Segundo
investigação preliminar, candidato derrotado nas eleições municipais de 2012
pode ser o mandante do crime.
Um
juiz do interior do Maranhão viveu momentos de terror no final da tarde de
segunda-feira (19). Após confirmar a decisão de um processo, Jorge Luiz Antônio
Salles Leite viu o fórum do qual é magistrado titular ser invadido por cerca de
uma dezena de homens armados, que destruíram equipamentos, documentos e quase
assassinaram ele e outros funcionários.
“De
repente, essas pessoas, armadas com facas, foices, facões e coquetéis-molotov,
entraram com violência no fórum, já tacando fogo em tudo”, conta Salles Leite,
juiz do fórum que abriga a 25ª zona eleitoral da Comarca de Buriti, pequeno
município localizado a 314 quilômetros da capital maranhense, São Luís. “Era um
dia normal de trabalho no fórum. Tinha dado duas decisões pela manhã e, aí,
aconteceu.”
Os
casos aos quais o magistrado se refere são dois processos em que o segundo
colocado das eleições municipais de 2012, Nivaldo Batista, pedia a retirada do
cargo do mandatário eleito, Rafael Mesquita Brasil, por supostas
irregularidades na campanha. Salles Leite considerou que não havia provas
suficientes para a cassação do atual chefe do Executivo, que superou o
adversário em apenas 800 votos na ocasião.
A
investigação preliminar aponta Lourival Batista, irmão do candidato derrotado,
como o executor da ação, na qual os agressores quebraram vidros, atearam fogo
em urnas eletrônicas e queimaram ao menos 50 processos criminais. Lourival e
outros quatro participantes da ação estão foragidos – cinco foram presos.
Alguns têm passagem por outros crimes.
A
polícia suspeita que o vice-colocado nas eleições, Nivaldo Batista, possa ser o
mandante do crime. Ele também está foragido.
“O
juiz evitou uma chacina”
O
major da Polícia Militar do Maranhão Alexandre Magno acompanha as investigações
e afirma que o magistrado se portou de forma corajosa ao longo de toda a ação.
Segundo conta, Lourival derrubou a porta do gabinete de Salles Leite a
machadadas e, ao entrar no recinto, ameaçou matar o magistrado. O que só não
aconteceu pois o juiz lhe apontou sua arma e exigiu a saída do irmão e dos
outros agressores do fórum.
“Ele
conseguiu sacar a arma e verbalizar suficientemente bem para dissuadir os
criminosos de prosseguirem com a ação. Com isso, o juiz evitou que acontecesse
uma chacina lá dentro”, afirma o militar. “Quando dez homens invadem o
judiciário munidos de galões de gasolina, fósforos e armas brancas, capazes de
esquartejar uma pessoa, tudo pode acontecer. Acreditamos que eles pretendiam
fazer o juiz refém e levá-lo para o lado de fora do fórum, onde os outros
agressores o linchariam.”
Como
o processo é da esfera eleitoral, a Polícia Federal assumirá a investigação.
Não existem ocorrências semelhantes no Maranhão, um dos Estados mais violentos
do Brasil, que ocupa a terceira colocação entre as unidades federativas com
maior número de homicídios.
“Como
podem tacar fogo no fórum e ameaçar um ser humano? Se alguém não se satisfaz
com a decisão de um juiz, que recorra ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral), que
faça uma representação contra ele. Não tem nada que justifique esse
vandalismo”, lamenta Oriana Gomes, juíza corregedora do Tribunal de Justiça do
Maranhão (TJ-MA). “É muito triste tudo isso.”
Apesar
de bastante pobre e isolada do resto do Estado, a cidade de Buriti, de apenas
27,4 mil habitantes, não tem registros relevantes de violência. As ocorrências
cotidianas se limitam a furtos e a raros assaltos.
De
acordo com o Mapa da Violência mais recente, divulgado pela Faculdade
Latino-Americana de Ciências Sociais no ano passado, houve apenas um registro
de homicídio na cidade em 2012, o que a deixa com uma taxa de 3,6 assassinatos
a cada 100 mil habitantes. Um dos mais baixos índices do Brasil.
Fonte:
IG
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