Poeta e Historiador Freitas Júnior tem ensaio
publicado em revista cultural do RN
O Instituto Histórico e Geográfico do Rio
Grande do Norte (IHGRN) segue mantendo a regularidade de sua Revista. Esta foi
publicada e lançada pela primeira vez em 1903, e de lá para cá tem consagrado
historiadores e geográficos do Estado do Rio Grande do Norte que tem a
competência de participar dessas edições. Nesse ano de 2019, a “Revista” chegou
a sua 98ª edição com um conteúdo abrangente, distribuído ao longo de 283
páginas.
Nessa edição temos um ensaio do Poeta e
Historiador Freitas Júnior sobre a história do município de Riacho da Cruz/RN,
que faz parte do seu livro “Riacho da Cruz, os Primórdios de uma História” que
tem previsão de lançamento para o dia 09 de maio de 2020.
NAS RIBEIRAS HISTÓRICAS DO RIACHO DA CRUZ
A história da colonização das terras que hoje pertencem ao território do
município de Riacho da Cruz-RN teve suas primeiras explorações em 1684 pelo
Sargento-Mor Manoel Nogueira Ferreira (1655-1715), que recebera concessões de
sesmarias no território do Apodi datadas do ano de 1682.
Em 1684, objetivando expandir os seus domínios territoriais das suas
sesmarias nas terras do Pody (Apodi), adentra ainda mais ao oeste seguindo os
cursos dos riachos e rios que o conduziam Manoel Nogueira Ferreira em direção a
Serra dos Cabeços do Pody (Serra de Portalegre) e consequentemente adentrando
as terras que hoje compõem os limites de Riacho da Cruz. Nesse percurso, Manoel
Nogueira desbrava o atual sítio do Santo Antônio, São José e a lagoa existente
naquele setor. Continuando o seu trajeto de desbravamento, ele descobre um
tímido riacho (Riacho Forquilha) e cada vez mais se aproxima da Serra dos
Cabeços do Pody onde ele finca os Marcos Lenhosos (dormentes) delimitando o seu
espaço territorial do Apodi a Portalegre.
No final do século XVII Manoel Nogueira Ferreira realiza as primeiras
explorações desses terrenos as margens do Riacho Forquilha, como mangas de
soltas, (terras utilizadas unicamente para pecuária que periodicamente os sesmeiros
soltavam ali os seus rebanhos para aproveitarem os pastos). E no final do dia,
os vaqueiros regressavam para as proximidades de Apodi, enquanto os rebanhos
permaneciam nas Soltas. Nesse período, esses terrenos eram pouco usados para a
lavoura devido as distâncias existentes para se manter plantações em
propriedades abertas e não-cercadas. E a prioridade econômica naquele contexto
eram os rebanhos bovinos “Ciclo do Gado”.
Às margens do Riacho Forquilha, no contexto da Guerra dos Bárbaros, um
pequeno grupo de vaqueiros desprevenidos pastoreavam os rebanhos de Manoel
Nogueira quando sofreram um ataque surpreso e violento de chuvas de flechas
silenciosas e ervadas lançadas pelos índios Tapuias. Esse ataque matou boa
parte do rebanho e um dos vaqueiros que ali estava foi morto as margens daquele
riacho e possivelmente sepultado naquele local. Uma cruz fora fincada à beira
do Riacho Forquilha e tornou-se um ponto de referência entre Apodi e a Serra
dos Dormentes (Portalegre). De Portalegre para Apodi, depois de passar pela
localidade onde hoje se encontra Viçosa, Manoel Nogueira Ferreira passou a
chamar o Riacho da Forquilha pela nova denominação de Riacho da Cruz.
Em 17 de janeiro de 1715 falece o Sargento-mor, Manoel Nogueira Ferreira
na fazenda Oiteiro, no município de Apodi, ficando a viúva Dona Maria Oliveira
Correia e a sua filha Margarida de Freitas herda as propriedades que
legitimamente eram do seu pai. Dois anos depois, em outubro de 1717, surgem
quatro sesmarias pertencentes aos senhores Manoel Rodrigues Taborda, Matias
Lima, Bento Carneiro, e o Capitão Antônio Barbalho Bezerra. Posteriormente,
Teodósio Freire de Amorim solicitava terras correndo para o Riacho da Cruz nos
idos de 1732 e em 1754 Gregório José Dantas também possuía propriedade naquele
território que desde 1684 era usado como mangas de soltas devido à presença de
Água no então Riacho da Cruz (Riacho Forquilha).
