Em apenas uma semana, o preço da cesta básica
pesquisada pela Fundação Procon de São Paulo e pelo Dieese subiu 4,61%
A diarista Conceição Maria Pereira da Silva,
de 42 anos, teve uma semana tumultuada por conta da greve dos caminhoneiros,
como a maioria dos brasileiros. De sua casa no Jardim Angela, zona sul da
cidade, até a avenida Paulista, onde faz faxinas, normalmente gasta uma hora e
meia. Tomando dois ônibus, levou duas horas nos últimos dias e chegou atrasada.
O filho de 4 anos não foi para creche porque
a perua escolar não tinha combustível e o maior, de 15 anos, não teve aula
porque a professora não foi. No supermercado, Conceição pagou mais caro por
alguns produtos. Outros, ela deixou de comprar por causa do preço, como batata
e repolho. “Eles seguraram os ônibus por falta de combustível e muita gente não
conseguiu ir trabalhar. Eu consegui, mas cheguei atrasada”, diz.
A sua colega, Nazaré Barros de Souza, de 40
anos, casada, mãe de dois filhos adolescentes, faxineira e também moradora do
Jardim Angela, na última semana andou meia hora a pé diariamente por falta de
ônibus. Normalmente, ela pega três conduções para ir da sua casa até o bairro
do Panambi, onde trabalha. Mas um dos ônibus deixou de circular.
No supermercado, Nazaré cortou a salada, por
causa dos preços das hortaliças, e vai se virar com a carne que está no
freezer. Por sorte, ela acabou de comprar o gás de cozinha. Pelo botijão, que
está quase cheio, pagou R$ 65. “Essa greve foi ruim para todos, mas os menos
favorecidos foram os que mais sofreram: não temos condições de comprar e
guardar produtos.”
O que Conceição, que tem renda mensal de R$
1.500, e Nazaré, que tira R$ 2.700 com faxinas, viveram na prática nos últimos
dias é observado pelos economistas. O impacto da greve dos caminhoneiros que
provocou desabastecimento de produtos in natura e restrições na oferta de
serviços públicos, como transporte, e afetou os preços deve penalizar mais a
população de baixa renda.
André Braz, economista do Instituto
Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), diz que o
reflexo da greve na inflação, que pegou num primeiro momento os produtos in
natura, prejudica principalmente as camadas de menor renda. “Os mais pobres
consomem mais alimentos in natura”, observa. Ele, que é responsável pela índice
de inflação da FGV das famílias com renda mensal de até 2,5 salários mínimos
(R$ 2.385), o IPC- C1, constatou altas diárias expressivas na última semana na
batata (150%), tomate (40%) e cebola (35%), por exemplo, em São Paulo.
Em apenas uma semana, o preço da cesta básica
pesquisada pela Fundação Procon de São Paulo e pelo Dieese, que engloba cerca
de 30 itens de primeira necessidade, subiu 4,61%. O valor médio da cesta, que
no dia 23 de maio era R$ 652,18, passou para R$ 682,25 em 30 de maio. E os
alimentos subiram mais do que o valor da cesta como um todo no período, 5,21%.
Agência Estado
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