Jair Bolsonaro disse que não dará entrevistas
enquanto os jornais “não fizerem uma matéria real sobre o que aconteceu na
ONU”. A imprensa noticiou que o presidente fez um discurso agressivo, exaltou a
ditadura militar, atacou um cacique de 89 anos e mentiu sobre as queimadas na
Amazônia. Na visão dele, uma “matéria real” trocaria o registro desses fatos
por elogios.
A ameaça de boicote à imprensa não é nova.
Bolsonaro já havia prometido silenciar outras vezes, mas nunca conseguiu
segurar a língua. Ontem ele fez um esforço extra para cumprir a promessa.
Ignorou os jornalistas e não discursou em solenidade oficial. Só falou em
público uma vez, em minicomício para garimpeiros.
Numa cena incomum, o presidente foi até a porta
do palácio e subiu numa cadeira para discursar. Do pedestal improvisado, expôs
o que pensa sobre a floresta. “O interesse na Amazônia não é no índio nem na
porra da árvore. É no minério!”, afirmou.
Bolsonaro não disfarça. Desde a campanha, ele
critica as leis ambientais e promete incentivar a criação de novas Serras
Peladas. Em seu lobby pela mineração, o presidente já comprou briga com índios,
ambientalistas, servidores do Ibama e líderes europeus. Agora prepara o terreno
para um embate com a Igreja Católica.
Ontem o bispo de Marajó, dom Evaristo Spengler,
fez um apelo contra a exploração do subsolo amazônico. “Queremos pedir um não a
projeto de mineração em territórios indígenas, não ao garimpo legal e ilegal na
Amzônia, não à regularização de novos garimpos”, disse. Ele é um dos
organizadores do sínodo que discutirá as ameaças à floresta a partir deste
domingo.
Às vésperas do encontro, a tropa bolsonarista
já trata a Igreja como inimiga. O presidente avisou que não vai a Roma para a
canonização da irmã Dulce. No sábado, o guru Olavo de Carvalho disparou ofensas
ao Papa Francisco. “Para mim, esse Bergoglio já deu no saco. Ele não é Papa nem
no sentido figurado do termo”, atacou.
No minicomício de ontem, Bolsonaro encaixou uma
nova provocação ao cacique Raoni, que já foi recebido com honras no Vaticano.
“É outro que vive tomando champanhe em outros países por aí…”, desdenhou.
O Globo
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