A referência toponímia de Riacho da Cruz até 1761 tinha uma ligação
exclusiva com o Riacho Forquilha e não para as terras em si. Um fato histórico
trouxe a origem do topônimo das terras que correm para o Riacho da Cruz, quando
o Juiz de Fora Miguel de Pina Castelo Branco acompanhado do escrivão Gaio,
Antônio Albino do Amaral e Sebastião Gonçalves da Silva junto com alguns
soldados, realizou a transferência de setenta famílias indígenas para a Serra
dos Dormentes (Portalegre) no dia 12 de junho 1761. No dia 13 de Junho o
comboio que conduzia os índios chegara à margem do Rio Apodi onde deveriam se reunir
outros índios tapuias. Essa marcha de transferência praticamente seguiram os
mesmos passos que o Sargento-Mor Manoel Nogueira Ferreira seguiu em 1684. Na
primeira instância eles estiveram no espaço territorial que hoje compõe o sitio
Santo Antônio (pertencente ao município de Riacho da Cruz) e em razão de ser o
dia do referido santo, o Juiz Miguel de Pina Castelo Branco deu esse nome
aquele espaço territorial. Em continuidade a transferência dessas setenta
famílias indígenas, a presente tropa acampa as margens de uma lagoa e ali
pernoitaram no dia 22 de Junho do referido ano. Naquele ambiente, o grupo fez
uma grande fogueira em homenagem a São João Batista e rezam um terço em
comemoração ao referido santo. Em virtude desse evento o mencionado Juiz deu o nome
aquele setor territorial e a própria lagoa ali existente de São João que hoje
ainda se preserva.
Na manhã do dia 24 de Junho, um dos soldados que fazia parte do comboio
estava enfermo e em virtude dessa enfermidade ele chega a falecer as margens do
Riacho Forquilha, na parte conhecida como Riacho da Cruz. Naquelas terras o
Soldado fora sepultado e o Juiz Miguel de Pina Castelo Branco colocou uma cruz
no local onde o soldado fora enterrado e fez a seguinte afirmação em relação
aquele território: “Essas terras se chamarão de Riacho da Cruz ” e assim ficou
conhecido aquele setor territorial como Riacho da Cruz já não em homenagem ao
antigo marco cristão referente ao vaqueiro morto e sim a esse soldado que
servia ao presente juiz. Agora a referência toponímia de Riacho da Cruz já não
era referente ao riacho que cortava aquele território e sim ao território em
si.
Desde aquele ano 1761 até o final do século XVIII as terras de Riacho da
Cruz continuavam sendo usadas como mangas de soltas e havia um tímido
desenvolvimento na parte agrícola devido as distâncias existentes entre as
mesmas e Portalegre ou Apodi e pelo fato dos terrenos não terem cercas, mas
apenas demarcações simbólicas marcadas por pedras, riachos, arvores etc.
Somente em 1901 a povoação dos terrenos de Riacho da Cruz teve a sua real
gênese quando o Sr. Francisco Delfino de Oliveira juntamente com a sua esposa
Tertuliana Maria da Conceição – ambos originários do município de Portalegre –
vieram se estabelecer naquele território, construindo uma casa feita de pedra e
barro. Posteriormente, três dos seus irmãos também vieram fixar morada nas
terras de Riacho da Cruz com suas respectivas esposas: João Alexandre de
Oliveira e Francisca Maria da Conceição; Vicente de Oliveira e Ágda Maria da
Conceição; e Francisco Pedro de Oliveira. Essas famílias construíram as suas
casas de taipa, nas proximidades da lagoa no Barandão (propriedade que hoje
forma a Bacia do Açude Público Estadual de Riacho da Cruz). Foi à vinda desses
irmãos que fez com que as sementes do município fossem lançadas através de
quatro casinhas de taipas.
