A primeira medalha de ouro do Brasil nos
Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro é de uma carioca, nascida em uma favela e que
começou a lutar em um projeto social. Rafaela Silva é a nova campeã dos leves
(57kg) do judô, após bater a mongol Sumiya Dorjsuren, atual líder do ranking
mundial, nesta segunda (08).
"Treinei muito depois de Londres porque
não queria repetir o sofrimento. Depois da minha derrota, muita gente me
criticou, disse que eu era uma vergonha para minha família, para meu país. E
agora sou campeã olímpica", disse Rafaela logo depois da luta. "Em
2014 eu estava desacreditada, mas agora eu vim e treinei o máximo que eu podia
e meu resultado veio através dos meus treinamentos. O ginásio chegava a tremer
e eu consegui contribuir", complementou.
O técnico da brasileira, Mário Tsutsui disse
que a luta mais difícil foi a da semifinal. "A luta mais difícil foi
contra a romena, pelo Golden score, mas quando ela passou a romena e vimos a
mongol ganhando, ficamos confiantes e sabíamos que ela tinha uma chance muito
grande de ganhar a medalha de ouro”, comentou.
Com sua família e amigos nas arquibancadas,
Rafaela cresceu com a vibração do público e reverteu um histórico incomodo: em
cinco lutas contra a asiática, tinha vencido apenas uma vez, no ano passado.
Na Arena Carioca 2, Rafaela Silva venceu a
mongol com um wazari e levou a luta até o final atacando e até mesmo deixando
de atacar algumas vezes, o que rendeu duas penalidades, aumentando ainda mais a
tensão.
A história da campeã olímpica
Aos seis anos, Rafaela saiu da Cidade de
Deus, a comunidade carente e violenta que ficou famosa com o filme homônimo de
Fernando Meireles, para se tornar a melhor judoca que o Brasil já teve. Em
2013, ela foi campeã mundial, também em sua casa, no Rio de Janeiro. Nenhum
outro judoca do país tem títulos olímpicos e mundiais. Sarah Menezes, Aurélio
Miguel e Rogério Sampaio têm ouros olímpicos, mas nunca venceram Mundiais. João
Derly (duas vezes), Tiago Camilo, Luciano Correa e Mayra Aguiar tem o Mundial,
mas não o ouro olímpico.
A história da judoca começou em uma academia
montada em sua rua, quando tinha cinco anos e seus pais buscavam uma atividade
para acalmar a menina brigona. O destino fez com que Geraldo Bernardes, o
técnico de Flavio Canto, medalhista de bronze dos Jogos de Atenas-2004, se
interesse pela garota. Ela foi treinar no Instituto Reação, que Bernardes e
Canto criaram para ensinar judô em comunidades carentes.
Em 2008 o trabalho já dava resultado, com o
título mundial sub-20. Em 2009, foi a melhor brasileira no Mundial de Roterdã,
com um quinto lugar. Em Londres-2012, porém, ela quase deixou o esporte.
Eliminada por tentar um golpe ilegal, ela foi bombardeada com mensagens
racistas em redes sociais. Reagiu. Quando chegou no Brasil, queria abandonar o
esporte.
A família, Bernardes, Canto e uma psicóloga
não deixaram. No ano seguinte, ela já era campeã mundial e líder do ranking da
Federação Internacional de Judô. Nos últimos três anos, subiu ao pódio em quase
todos os torneios que disputou. A primeira medalha do judô na Rio-2016 não
poderia vir de uma candidata melhor.
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