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sábado, 26 de julho de 2014

Lola Benvenutti, a moça das letras e do sexo pago!

Ela estudou literatura, faz pós-graduação e traz no corpo tatuagens com frases de grandes escritores. Escreve críticas literárias, mas sua profissão principal é outra: “Sou puta”, diz.

O garçom do bar no Baixo Augusta, em São Paulo, estava plantado ao lado dela, atento a cada palavra. Tímido, pediu desculpas ao interromper a conversa quando ela falava de fetiches. Na mesa ao lado, homens sóbrios de terno e gravata olhavam as pernas nuas de Lola Benvenutti. O rabo de cavalo e o short curto exibiam a juventude dos seus 22 anos. As palavras denotavam a experiência.

Garota de programa desde quando cursava letras na Universidade Federal de São Carlos, no interior de São Paulo, Lola poderia ser a Lolita de Nabokov, uma amante de Bukowski, ou personagem de Almodóvar, ou ainda Diadorim vestida de jagunço em Grande Sertão: Veredas. É uma leitora compulsiva e abriga ao mesmo tempo a delicadeza e o impulso dominador da sadomasoquista. Lola faz questão de revelar sua principal profissão. Puta.

Tatuada na sua pele clara estão seus mestres. “Dizer insistentemente que fazia sol lá fora”, recita Manuel Bandeira nos ombros. No braço, Guimarães Rosa sentencia: “Digo: o real não está na saída nem na chegada. Ele se dispõe para a gente no meio da travessia”.


Lola também é escritora e ativista. O primeiro livro será lançado este ano sobre a trajetória, as descobertas e o dia a dia com os clientes. Ela também resenha livros eróticos para a Companhia das Letras. E tem feito aulas de pós-graduação e se prepara para o mestrado no qual pretende estudar a prostituição nos mais variados am­­­­­­­bientes, das ruas aos hotéis de luxo. Seu objetivo é ser uma voz esclarecedora em meio a tanto preconceito.

Um detalhe importante: já namorou sério enquanto trabalhava (o namorado era cliente antes). Ela diz que jamais esconderia o trabalho de alguém e não o largaria por homem nenhum.


Quais são os seus autores e livros eróticos favoritos?

Eu gosto do Henry Miller, da Hilda Hilst… Tem um livro muito bom do John Cleland chamado Fanny Hill sobre uma órfã de 15 anos que vai para Londres e acaba se tornando garota de programa. O escândalo desse romance para a época [o livro foi publicado em 1748] é que ela retrata isso sem culpa. Um livro mais atual é o Pagando por Sexo, do Chester Brown. É uma história em quadrinho que conta as experiências do autor com garotas de programa.


Qual é o livro mais excitante que você já leu?

Sou suspeita para falar, mas Lolita, do Vladimir Na­­­­bokov, foi o livro que me inspirou. Acho que por trazer essa coi­­­­­sa do proibido, assim como O Diário de Lori Lamby, da Hilda Hilst, que trata da menina que está perdendo a inocência. Eu gosto muito dessa coisa da fantasia, que você não vê em filme pornô. É um assunto proibido, que envolve a garota que se transforma em mulher.


E o filme mais excitante que você já viu?

Dos mais recentes, eu gostei muito de Ninfomaníaca. Também de Jovem e Bela, que é a história de uma prostituta francesa. Gosto desses filmes porque retratam situações que têm a ver com a minha.


Como você usa a tecnologia no seu trabalho?

A internet, para mim, foi o meio onde tudo começou. Todos os meus agendamentos são feitos pelo site, e o YouTube, o Instagram, todas as redes sociais acabam sendo uma promoção da Lola, o que se reverte em clientes. Eu já aceito cartão, parcelo em duas vezes – acho que sou a única que faz isso – e tenho pensado em aceitar bitcoin. Cada vez mais a tecnologia está a meu favor, no sentido de não ter que ficar na rua ou na boate para conseguir clientes. Eu tenho que perceber o que a clientela quer e o que o mercado exige.


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