Em 1909, a Srª Camila Maria de Lellis (1850-1932), filha de Antônio
Fabrício e de Rita Maria de Jesus, saiu do município de Portalegre - RN e
passou a residir no sítio de Riacho da Cruz. O motivo desta mudança, em parte
foi de teor religioso. A Srª. Camila de Lellis tinha um oratório particular
dentro da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, e quando ocorrera a mudança de
vigários naquele ano, o novo sacerdote Pe. Tertuliano Fernandes não aceitou a
existência daquele oratório particular na presente instituição religiosa, e
isso originou um grande desgosto para a Sra. Camila de Lellis que culminou em
sua mudança.
Nas terras de Riacho da Cruz, inicialmente ele reside na casa do Sr.
Francisco Delfino de Oliveira, e em pouco tempo ela constrói a sua casinha de
Taipa. Uma vez estabelecida nas terras de Riacho da Cruz, ele pronuncia a
célebres palavras a ela associada: “Agora vou fazer uma casinha de tijolo!”.
Dessa sua determinação, começa a construção da Capela do Sagrado Coração de
Jesus que se concluiu em 1910. E no dia 15 de agosto daquele ano, Camila de
Lellis, juntamente com os seus familiares, fazem a transferência das imagens
que ela possuía e que ainda estavam em Portalegre, para a Capela
recém-construída. E no dia seguinte, o Padre Gabriel Toscana da Rocha realiza a
sua inauguração religiosa, tendo como padroeiro o Sagrado Coração de Jesus.
Apesar da existência do Riacho da Forquilha que corre para o Rio Apodi,
as dificuldades de água que o meio oferecia sempre foram grandes por não
existirem reservatórios de água ali. E os poços artesianos existentes, durante
o período de estiagem diminuía a sua vazão. Assim, a medida que esta população
crescia, essas mesmas dificuldades também se intensificavam. Nisso, o então
prefeito municipal de Portalegre, o Sr. Antônio Martins em 1954 através do
DNOCS (Departamento de obras contra a Seca) inicia a construção do sonhado
reservatório. Novos moradores se estabelecem na vila para trabalhar na referida
obra. A força das maquinas e dos homens fez com que a obra findasse em 1958 e
no ano seguinte ocorre a primeira sangria. A partir da superabundância de água
oriunda do açude Público Estadual, ocorre um significativo crescimento na Vila.
Muitas pessoas residentes em Portalegre e na Vila Viçosa passaram a fixar
moradia em Riacho da Cruz.
Em 09 de maio de 1962, houve o desmembramento da vila de Riacho da Cruz
da cidade de Portalegre, por força da Lei nº 2764 e sancionada pelo então
governador do Estado do Rio Grande do Norte o Sr. Aluízio Alves. Emancipado
politicamente, Riacho da Cruz torna-se um novo município do Rio Grande do
Norte.
As atividades econômicas do município são baseadas na agricultura,
pecuária e na pesca em virtude da presença abundante de água do Açude Público
Estadual que em sua capacidade de armazenamento abastece a cidade de Riacho da
Cruz, Viçosa e Portalegre. Nos últimos anos, o artesanato local tem se
desenvolvido significativamente com a confecção de peças em madeira, palha,
cerâmica, cestaria e redes; tudo isso é produzido, não em escala industrial, e
garante o sustento de muitas famílias da comunidade.
Riacho da Cruz localiza-se na Microrregião de Pau dos Ferros e
Mesorregião do Oeste Potiguar, a uma distância de 366 quilômetros a oeste da
capital do estado, Natal. Limitando-se com os municípios de Apodi, Itaú,
Umarizal, Viçosa, Portalegre e Taboleiro Grande, abrangendo uma área de 119
km². O município possui a altitude média de 163 m com as coordenadas
geográficas: Latitude: 05° 56' 09,6 37'' Sul, Longitude: 37° 56' 45,6'' Oeste.
Antônio Miranda de Freitas Junior – Historiador
& Poeta
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