A
apresentadora que ficou um mês entre a vida e a morte fala de sua obsessão pelo
corpo perfeito, da corrida desenfreada pelos flashes e de como pretende
reformular a carreira.
A
gaúcha de Ijuí Andressa Urach levou seis anos para realizar o sonho de
trabalhar na tevê. Aos 27 anos, no ar na Rede TV! como uma das apresentadoras e
repórteres do “Muito Show”, a busca pelo padrão de beleza que despertasse a
atenção de flashes e a levasse para capas de revistas e estúdios de tevê por
pouco não a matou.
Dentre
dez intervenções cirúrgicas que modificaram completamente sua aparência,
infiltrações de 500 ml de hidrogel deram-lhe coxas grossas a partir de 2010 e,
em novembro passado, a levaram ao coma com um quadro de sepse, que fez parar
seus rins. Entre a vida e a morte por um mês, a ex-vice Miss Bumbum, deixou o
hospital com dezenas de pontos e dois buracos ainda abertos, da espessura de
quatro dedos cada nas desejadas pernas robustas, para drenar líquidos.
A
modelo, que virou notícia novamente por isso, conta detalhes da sua corrida
desenfreada pela fama, da quase morte no hospital em nome da vaidade exacerbada
e de como pretende reformular sua vida artística..
Como
tem se recuperado depois de quase morrer por causa da aplicação malsucedida de
hidrogel nas coxas?
Ainda
tenho dois buracos de quatro dedos em cada uma das pernas, de onde são drenados
os líquidos da cicatrização.Estou em casa sendo monitorada. Desde a alta, um
grupo de médicos passou a vir em casa para me dar três antibióticos – um deles,
na veia. Esse procedimento terminou na semana passada. Só que, depois de três
meses de antibióticos, meu corpo sente falta da droga e tenho vomitado
bastante. Estou com anemia, porque perdi muito sangue no processo todo, e sinto
fraqueza, tonturas. Minha rotina, hoje, é ir do quarto para a sala e vice-versa
e ser levada de carro por uma técnica de enfermagem para fazer a oxigenoterapia
(inalação de oxigênio medicinal a 100% de pureza, dentro de uma câmara
hiperbárica). Estou de castigo em casa, o que é muito difícil.
Sente
falta da badalação que a fama proporcionava?
É
verão e esperei bastante por ele. Tem desfiles de Carnaval e está difícil ficar
parada. Eu amo o que faço, lutei muito para ser uma apresentadora, mas essa
quase morte me deu outros valores. Hoje de manhã, minha mãe acordou, me deu os
remédios, fez café. É delicioso ter uma mãe que faz isso para mim. Eu
redescobri a minha mãe, nunca dei tanto valor a ela, que ficou 25 dias ao meu
lado no hospital, dormindo em um sofá duro, sofrendo, implorando para eu comer.
Também fiquei mais próxima do meu filho, tenho dado mais carinho e atenção a
ele. Hoje, jogamos videogame, assistimos a filmes até tarde.
De
onde vem essa sua busca pelo corpo escultural a qualquer preço?
Vem
de infância. O meu pai biológico nunca me criou nem me aceitou como filha,
porque nasci mais escurinha do que os outros filhos dele. Também sofri abuso
sexual do meu pai de criação, em Ijuí. Por tudo isso, tinha complexo de
inferioridade. Na adolescência, me achava feia e não me aceitava. No colégio,
sofri bullying por ser muito magra, narigudinha, pernas finas. Ao mesmo tempo,
gostava de dançar, sonhava em ser paquita da Xuxa para trabalhar na televisão,
aquele mundo mágico onde tudo parece bonito. Mas casei muito cedo. Fui casada
por seis anos, tivemos o Arthur e, ao me separar, surgiu a vontade de ser
livre.
E
como escolheu viver essa liberdade?
Indo
atrás do meu sonho de trabalhar na TV. Estava na época das assistentes de palco
fortonas. Tomei anabolizantes e não consegui as pernas grossas que queria
porque era muito sequinha. Pelo contrário, aumentaram os pelos no corpo e a voz
engrossou. Aí dei início às intervenções cirúrgicas porque sabia que, assim,
conseguiria chegar à beleza que o mercado exigia, o tipo gostosona. Mudei o
nariz, fiz lipo na barriga, coloquei primeiramente 315 ml em cada seio e, numa
outra vez, aumentei para 525, retoquei a barriga, passei por uma cirurgia
íntima para retirar os lábios vaginais, injetei PMMA (metacrilato, um
preenchedor definitivo) no maxilar e nas bochechas e retirei gordura do joelho
e coloquei nos lábios. Eu fazia cirurgia como se fosse ao supermercado. Queria
ser modelo, magra, alta e linda igual a Gisele Bündchen, mas não tinha altura.
Em
que momento decidiu injetar hidrogel nas coxas?
Uma
amiga minha disse que, no Rio de Janeiro, havia uma técnica que preenchia e
deixava a gente com coxas grandes. Fiz infiltrações de 500 ml em cada perna, em
2010. Ficou sensacional! Virei musa do Internacional (clube de futebol de Porto
Alegre), depois fui assistente de palco do “Legendários” (da Record), estava
ficando famosa e meu ego foi inflando. Passei a ser dançarina do Latino e, por
isso, fui capa de revista. Na sequência, fui vice-Miss Bumbum (em 2012). Viajei
para vários países, fiz topless em praias do exterior, posei de biquíni na
Torre Eiffel, mostrei o bumbum na Times Square. Quanto mais meu corpo perfeito
era evidenciado, mais um monstro tomava a minha cabeça. O sonho de ficar bonita
para a TV deu lugar a um vício, uma doença. Já pensava em retirar uma costela
para ficar com a cintura mais fina e cortar os dedos dos pés para calçar um
número menor. Mas de um ano para cá, minhas pernas passaram a doer muito. Só de
elas serem tocadas, eu gritava de dor. Mesmo assim, não satisfeita, fiz
aplicação de 100 ml de PMMA nas coxas.
