira também pode ficar tranquilo com relação a uma coisa: até
haver o transitado em julgado do processo, ele não vai ser afastado de sua
função como deputado estadual, nem como presidente da Assembleia. Rinaldo Reis
negou que houvesse interesse de pedir a justiça esse afastamento.
“Por
hora a gente não cogita fazer o pedido de afastamento. O afastamento nessa fase
só pode cautelar, tem que ser para garantir o andamento do processo. Como já
temos várias provas produzidas, a gente não vê qualquer prejuízo para a
instrução do processo, não teríamos como justificar”, explicou.
“Inspeção
seria para beneficiar um esquema cheio de corruptos”
Do
mesmo jeito que o problema não seria, necessariamente, a dispensa do tramite
normal de projeto na Assembleia, a questão da Sinal Fechado não foi, também, a
inspeção veicular, mas sim a forma irregular com a qual ela foi concebida, com
“compra” de deputado e pagamento de propina a autoridades do Estado para
fraudar a licitação.
“A
gente não entraria no mérito de ser necessária ou não uma inspeção veicular.
Pode até ser que seja necessário. O que a Promotoria do Patrimônio Público usou
foi, tão somente, houve o seguinte: dentre vários outros fatos, um deputado que
solicitou uma determinada quantia para trabalhar a aprovação da lei que
implantaria a inspeção aqui. E isso é que é ilegal. A inspeção poderia ser
necessária ou não”, explicou Rinaldo Reis.
E
essa não seria a única irregularidade. O processo também estava repleto de
vícios, como pagamento de propina a autoridades políticas para a construção de
um edital que garantiria a Inspar, consórcio construído por George Olímpio,
como vencedor. Além disso, permitiria também ao grupo um lucro que chegaria a
casa do bilhão, uma vez que o dinheiro arrecadado iria para a empresa e não
para o Estado.
“O
MPRN entrou com uma representação pedindo a ilegalidade dessa lei porque ela
previa uma cobrança por tarifa e não por taxa e, como é compulsória, jamais
poderia ser assim. Teria que ser por taxa. Qual a diferença? Se cobrasse taxa,
o dinheiro iria para o cofre do Detran. Então, a alteração da lei foi para
permitir o valor cobrado como preço público, por tarifa”, afirmou o promotor
Afonso de Ligório.
Como
jamais chegou a ser implantado (tão logo o governo Rosalba Ciarlini assumiu em
2011, a licitação foi cancelada e o processo foi suspenso), a inspeção veicular
criada por George Olímpio não causou danos ao poder público. Se tivesse sido
validada, porém, a população que se preparasse para ter prejuízo.
“Não
se trata do prejuízo que os cofres públicos tiveram com o esquema. Se trata de
um enriquecimento ilícito. De uma extorsão que iriam praticar contra o povo do
RN, contra os proprietários de veículo, então, para beneficiar um esquema cheio
de corruptos. Corruptos e corruptores. Será que é possível a gente permitir que
a máquina pública sirva a esses interesses? Então não se trata de um prejuízo
ao patrimônio. Seria um prejuízo a sociedade”, afirmou Rinaldo Reis,
acrescentando que a inspeção foi “estendida por decreto a toda frota. Então,
carro zero tinha que se submeter”.
JH
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