Secretária
de Segurança Pública, Kalina Leite, fala das primeiras medidas de combate a
criminalidade no Estado.
A
falta de policiamento ostensivo é apontada por especialistas em Segurança
Pública como uma das razões da alta taxa de criminalidade no Rio Grande do
Norte. Como no texto evangélico que fala sobre o trabalhador da última hora, os
policiais norte-rio-grandeses estavam dispostos a trabalhar, faltavam-lhes as
condições. “A polícia estava ávida para estar na rua e eu tenho certeza que a
sociedade também estava querendo ver a polícia”, afirma a secretária de Segurança,
Kalina Leite.
Com
as diárias operacionais pagas, o carnaval deste ano promete ser um dos mais
seguros de todos os tempos. Cerca de 7 mil policiais estarão disponíveis para
atuarem no período, entre servidores do Instituto Técnico e Científico de
Polícia, Polícia Civil, Polícia Militar e Corpo de Bombeiros do Rio Grande do
Norte.
Em
entrevista ao Jornal de Hoje, a secretária Kalina Leite aborda o atual momento
da Segurança Pública, que sente os efeitos das primeiras medidas adotadas,
apontando efetivamente para uma nova mentalidade no setor.
“O
sistema de segurança foi um clamor da população durante muito tempo e eu diria
que está há algum tempo em degradação. As primeiras medidas do atual governo
passam necessariamente pelo resgate da valorização do policial, que há muito
tempo vinha sendo tratado em segundo plano. Outra preocupação nossa é resgatar
a credibilidade e fazer um chamamento da sociedade para valorizar o serviço
policial. A polícia estava ávida para estar na rua e eu tenho certeza que a
sociedade também estava querendo ver a polícia”, diz a secretária Kalina, que é
delegada de Polícia Civil.
Apesar
do incentivo aos recursos humanos, a infra-estrutura ainda é o maior problema.
“Se em 40 dias a gente conseguiu evoluir em alguns pontos, decrescer alguns
índices também, por outro lado a estrutura física das polícias em geral, de
todo o sistema do ITEP, Corpo de Bombeiro, Policia Civil e Militar, é muito
precária”, afirma. “São prédios absolutamente estragados, corroídos pelo
tempo”, completa.
É
necessário, ainda, aproveitar os surtos de desenvolvimento. No tocante à
tecnologia da informação, a Copa do Mundo trouxe um legado importante, mas que
ainda é subutilizado. “A questão de recursos humanos é notadamente a
preocupação número um. Em verdade, são muitas frentes que nós temos que
enfrentar. Mas o que me impressiona no servidor policial é a capacidade de ele
se refazer a cada dia. A resposta está aí. A polícia na rua, alguns índices
decrescendo, mas são muitos desafios”, diz.
Abaixo,
veja os primeiras trechos da entrevista de Kalina Leite aO Jornal de Hoje:
“A
polícia na rua inibe a criminalidade e espero que tenhamos um carnaval de paz”
CAPACITAÇÃO
“A
capacitação é fundamental. Eu sou há 15 anos policial e teve uma época na
polícia em que todos os dias havia curso nas academias. Tínhamos turmas se
capacitando. Num passado de 10 anos era assim. Mas infelizmente não tem sido
mais assim. Então nós queremos resgatar isso porque a qualificação até a
aproximação da turma de uma policial com outra, trocando conhecimento, é
salutar para a atividade. Além disso, os investimentos na área de inteligência
são muito importantes. Temos alguns convênios que precisam urgentemente ser
tocados, que estavam aguardando, não sei por quê, o momento propício. Mas agora
nós estamos atualizando todos os termos de referências, todas as pesquisas
mercadológicas, para darmos início à aquisição de alguns equipamentos”.
ITEP
“O
ITEP inspira cuidados, sim. O quadro do ITEP é preocupante em todos os
sentidos. A estrutura física não precisa falar porque muita gente conhece. A
questão de recursos humanos, que muitas vezes a sociedade não tem conhecimento,
é de extrema preocupação. Dos 500 e poucos servidores que temos no ITEP, apenas
100 são servidores do quadro, todo o restante, 400 outros servidores, são
cedidos ou redistribuídos de outras atividades. Ou seja, esses servidores
ingressaram no ITEP para a atividade fim que é o médico legista, o perito
criminal. Então hoje atravessamos notadamente a questão de perito criminal e de
médico legista uma situação extremamente preocupante. Não temos hoje médicos e
peritos para completar a escala de Natal, de Caicó, Mossoró. Então a gente vai
ter que congregar esforços juntos com o Ministério Público, Poder Judiciário,
Tribunal de Contas, para encontrar realmente uma saída. Porque é um caso
inclusive de saúde pública, porque se tem algum corpo no chão que precisa ser
levado para o ITEP precisa de um médico legista para fazer o seu trabalho e não
ter isso gera um dano, não só uma lesão aos diretos humanos, mas um dano
tremendo a população”.