Isso
piorou a situação?
O
PMMA é definitivo e, infelizmente, vou ter de conviver com ele para o resto da
vida. Não posso fazer exercícios pesados porque pode causar inflamação no
tecido muscular. Tem perigo também de aparecerem células cancerígenas. Ou seja,
tenho ainda uma bomba-relógio no corpo que não sei se vai explodir a minha
saúde daqui para a frente. Se arrependimento matasse… Bom, além das dores que
provocava, o hidrogel passou a se deslocar para o joelho. Vi que fiz burrada e
passei a lipoaspirá-lo. Já havia inflamações internas e, após uma sessão de
lipo, não respeitei o devido repouso. Numa praia aqui no Sul, passei a sentir
muita dor. E fui para o hospital, onde cheguei com a pressão sete por três e
com quadro de sepse. Meu rim e meu sistema respiratório chegaram a parar. Fui
entubada e me encheram de remédios e líquido para o meu rim voltar a funcionar.
Fiquei em coma por dois dias e os médicos me desenganaram: “Peçam a Deus para
que ela reaja”, disseram para parentes.
A
busca pela fama provocou tudo isso?
Ser
famosa quase me matou. Consegui fama em seis anos, mas sucesso pode levar 20,
30 anos, e não vem apenas de um corpo bonito. Depende também de oportunidade,
estudos. Um corpo bonito não traz sucesso. Eu tentei pela forma mais rápida,
que era a de ser vista, desejada e chamar a atenção. A fama quase me matou
mesmo. Fiquei obcecada por ela, virou uma doença. Hoje, essa doença tenta ainda
ocupar a minha mente. É como se eu estivesse me recuperando de uma droga, por
isso estou sendo acompanhada por psicólogo. Tive de me afastar das redes
sociais. Ver todo mundo se preparar para o Carnaval e eu não estar à frente de
uma bateria, como no ano passado, é muito difícil. Tomo calmantes para segurar
esse meu impulso pela fama, pela vaidade.
Por
que voltou a ser internada dez dias depois de ter alta?
Em
24 de dezembro ganhei alta. No dia 5 de janeiro, achei: “Pronto, estou viva,
bem, vou passar o fim de semana em Florianópolis”. Fui para a praia, logo
depois que desembarquei e, duas horas depois, peguei uma nova bactéria e fui
internada no hospital. Minha perna ficou superinchada, cheia de secreção e pus.
Não conseguia caminhar, só me arrastava.
Qual
será o limite da sua vaidade depois desse episódio?
No
hospital, foram retirados os meus alongamentos e eu quero voltar a ter cabelos
longos, unhas compridas, marcas de bronzeado no corpo. Não vou fazer mais
nenhum tipo de cirurgia plástica. Tenho certeza de que posso morrer numa mesa
de cirurgia. Sei que exagerei. Agora, quero fazer jornalismo, ser uma
comunicadora. Hoje, tenho a oportunidade de estar dentro de uma emissora de TV,
que foi o que sempre sonhei. Não dá mais para viver só de bumbum. Tenho orgulho
de ter sido vice-Miss Bumbum. Na vida, ninguém começa de cima, há degraus a
serem conquistados. Mas agora estou numa segunda fase da carreira, na qual não
preciso só da minha bunda, mas sim da minha cabeça, do cérebro. Vou ser, sim, a
futura Hebe Camargo. Pernas, cortes ou cicatrizes não irão fazer diferença
nesse meu novo trabalho.
Que
tipo de trabalho como modelo não pretende mais fazer?
O
fato de minhas pernas terem esses cortes me faz pensar que não vale a pena me
expor como fazia antes. Não há necessidade de posar nua ou participar de
concurso de beleza. Tenho quase 30 anos, não vou ser uma velha rebolando.
Você
ganhou mais fama ao dizer que teve uma noite de amor com o melhor jogador de
futebol do mundo, o português Cristiano Ronaldo, e expor a conversa que tiveram
por WhatsApp. Arrepende-se disso?
Depois
dessa quase morte, fiz promessa de pedir perdão a todos que por algum motivo
magoei. Eu errei ao expor o caso com o Cristiano para a imprensa. Peço perdão a
Irina (Shayk, modelo russa que namorava o português), porque ela tinha um
relacionamento com ele e eu não respeitei isso pelo fato de o Cristiano ser o
meu ídolo, aquele homem dos sonhos, algo intocável. Peço perdão a ela e ao
Cristiano. Se pudesse voltar no tempo, não queria que aquilo acontecesse.
O
que lhe valeu, financeiramente, esses seis anos em busca de fama?
Um
apartamento bom para a minha família em uma zona nobre de Porto Alegre, outros
dois menores, um carro para mim e outro para a minha mãe. Estamos falando de
cerca de R$ 1 milhão. Já comprei relógio de R$ 15 mil de ouro e brilhante,
bolsa por R$ 12 mil, um sagui por R$ 6 mil. Hoje, não faria mais nada disso.
Fonte:
Terra
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