Direção
confirma que greve da Unicat contribui para desabastecimento do Walfredo Gurgel.
A
greve na Unidade Central de Agentes Terapêuticos (Unicat) completou um mês
nesta quarta-feira (08) e o desabastecimento dela já superou os 56%, de acordo
com o Sindicato dos Servidores da Saúde do Rio Grande do Norte.
Somente
nesta semana, 272 medicamentos, dos 484 que são distribuídos para hospitais e
população, e outros 26 de alto custo estavam em falta. O problema está afetando
ainda o funcionamento do Hospital Walfredo Gurgel, onde faltam desde luvas e
gases para curativos até papel para impressões.
Segundo
a diretora geral, Fátima Pereira, a greve da Unicat tem atrapalhado bastante o
dia a dia do Walfredo, porque a unidade é responsável pela compra da maioria
dos medicamentos usados nos atendimentos diários do maior pronto-socorro do
Estado.
Ela
disse que muitos estudantes e até as próprias universidades que mantém alunos
residentes no hospital tem ajudado com máscaras e luvas, que são equipamentos
de proteção individual necessários para o trabalho diário. Até mesmo o papel
usado durante o expediente tem sido doado.
“Vamos
nos virando como dá, da forma que podemos. Todos os dias faltam coisas
diferentes, como medicamentos em geral, mas não tenho como dizer qual está em
falta hoje porque isso é muito variável. Por exemplo, hoje falta dipirona, mas
corremos atrás e conseguimos comprar, aí amanhã falta morfina, fazemos tudo de
novo e conseguimos a morfina. E assim vai. Falta uma coisa, e quando
conseguimos essa, falta outra, é um ciclo. Também temos comunicação com outros
hospitais e pedimos apoio, fazemos trocas de medicamentos e substituição
também, sempre que possível”, explicou.
Ela
afirmou que o hospital conta com uma verba mensal vinda do Ministério da Saúde,
o que seria mais uma tábua de salvação para o hospital e que a proximidade com
a mudança de gestão estadual está sendo determinantes para o desabastecimento
do Walfredo Gurgel. “Com a proximidade do final de ano e da mudança de gestão,
também sofremos com represália dos fornecedores, porque eles têm medo de
entregar os insumos e não receber o dinheiro equivalente do novo governo. Esse
é outro motivo do desabastecimento do hospital”, disse.
Atendimentos
de baixa complexidade atrapalham
A
superlotação e os atendimentos de baixa complexidade realizados pelo Walfredo
Gurgel também são apontados pela diretora Fátima Pereira como fatores que
contribuem para o desabastecimento do hospital, por consumirem parte importante
dos insumos e medicamentos existentes na unidade. E que o problema é recorrente
em toda a rede estadual de saúde.
“O
Estado todo está passando por dificuldades e todos os hospitais estão com
variados graus de dificuldades, dependendo da demanda de pacientes atendidos
diariamente. O Walfredo é vitrine, então, quando nada funciona lá fora, os
pacientes vêm para cá. Ou seja, nós estamos sofrendo um certo grau de
desabastecimento por causa da superlotação e eu queria apelar até para os
hospitais do interior e municípios para que sejam cautelosos ao enviar
pacientes”, falou.
Segundo
ela, muitos pacientes vindos de outros municípios vêm com patologias que
poderiam ser atendidas naturalmente na própria cidade de origem, como
disenteria, erisipela, gripe. “Se isso acontecesse, o Walfredo Gurgel ficaria
apenas para o atendimento de pacientes de alta complexidade, que é o objetivo
dele. Isso ajudaria a manter o estoque, porque você começa a usar os insumos e
medicamentos existentes com pacientes de baixa complexidade e chega um dia que
falta para os de alta complexidade, que necessitam de maior atenção e sofrem
quando esses materiais acabam”, afirmou.
Fátima
disse ainda que até o final deste mês, o hospital terminará a implantação da
radiografia digital, o que proporcionará uma economia grande com compras de
películas e material para revelar Raios-x. “Alguém pode perguntar como é que
temos dinheiro para comprar um equipamento desse tipo e não temos para comprar
medicamentos, mas eu explico: são verbas diferentes. O Ministério da Saúde
distribui verbas específicas, carimbadas, e eu só posso comprar aquilo para a
qual ela se destina. Eu não posso desviar, sem vem para comprar copo, eu não
posso comprar medicamentos”, explicou.
Servidores
da Unicat têm ponto cortado
Completando
um mês hoje, a greve da Unicat está comprometendo o abastecimento dos hospitais
estaduais, mas os grevistas também estão sendo prejudicados. Eles reivindicam a
manutenção da jornada e do horário de atendimento, a recomposição da força de
trabalho e o fim do assédio moral na unidade. Também pediram uma audiência com
o secretário estadual de Saúde, Luiz Roberto Fonseca, sem sucesso.
Além
disso, oito servidores também tiveram o ponto cortados pela Secretaria de
Estado da Saúde Pública e 12 dias descontados no contracheque, o correspondente
ao período entre os dias 01 e 12 de setembro. O descontou chegou a R$ 959,00,
quase metade da remuneração. E todos os 65 foram deduzidos pela paralisação do
dia 27 de agosto passado.
Segundo
a coordenadora do Sindsaúde, Rosália Fernandes, os cortes foram ilegais porque
houve desconto na folha de pagamento de dias em que os servidores ainda não
haviam iniciado o movimento grevista. “Isso é um abuso, porque entre os dias 01
e 07, os servidores trabalharam normalmente, mas ainda assim, foram descontados
com se já estivessem em greve. A nossa expectativa é que o Ministério Público,
que está analisando se há ou não a necessidade de contratação de novos
servidores, consiga mediar esse impasse, porque do jeito que está, não dá para
ficar”, disse.
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