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domingo, 22 de julho de 2012

Conveniência aproxima PT, DEM e PSD nos municípios

Conveniências locais em dezenas de municípios do RN têm unido, na eleição deste ano, partidos que ficam, tradicionalmente, em polos opostos por motivos ideológicos ou por causa de disputas no Congresso Nacional. Há chapas, no Estado, formadas por coligações que integram partidos que, nacionalmente são adversários ferrenhos, como PT e DEM; PT e PSDB; DEM e PSD.
Um levantamento - feito pelo setor de Tecnologia da Informação da TRIBUNA DO NORTE a partir de cruzamento dos números disponibilizados no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) - revelou uma tendência de coligações com cores e tendências diversas, independente de afinidades motivadas por ideologias ou programas.


O PT e o DEM estão na mesma coligação em 23 municípios do Rio Grande do Norte. As duas legendas estão lados opostos, considerando as origens histórias e a tendência ideológicas de seus dirigentes nacionais e estaduais. O PT tem origem em organizações de esquerda e sindicais. O DEM é o antigo PFL, partido fundado a partir de uma dissidência do PSD, que deu sustentação aos governo do período do regime militar. Hoje, os líderes do DEM afirmam que o partido é de centro. 

No Rio Grande do Norte, o PSDB e o PT estão coligados em 27 municípios. São as duas legendas que, embora não tenham origens tão distintas entre si, polarizaram as mais recentes disputas pela presidência da República.

Algumas alianças são chamadas de "salada mista", como destacou o consultor em comunicação política e professor da Universidade de São Paulo (USP), Gaudêncio Torquato (na foto ). "Com essas alianças você chega à conclusão de que os partidos políticos no Brasil são cada vez mais siglas com o objetivo único de galgar o poder e ampliar espaços nas estruturas governamentais", disse ele. Torquato observou que a moldura de "alianças estranhas" em campo potiguar é a maior demonstração de que os partidos políticos no Brasil perderam de vista a doutrina e o campo ideológico. 

O Partido dos Trabalhadores, em uma tentativa de fidelidade às desavenças cultivadas anos a fio com os partidos hoje na oposição, chegou a aprovar resolução que proibia alianças com DEM, PSDB e PPS. A estratégia parecia vingar, tamanho o descompasso ideológico que desunia petistas e oponentes. Mas não prevaleceu. Petistas e tucanos alinhavaram parcerias em 27 cidades potiguares.

A deliberação foi "flexibilizada" e o ônus da prova acabou nas mãos dos diretórios estaduais, que concordaram em praticamente todos os casos por considerarem os pleitos dos municípios "aceitáveis".

Os dados apontam também alianças previsíveis, como é o caso dos 72 municípios nos quais o PR se uniu ao PMDB; os 65 onde PMDB e DEM se alinharam; ou mesmo as 63 cidades onde se formalizou uma parceria entre PT e PSB; e outras 54 onde PT e PMDB dispõem do mesmo tabuleiro eleitoral. 

Esse cenário não é estranho à atual conjuntura política porque, a rigor, essas legendas estão entrelaçadas nacionalmente no apoio à presidenta Dilma Rousseff (PT) ou - em outros casos - se aproximaram na cena estadual (casos de DEM e PMDB), graças a acomodações de campanhas passadas.

DEM e PSD estão aliados em 48 cidades 

Em 2012, começou mais uma rivalidade na política nacional e estadual. Com a criação do PSD, o vice-governador Robinson Faria, que liderou o partido no RN, acabou por romper politicamente com o presidente nacional do DEM, José Agripino, e a governadora Rosalba Ciarlini). Ironicamente, porém, este foi o ano em que ambas as legendas se encontraram pela primeira vez em um pleito eleitoral e, apesar da desavença entre os principais líderes, somou esforços em 48 municípios, devido a "conjuntura favorável para os dois lados". 

Além de bradar que o PSD era um partido formado por pessoas sem história, José Agripino Maia chegou a enfatizar que o DEM não participaria de coligação onde os peessedistas fossem cabeças de chapa. A reação do senador tinha um motivo: o PSD, ao ser criado, atraiu para a legenda dezenas de parlamentares antes filiados ao DEM. 

Apesar das coligações que foram formas, o senador reafirma que não subirá em palanque onde o PSD - e também o PT - figurar de protagonista. "Eu só irei a palanques onde os democratas tiverem candidato a prefeito e vice, fora isso irei a eventuais campanhas porque não terei tempo", arriscou senador. Agripino tem um argumento plausível. Na condição de presidente nacional do DEM destacou que precisará dar cobertura às tantas campanhas com boa perspectiva de vitória para a legenda. Ao falar sobre o recuo na decisão anterior de não se coligar com o PSD, assinalou que é questão de flexibilidade nos "pouquíssimos casos existentes". "Não significa nem cerceamento e nem arrefecimento de nossas divergências", sentenciou.

Já o vice-governador Robinson Faria ironiza quando relembra o posicionamento que adotou desde o início das discordâncias com o DEM. Ao contrário do senador Agripino, ele recorda a garantia dada de que não haveria censura com os aliados democratas, embora a preferência de parceria fosse desde o nascedouro com os partidos da oposição no Estado. "Eu sempre falei: não é por conta dessas discussões que nós iremos punir parcerias de campanhas anteriores porque estavam ligadas ao PSD", assinalou.

