Em 2017, estado registrou 143 mortes violentas
de mulheres. Em 2018, foram 93. Contudo, denúncias de agressão e ameaça
saltaram de 2.725 para 2.872 casos, um aumento de 5,4%.
“Ele me tirou de casa à força, me puxou pelo
braço e me levou para o mato. Eu não queria falar com ele. Levei um soco no
olho e ele mandou eu abaixar a cabeça. Eu não queria, mas ele me pegou pelo
braço e me forçou. Então, com uma faca, ele cortou meu couro cabeludo. Eu
achava que iria morrer, chorava bastante. Implorei para ele não fazer aquilo
comigo, mas ele não deu ouvidos. Desmaiei de tanto sangue, de tanta dor. Depois,
não lembro mais de nada”.
As palavras acima foram difíceis de falar. Houve
pausa, silêncio, lágrimas. Houve indignação, revolta e medo... muito medo. O
nome ela prefere não revelar, mas a dor vem com detalhes. São de uma jovem dona
de casa de 24 anos. Os últimos 9 foram ao lado dele, do agressor, e boa parte
vivida em meio à violência doméstica - uma violência que preocupa cada vez
mais.
No Rio Grande do Norte, apesar de os casos de
assassinatos de mulheres mostrarem uma redução de 37,5% nos últimos dois anos
(veja mais números abaixo), os números de denúncias de ameaças e agressões
físicas registrados pela Coordenadoria de Defesa das Mulheres e das Minorias
(Codimm) - órgão vinculado à Secretaria de Segurança e Defesa Social (Sesed)
aumentaram 5,4% neste mesmo período.
Também houve aumento no número de medidas
protetivas nos últimos dois anos. Segundo o Tribunal de Justiça do RN, em 2017
foram expedidas 1.936 ordens judicias contra agressores, e em 2018 foram 2.598
– um crescimento de 34%.
O escalpelamento
O escalpelamento aconteceu no dia 25 de
janeiro, na zona rural de Ceará-Mirim, cidade da Grande Natal. Segundo a jovem,
inconformado com o fim da relação, o companheiro da vítima invadiu a casa onde
ela estava, junto com familiares, e a arrastou pelo braço para dentro de um
matagal. Lá, com uma faca, o homem arrancou o couro cabeludo da mulher. De
tanta dor, ela diz ter desmaiado, e só lembra de já ter acordado no hospital. O
agressor foi preso poucos dias depois, e deve ser indiciado por tentativa de
feminicídio.
A dona de casa ainda se recupera. Sem metade do
couro cabeludo, ela precisou passar por cirurgia. Pele de uma das coxas foi
retirada pra fazer enxerto. Foram 24 dias internada, dois deles na UTI. E ela
sabe que o cabelo arrancado não vai mais crescer.
"Depois que eu disse para ele que não dava
mais certo a gente ficar juntos, eu já comecei a me esconder na casa de
parentes. O medo de morrer era grande. Até que ele me achou. Eu gostava
bastante do meu cabelo, mas ainda não parei para pensar como vai ser sem ele.
Dói bastante. Não consigo nem falar", disse ela.
Mas, ainda segundo a própria jovem, a falta do
cabelo é o de menos. A preocupação dela é com o futuro, em se manter viva, e
com a família. "O mais importante é que eu tô viva e tenho meus filhos ao meu
lado. Só os meus filhos me dão força de vencer e de ser uma outra mulher. Tenho
vontade de ir para longe e de começar outra vida, mas não tenho
condições", acrescentou.
Ainda sobre o ex-companheiro, a jovem contou à
polícia que ele chegava em casa quase sempre agressivo e que batia nela.
"Ele bebia e usava drogas. Muitas vezes me batia na frente das crianças.
Eu não gostava mais dele. Dei queixa dele, mas ele não foi preso. Agora, vivo
com medo de soltarem ele e ele me procurar e me matar. Ele disse que onde eu
estiver vai me achar e me matar aos poucos. Não me sinto segura com a medida
protetiva. Isso não vai manter ele longe de mim. Ele não respeita nada",
disse.
G1
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