Professora
da UFRN diz que título de "cidade com o ar mais puro das Américas"
dado à Natal não passa de um mito sem fundamento científico.
O
título dado a Natal em meados da década de 1990 de ter “o ar mais puro das
Américas” não passa de um mito sem qualquer embasamento científico. É o que
revela a pesquisadora em Processos Físicos e Químicos da Atmosfera, Judith
Hoelzemann, que coordenou o Congresso Internacional de Química da Atmosfera,
realizado na capital potiguar nesta última semana.
A
cientista quer montar uma rede de monitoramento para fazer avaliações diárias
da qualidade do ar em diversos pontos da capital potiguar.
A
pesquisadora diz que esse título foi dado pela Agência Espacial Norte-Americana
(Nasa) décadas atrás a partir de um relatório, “mas nunca foi fundamentada em
dados científicos”. Segundo Judith Hoelzemann, que é professora da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a qualidade do ar em Natal como um todo
é boa, pois, como toda cidade litorânea, têm sua atmosfera renovada
constantemente pela brisa marítima.
Contudo,
na opinião da cientista, existem pontos em Natal em que a qualidade do ar pode
estar comprometida com a poluição causada pela emissão de gases expelidos pelos
veículos e a concentração de edifícios, que impedem a circulação da brisa
marítima. “Bairros como Alecrim, as avenidas de maior tráfego de veículos e
outros locais que têm poucas árvores podem apresentar níveis de concentração de
poluentes prejudiciais à saúde. Contudo, não existem dados que possam comprovar
essa qualidade do ar na cidade”.
Judith
Hoelzemann lidera uma equipe de pesquisadores na UFRN que pretende criar uma
rede de monitoramento da qualidade do ar em Natal, montando vários equipamentos
capazes de medir os níveis de concentração de poluentes na atmosfera da cidade
em diversos pontos da capital potiguar. No entanto, essa iniciativa esbarra,
segundo a professora, na falta de investimentos da sociedade em geral nesse
sentido. Atualmente, apenas a universidade, o Instituo Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe) e o Centro de Tecnologia do Gás e Energia do RN (CTGás-RN)
apoiam a ideia. “É preciso que haja interesse da população em investir nessa
pesquisa, que é tão importante para a saúde de todos”, ressalta.
A
professora conta que a relação da qualidade do ar com a saúde da população foi
um dos principais temas abordados no Congresso Internacional de Química da
Atmosfera, realizado no Centro de Convenções durante a última semana. Entre as
contribuições do assunto para a cidade, Judith Hoelzemann cita que Natal está
se expandindo cada vez mais e precisa de uma melhoria significativa no
transporte público urbano para reduzir a emissão de gases poluentes.
“Precisamos
deixar essa cultura de circularem vários carros grandes pela cidade com apenas
o condutor nele. É preciso investir em transporte público de qualidade e acabar
com a ideia de que ônibus é para gente pobre. Em muitos países desenvolvidos,
os ricos é que usam o transporte de massa, pois acham mais cômodo. É preciso
também incentivar a construção e utilização de ciclovias, pois contribui em
muito para a saúde da população”.
O
Congresso reuniu 414 participantes de vários países, sendo 1/3 do público de
origem brasileira. O Brasil foi o primeiro país na América Latina a receber
esse evento, que teve a sua 13ª edição.
Por Paulo de Sousa/Portal No Ar
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