Robinson destacou que respeita as militâncias locais, assegura que não passou por qualquer espécie de constrangimento, mas disse que foi informado de supostas "intimidações" e tentativas de obrigarem democratas a não coligar com o PSD. "Continuou a mesma sistemática de nos escantear. Chegaram a dizer a aliados do DEM no interior que se persistissem na coligação conosco perderiam o apoio. Há um sentimento de raiva e perseguição", concluiu Robinson. O DEM apoia o PSD como cabeça de chapa em doze municípios - Afonso Bezerra, Espírito Santo, Florânia, Montanhas, Monte das Gameleiras, Parelhas, Pedro Velho, Rodolfo Fernandes, Serrinha, Sítio Novo e Vera Cruz. 

Especialista aponta 'contrassenso'

O consultor político e professor da Universidade de São Paulo (USP), Gaudêncio Torquato, fez duras críticas ao que chamou "contrassenso e incongruência" de partidos opostos que se cruzam com o único objetivo de ampliar espaços nas estruturas governamentais e chegar ao domínio de prefeituras e casas legislativas. Para Torquato, é inconcebível o protelamento de uma reforma política, particularmente no que diz respeito a preservação das doutrinas partidárias, concepções e propostas de partidos e políticos. "A continuar assim ninguém vai mais conseguir distinguir lados doutrinários, o espectro partidário ideológico". Para ele, cada vez mais a tese de esquerda e a direita se esfacela mais e mais.

O consultor e professor da USP observa que é necessário exigir dos partidos a reforma de estatutos de forma a preservar posições doutrinárias e temáticas essenciais como saúde, educação, segurança pública, transporte, enfim, temas que deveriam expor opiniões a respeito de questões chaves. "O eleitor precisa distinguir como pensam o PSDB, PSD, PMDB a respeito de aspectos centrais para o país", assinala. Para Torquato, só assim a sociedade terá o filtro necessário - doutrinário e ideológico - e terá embasamento e condições de escolher o que melhor convier.

Para ele, o cenário potiguar onde se visualiza alianças entre partidos historicamente oponentes revela um descomprometimento programático e ideológico e a exata noção de que não há mais sentido se pensar em doutrina partidária no Brasil. O personagem dessa história, na visão dele, é o PT, "um partido que chegou ao poder com um discurso claro, transparente explícito de divergência a essas outras forças políticas". "O PT se coliga com os principais adversários isso significa que na luta pelo poder situação e oposição inexistem", sentenciou.

Gaudêncio Torquato considera o Partido dos Trabalhadores o principal representante de uma novela que denota incoerência e desprezo às doutrinas partidárias. "Havia um grupo de partidos dentro de um conceito de social-democracia e todos eles estavam abrigados no espaço social da democracia. Já o PT era quem deveria defender um socialismo clássico, que prega de certa forma a socialização dos meios de produção, a intervenção do Estado na economia...então se vê que esse discurso é para inglês ver e para brasileiro assistir de camarote", definiu o professor da USP. Ele destaca que o eleitor, por outro lado, fica a margem desse processo meio a contra-luz. "O cidadão não vai querer saber de brigas ideológicas que ocorrem em São Paulo ou outras partes do país, vai querer saber se o bolso está tranquilo, então na verdade o eleitor está vendo de maneira pragmática", finalizou.

'Radicalismo diminuiu', diz coordenador 

As linhas ideológicas pontualmente antagônicas protagonizadas, por um lado, pelo PT, e por outro, por PSDB, DEM e PPS, deram forma a mais peculiar divergência política entre partidos nos últimos tempos. Mas nem esse impasse quase crônico impediu lideranças do interior do Estado de alinhavarem parcerias que atingiram 27 municípios (PT/PSDB) e 23 (PT/DEM), levando-se em consideração as coligações apoiadas por ambas as legendas no campo majoritário e proporcional, independente do cabeça de chapa. O coordenador nacional do Partido dos Trabalhadores, Geraldo Magela, observou que casos excepcionais chamaram a atenção da executiva nacional petista, que deliberou às executivas nacionais a responsabilidade de arbitrar esses casos considerados extraordinários.

"No caso do RN se houve autorização da estadual e essas questões não chegaram até a nacional é porque houve consenso", enfatizou Magela. Mas houve resistência, destacou a deputada federal Fátima Bezerra, que também é vice-presidente nacional do PT. A parlamentar sustenta que embora tenha havia essa flexibilização da legenda para o caso de alianças excepcionais com DEM, PSDB e PPS, o foco do partido continua sendo de divergência sistemática a essas legendas, oponentes máximas no cenário federal. "Que eu saiba a questão de aliança com DEM no RN foi casos especialíssimos", sintetizou a deputada, observando a necessidade de ponderar sobre a diferença entre alianças no campo proporcional e majoritário. "O mais adequado seria não que coligássemos com o DEM sequer na proporcional, mas a política nem sempre tem uma realidade uniforme", frisou. Ela garante que permanece a tática de que o Democratas é o nosso principal adversário dos petistas.

Geraldo Magela, o coordenador nacional, é mais cauteloso quando o assunto é aliança com DEM, PSDB e legendas oponentes ao Governo Dilma Rousseff. "O radicalismo diminuiu sim e um exemplo disso é o quadro refletido no Rio Grande do Norte". Ele enfatiza, no entanto, que as parcerias nos municípios dificilmente terão desdobramentos na esfera nacional. "Complicadíssimo. Não há diálogo e é praticamente impossível uma aproximação com essas siglas", finalizou.

Da Tribuna do Norte

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