HOMICÍDIOS
“A
Divisão de Homicídios é uma preocupação. Todos os outros índices, outros tipos
criminais, os números estão baixando, mas o crime de homicídio é um crime
complexo. Não se faz segurança pública sozinha, só polícia, a gente precisa de
informação. É importante também esse momento para avisar a população que
denuncie. A polícia sobrevive também de informação e está na pauta de
prioridade a Divisão de Homicídios. Temos uma deficiência muito grande na
Polícia Civil e um déficit de 70% no efetivo. Contamos hoje apenas com 30% do
efetivo previsto em 2004. Mas os policiais civis estão demonstrando boa vontade
e têm prendido todos os dias e a delegacia de homicídios já foi um avanço e já
se esclarece casos de homicídios. Provavelmente nós caminharemos para a Divisão
de Homicídios aqui no Estado.
DIÁRIAS
“O
pagamento das diárias demonstra a seriedade que o governo tem tratado o sistema
de segurança. É importante porque o policial estava necessitando desse resgate
da credibilidade do próprio poder público. O inusitado é que, no passado, essas
diárias operacionais eram só para a capital, no máximo para a Região
Metropolitana. O governador, num ato de preocupação com o interior do Estado,
estendeu as diárias operacionais também para os batalhões do interior. O que eu
tenho ouvido é que isso tem um significado muito grande para o interior, porque
o policial também está mais presente, nas ruas e no interior. Isso demonstra
como que o governo trata e vai tratar a Segurança Pública nos próximos dias. É
importante que se diga que polícia sozinha não consegue combater o crime, passa
necessariamente por ações de prevenção, por envolvimento da sociedade, pelos
municípios. É uma realidade que hoje todos os municípios pequenos estão
participando. É importante que o município de Natal também participe de ações
integradas de Segurança Pública. A grande diferença de Bogotá e Medellín,
cidades exemplo de segurança citadas pelo governador, é que lá o município
resolveu também entrar nessa luta que o sistema de segurança trava”.
ENFRENTAMENTO
“Em
primeiro plano, ocupando os espaços onde tem mancha criminal mais evidente.
Então urbanizando, iluminando, fazendo ações de prevenção junto com o Estado,
inclusive. Mas é comprovado que, por exemplo, numa rua iluminada, numa rua
saneada, a mancha criminal é mais leve. No nosso recurso tecnológico
identificamos as manchas criminais. É impressionante quando a gente faz o zoom
para identificar que rua é aquela e que o policial vai lá onde tem maior número
de homicídios. O maior número de crimes são nas ruas que realmente necessitam
da presença do Poder Público”.
CARNAVAL
“São
ações integradas de todo o sistema de Segurança. Vão estar presente ITEP,
Polícia Civil, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros. Estamos utilizando as
ferramentas que o sistema dispõe, como a plataforma de observação, a delegacia
móvel. Perspectivas são boas. A presença da polícia na rua inibe a
criminalidade e que tenhamos um carnaval de paz, de tranquilidade. O Brasil não
atravessa um momento muito propício para tantos festejos, a gente tem visto nos
municípios, tem sido minorizada a essa questão da festividade com banda. Eu
acredito que isso também repercute diretamente à medida que as festas são
menores, repercutem diretamente no sistema de segurança também”.
REDUÇÃO
“Nós
diminuímos roubo em 20%, furto em 10% e lesão corporal em 16% nos trinta dias
de gestão em janeiro. Isso se deve sim ao policiamento ostensivo. Nos próximos
meses nós vamos continuar intensificando o policiamento, clamar mais uma vez à
sociedade que participe, que elogie o policial quando encontra o policial na
rua. Ele gosta de ser valorizado, de ser reconhecido, de ser dito que é bacana
que a polícia está aí perto da gente e incrementar a investigação criminal no
que diz respeito ao homicídio, que foi o único índice que não cresceu, porém
permaneceu. Então é importante que haja denúncia. A Secretaria de Segurança
garante o sigilo da informação”.
RONDA
“Nos
próximos dias vamos desenvolver ações no planejamento, com a polícia de
proximidade, da Ronda Cidadã como o governador anunciou. Estamos planejando
para implementar. Foi designado um oficial para tratar diretamente com a
comunidade. Eu não gosto de estabelecer prazo porque são muitos enfrentamentos
por trás de todo esse serviço público que a população ver. Precisa de uma
demanda muito grande de serviço interno. Por exemplo, eu tenho uma preocupação
tremenda com a quantidade de recursos que nós temos para tocar nesses quatro
anos, convênios, a quantidade de prefeitos que procuram a Secretaria de
Segurança Pública é muito grande”.
Jornal de Hoje
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