O jornalista Paulo Henrique Amorim "Conversa Afiada", relata o envolvimento de Rosalba Ciarlini, José Agripino e o deputado Betinho Rosado numa denuncia, já investigada e comprovada de caixa 2, falsificação de recibos e notas fiscais. Entre outros.
O que você acha que aconteceria caso uma das principais lideranças políticas do estado fosse flagrado em escutas telefônicas combinando o uso da conta pessoal de um tesoureiro de campanha para transferir dinheiro a fim de comprar apoio político de dois vereadores da capital? Se esse líder político fosse o marido da governadora do estado e um dos vereadores a serem comprados fosse o presidente da Câmara Municipal da capital?
Se esse mesmo líder, marido da governadora, em outra ligação, ao conversar sobre a defecção de dois deputados estaduais da campanha da mulher, dissesse literalmente que tinha “um dinheirinho para mandar” na tentativa de reverter a mudança de voto dos dois deputados? E se um desses dois deputados fosse o presidente da Assembleia Legislativa?
E se você ouvisse que seriam depositados R$ 100 mil na conta de campanha de um
deputado federal mas que esse dinheiro não era dele? Ou seja, que o grupo
político teria que inventar recibos e notas fiscais frios para retirar esse
dinheiro da conta do deputado para uso na campanha ao senado. E se essa
candidata ao senado, eleita, fosse a atual governadora do estado?
E se você ouvisse diversas gravações mostrando as articulações para uso de
notas fiscais frias para justificar gastos de campanha na prestação de contas?
Você não veria nisso um escândalo político sem igual na história do estado em
questão? Você não esperaria ver o tema estampado em todos os jornais locais e,
inclusive, em veículos nacionais?
Você não gostaria de ver uma ação enérgica do Procurador Geral da República
para investigar e punir exemplarmente os envolvidos – cujos crimes supostos
prescreverão apenas em 2018?
Por que, então, o #Caixa2doDEMnoRN, com raras exceções, não foi destaque dos veículos convencionais de imprensa? Por que sequer revistas como a CartaCapital não lhe deram espaço? Por que apenas o jornal O globo se interessou e, ainda assim, foi silenciado pela ação do líder do PMDB na Câmara Federal? E por que ninguém se indignou com essa afronta à liberdade de imprensa?
Por que ninguém se indigna com a incapacidade da Procuradoria Geral da República em responder, há praticamente um mês, sobre o que foi feito de uma investigação que recebeu há três anos?
Por que essa enorme inação, silenciamento, sufocamento histórico?
Porque, parece, no RN o crime compensa. Para os poderosos. Mesmo que tantos
elementos e indícios claros tenham sido levantados e deixem perplexos o que os
lêem e ouvem, os poderosos têm o direito de não serem incomodados até que os
seus supostos crimes prescrevam.
E tudo com a anuência, parece, do espreguiçador geral, Roberto Gurgel.
Vamos deixar, como sociedade, que crimes tão evidentes restem, ao fim, impunes?
Vamos deixar que aqueles que fazem o meio campo entre a comunidade e os fatos
prossigam omitindo fatos dessa gravidade? Quantos outros ainda serão sonegados?
Quantos criminosos restarão impunes e aparecerão como éticos e perfeitos
políticos? Probos.
Uma última questão: se o PGR não encontra os áudios e relatórios da
investigação de 2006, que recebeu em 2009, o nosso Procurador Geral de Justiça,
Manoel Onofre Neto, não poderia reencaminhá-los para Gurgel? Ainda dá tempo de
a impunidade não prevalecer.
Linha do tempo
5 de setembro a 26 de outubro de 2006 – O telefone celular de Francisco Galbi
Saldanha é inteceptado com autorização judicial no contexto de uma investigação
em Campo Grande (RN). Em 42 conversas aparecem claramente diversas evidências
de crimes eleitorais cometidos pelo PFL na campanha eleitoral: Caixa 2, compra
de apoios políticos, compra de votos, uso de notas frias e falsos recibos.
2009 – com o fim da investigação principal, o Ministério Público estadual
encaminha os áudios e relatórios do #Caixa2doDEMnoRN para o Ministério Público
eleitoral no RN e para a Procuradoria Geral da República. Por envolver personagens
com foro de prerrogativa, o MPE também encaminha o material para a PGR. Estão
envolvidos a então senadora Rosalba Ciarlini (DEM), o senador José Agripino
(DEM) e o deputado federal Betinho Rosado (DEM).
21 de maio de 2012 – Recebo os áudios da investigação e publico os primeiros
deles.
22 de maio de 2012 – O Jornal de Hoje publica a primeira de uma série de
reportagens sobre o tema. O Portal No Minuto também cita o caso.
24 de maio de 2012 – O Ministério Público do RN emite nota de esclarecimento em
que relata a investigação em questão e o envio das provas coletadas aos órgãos
ministeriais adequados.
25 de maio de 2012 – Repórter Chico de Gois, da sucursal de O globo em
Brasília, entra em contato interessado na pauta. A pauta foi derrubada, dias
depois, após interferência do deputado federal Henrique Alves (PMDB) (*), após
pedido de Carlos Augusto Rosado, principal voz nas conversas gravadas.
27 de maio de 2012 – São publicados os últimos áudios dentre os 42 recebidos no
início da semana.
28 de maio de 2012 – MPF no RN informa que material recebido do Ministério
Público do RN foi encaminhado à Procuradoria Geral da República. Primeiro
contato com a Procuradoria Geral da República em busca de informações sobre o
que foi feito da investigação, recebida em 2009. Até hoje, a PGR não conseguiu
responder.
30 de maio de 2012 – Realizado tuitaço com a hashtag #Caixa2doDEMnoRN, que
permaneceu cerca de uma hora ininterrupta como mais citada do Twitter no
Brasil. Nesse dia, o Blog do Miro divulgou os áudios.
7 de junho de 2012 – O #Caixa2doDEMnoRN é publicado com destaque pelo blog Vi o
Mundo, de Luiz Carlos Azenha. No mesmo dia, é publicado pelo blog da Maria Fro,
de Conceição Oliveira.
9 de junho de 2012 – Primeira publicação do caso no blog Conversa Afiada, de
Paulo Henrique Amorim.
13 de junho de 2012 – A Tribuna do Norte fala, pela primeira vez, sobre o
assunto. A colunista Eliana Lima publica entrevista com o Procurador Geral de
Justiça, Manoel Onofre Neto, sobre o tema. Onofre reitera conteúdo da nota
publicada em 24 de maio.
Nesse dia o processo que cuida das interceptações telefônicas no âmbito da
justiça estadual foi reativado e foi apresentada uma petição, cujo teor não é
conhecido.
14 de junho de 2012 – A secretária de comunicação da PGR informa que Roberto
Gurgel, tendo fraturado o braço, está afastado por questão médica desde a
semana anterior. Porém, Giselly Siqueira complementa a informação dizendo que
ao questionar o PGR este lhe informou não se lembrar do caso. Mas ainda não
havia resposta sobre o que foi feito da investigação no âmbito da Procuradoria
Geral da República.
15 de junho de 2012 – O #Caixa2doDEMnoRN volta a ser assunto do Conversa
Afiada, que desta vez enfatiza o fato de que o Procurador Geral da República,
Roberto Gurgel, disse à sua secretária de comunicação que não se lembrava do
caso.
18 de junho de 2012 – A governadora Rosalba Ciarlini (DEM) fala pela primeira
vez sobre o caso ao ser perguntada sobre o assunto em entrevista ao vivo no
Jornal 96, da FM96. Rosalba diz que as denúncias não são sérias pois, se
fossem, seus adversários teriam interposto ação ainda em 2006. Suas contas de
campanha foram aprovadas. Rosalba usa de uma falácia, uma vez que suas contas
foram julgadas sem que o órgão ministerial e o TRE tivessem conhecimento dos
áudios das investigações. Nem seus adversários sabiam, já que os áudios
permaneceram desconhecidos até serem publicados no blog, mesmo sem estarem mais
submetidos a segredo de justiça, segundo disse o MP.
21 de junho de 2012 – Um mês depois, continuamos sem resposta. E a sensação de
que o crime no RN compensa. Ao menos para os poderosos, que tem o direito de não
ser investigados conforme sua própria vontade.
Paulo Henrique Amorim
Fonte: http://www.conversaafiada.com.br/politica/2012/06/23/rn-onde-o-crime-compensa-e-a-globo-encobre/
Ééééé... senti firmeza!!! rsrsrs
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